“Sexta-Feira 13” nunca foi e nunca será chamado de cinema de primeira. Se algum fã disse isso, nem mesmo ele deve acreditar. Eles podem ser divertidos, podem até ser bom entretenimento e uma clássica “guilty pleasure”, talvez o favorito de alguém. O ápice da sétima arte é complicado. São filmes simples, nada profundos e sem nenhuma intenção de serem mais do que isso. Assistir a cada um é saber o que esperar e normalmente não dá muito certo quando se tenta algo muito diferente, reinando então a clássica fórmula estabelecida nos dois primeiros.
E do que tudo se trata? Com certeza não desenvolvimento de personagem, enredos complexos, insights da psique humana, fotografia primorosa e direção cinematográfica admirável. O espectador há de se contentar com personagens beirando a escrita ruim, normalmente ocupando o aceitável e só às vezes surpreendendo positivamente. É nivelar por baixo e torcer para a superficialidade não ser ofensiva. Jason, o ícone da série, sequer tem uma explicação lógica para existir. Isso já mostra quão preocupados os envolvidos estavam com capricho. O talento do personagem é assassinato e o alto da experiência é ver quão criativos os cineastas conseguem ser na hora de abater o elenco. É simples assim. Funciona para alguns; para outros, é lixo cinematográfico que por algum motivo deu dinheiro. Alguns realmente são, outros não. Aqui estão todos os 12 filmes lançados, do pior ao melhor.
12. Friday the 13th Part V: A New Beginning (Sexta-Feira 13 Parte V: Um Novo Começo), 1985
Direção: Danny Steinmann
Não, não é porque Jason não aparece. Essa é a resposta padrão de quem não gosta da Parte V. E até faz sentido reclamar disso em uma série famosa pelo seu protagonista, que havia sido morto violentamente no “Capítulo Final“. A idéia era matar Jason de verdade e encerrar a série com quatro filmes, mas é claro que o dinheiro falou mais alto e tomaram a segunda decisão sem sentido da série. Inventaram o personagem Jason, nunca planejado, para a “Parte II” e agora lançavam um filme com um sósia no lugar do personagem morto. Estranho, mas estaria tudo menos mal se a obra fosse decente, ao contrário do festival do mau gosto que se vê aqui. Tudo que a série faz de pior se encontra: personagens caricatos e estúpidos ao extremos, mortes ruins e em número exagerado, uma continuação da história de Tommy Jarvis que traz um novo e pior ator, um final tosco ao extremo e inconsistências aos montes. Ah sim, chamaram um diretor de pornô para dirigir também. Nada se salva aqui exceto pela trilha sonora de Harry Manfredini.
11. Jason Goes to Hell: The Final Friday (Jason Vai para o Inferno: A Última Sexta-Feira), 1993
Direção: Adam Marcus
Da série “Decisões Estúpidas Sem Sentido”, eis “Jason Vai para o Inferno”. Depois de oito filmes, os produtores sentiram que a franquia precisava ser renovada, fugir da fórmula envolvendo Jason atacando jovens em Crystal Lake. Sua última aparição havia sido em Nova York, envolvido por uma onda de lixo tóxico do esgoto da cidade e aparentemente morto. Só que não, claro que não. Ele volta para ser… emboscado por tiras do FBI e explodido em pedaços? Essa foi a idéia genial de Sean S. Cunningham, que voltou como produtor para sugerir tirar Jason de cena novamente, como se isso tivesse funcionado muito bem na “Parte V“. Aqui se vai ainda mais longe, com um conceito de Jason ser uma entidade do inferno que passa de hospedeiro em hospedeiro e tenta renascer usando outros membros de sua família, que até então não existia. Deu muito errado para além da idéia questionável de uma história sem Jason. É um filme ruim, de atuações piores e apenas uma morte boa, que acabou aparecendo completamente só na versão sem cortes. Só vale pelos últimos segundos, que sinalizaram “Freddy vs. Jason” no futuro.
10. Friday the 13th Part VIII: Jason Takes Manhattan (Sexta-Feira 13 Parte VIII: Jason Ataca Nova York), 1989
Direção: Rob Hedden
Lembro bem quando estava fazendo coleção dos DVDs da série e tinha quase todos, da “Parte I” à “Parte VI” e de “Jason Vai para o Inferno” até “Freddy vs. Jason” — o remake de 2009 não havia saído ainda. Havia cansado de procurar pelas “Partes VII” e “VIII” até descobrir que elas não haviam sido lançadas em DVD, apenas nos Estados Unidos. Uma compra na Amazon, algumas semanas e uma taxa de importação depois, finalmente podia conferir a investida de Jason contra Nova York. Na época eu não sabia de nada sobre a obra, não havia lido opiniões ou trechos do enredo. Pois bem, minha surpresa foi a mesma daqueles que foram ao cinema em 1989: encontrar apenas 20% da história em Nova York. A falta de dinheiro evitou que mais da cidade aparecesse e ambientou a obra em maior parte num barco saindo de Crystal Lake em direção a Manhattan. E isso é o menor dos problemas. Um barco já seria um cenário diferente do acampamento em Crystal Lake, exceto que é mal aproveitado, mal dirigido e mal feito. Isso é ser enganado, sem mais. Não há pior propaganda para um filme com Nova York no título se passar em outro lugar. Se as pessoas falam que “Sexta-Feira 13” é um lixo, elas têm razão até esse ponto.
9. Friday the 13th Part II (Sexta-Feira 13 Parte II), 1981
Direção: Steve Miner
A “Parte II” tão baixo na lista? Sim. E não é um filme ruim por isso. Deste ponto em diante, há um grande salto de qualidade entre aqueles que são os muito ruins da série e os que já podem ser considerados bons. Em “Sexta-Feira 13”, há o que presta e o que definitivamente não presta. Os erros são crassos. A “Parte II” não é o que eu chamaria de um dos piores da série, apenas um dos que eu menos gosto por não ter nada de muito especial exceto a primeira aparição de Jason na série. É um dos mais curtos da série e ainda tem cenas de flashback no começo. Curiosamente, sempre que lembro dele só vêm coisas positivas à mente como a morte do cadeirante, a protagonista Ginny e a direção de Steve Miner sendo um avanço do que Sean S. Cunningham fez no original. Talvez os outros só tenham sido mais atrativos, já que esse efetivamente repete a dinâmica de esconder o assassino novamente depois que Pamela Voorhees morre no primeiro. É exatamente o mesmo filme até se revelar que Jason é o assassino. Parece que ainda falta certo brilho que os sucessores adquiriram.
8. Friday the 13th Part VII: The New Blood (Sexta-Feira 13 Parte VII: A Matança Continua), 1988
Direção: John Carl Buechler
Se toda a espera pela encomenda da Amazon trouxe uma grande decepção com a “Parte VIII“, a outra metade da encomenda não teve esse problema. A dificuldade da “Parte VII” era dar sequência ao grande sucesso da “Parte VI” e o novo direcionamento que trouxe para a série. Inovar ainda mais e trazer coisas novas ou seguir um caminho mais seguro? Por que não ambos? De algum jeito, a “Parte VII” consegue. De um lado, decide continuar na onda sobrenatural e, pela primeira vez, trazer um oponente com alguma vantagem contra Jason; ao invés de um mero humano com sorte e inteligência, a protagonista tem poderes telecinéticos. Sim. Bem diferente de qualquer coisa vista antes e, surpreendentemente, a “Parte VII” consegue ter um aspecto bastante genérico sobre si, como se fosse mais um lançamento formular sem nada novo. Seria melhor sem os cortes da MPAA e o final tosco, sem dúvida. Ainda assim, sobram bons frutos como a primeira participação de Kane Hodder e momentos marcantes de um embate sobrenatural exclusivo até “Freddy vs. Jason” explorar a idéia novamente.
7. Jason X, 2001
Direção: James Isaac
A reação automática é pensar que tipo de idiota acharia boa idéia mandar Jason para o espaço. Parece uma decisão desesperada de uma série em decadência, assim como Hellraiser chegou no mundo digital, Freddy Krueger vai para o mundo real e Chucky chega a ganhar noiva e filho. Realmente, espaço não é a idéia mais intuitiva de todas, mas ela funciona surpreendentemente bem, considerando a chance enorme de fracasso. É uma mudança de cenário muito bem vinda, de um acampamento para uma nave espacial, com novidades que só um cenário futurístico poderia trazer, entre realidade virtual e nano-robôs, além do entretenimento clássico da série. Afinal de contas, humanos em 2453 ainda são tão fatiáveis quanto em 2001. Mesmo assim, parecem ser minoria os que gostam de “Jason X”, com o resto abraçando a idéia de que realmente é um fundo de poço criativo, uma apelação descarada de tentar manter a série viva. Quem gosta do que foi mostrado antes, terá isso e algumas oportunidades a mais de ver a mesma dinâmica num ambiente com novas possibilidades.
6. Friday the 13th (Sexta-Feira 13), 2009
Direção: Marcus Nispel
Sim, é mais um remake que não acrescenta muita coisa. Quase nada, na verdade. Seguindo a onda de “The Texas Chainsaw Massacre” e “The Amityville Horror” da produtora Platinum Dunes, “Friday the 13th” se propôs a reviver a série para novas audiências após 6 anos sem novos lançamentos. Não se busca mudar nada. A história do original é condensada em um prólogo e a as três partes seguintes são contada na sequência, ou melhor, apenas os pontos relevantes: o saco de pano na cabeça, a máscara de hóquei e a morte. O plano de fundo é o que já se conhece e nada mais além de mudanças pequenas na caracterização. Adolescentes vão para uma casa de lago passar o final de semana e encontram um assassino que os mata um por um. A novidade é ver uma interpretação de Jason digna de nota, com um personagem mais ágil e brutal, sem precisar depender de conveniências para aparecer onde aparece e matar suas vítimas. É tudo um pouco mais crível. As mortes também são ótimas e, exceto por alguns detalhes toscos como explicações desnecessárias e personagens rasos demais, é uma boa adição para a série. Infelizmente, também é o último lançamento até o momento.
5. Freddy vs. Jason (Freddy x Jason), 2003
Direção: Ronny Yu
Por muitos anos, os fãs ficaram imaginando como seria um crossover entre os dois maiores ícones do terror slasher dos Anos 80: Jason Voorhees e Freddy Krueger. O projeto tentou ser tirado do papel desde 1987, quando as duas séries sequer estavam sob a mesma produtora, e perdurou por muito tempo e por muitos roteiros terríveis até que finalmente se tomou a decisão de contratar dois novatos que fizeram um bom pitch. As coisas foram acontecer só no começo dos Anos 2000, quando a New Line finalmente foi convencida que seria uma boa idéia. E foi! Só o fato de não ser universalmente odiado já é uma grande vitória. Ouvi algumas vezes que o filme poderia ter sido muito mais e, sem dúvida, a expectativa era maior do que o filme acabou sendo, tão grande que imagino que nenhum filme possível conseguiria satisfazer todos os fãs. Havia muita empolgação em torno do projeto, muita antecipação, então é claro que quando o filme finalmente foi lançado, as pessoas encontrariam algum motivo para reclamar. “Tem muito humor”; “Tem muito Jason”; “Tem muito Freddy”; “Não faz sentido”. No entanto, sempre gostei de “Freddy vs. Jason”. Desde a primeira vez que vi num cinema pulguento que ignorava classificações indicativas, já tinha saído satisfeito com ele. Poderia ter sido mais sangrento, mais longo, melhor escrito, com Kane Hodder no papel e alguns outros ajustes? Com certeza. Mas para um evento cinematográfico desse tipo, e considerando alguns fracassos abissais de ambos os personagens, poderia ter sido muito pior.
4. Friday the 13th Part III (Sexta-Feira 13 Parte III), 1982
Direção: Steve Miner
Minha surpresa foi descobrir que a “Parte III” não é tão amada. Especialmente por ser a mesma coisa dos anteriores sem nada de novo, exceto pela adição do 3D que havia voltado à moda na época. De certa forma, há razão nessa afirmação, pois o filme realmente não traz muitas novidades de seu predecessor. Há a máscara de hóquei fazendo sua primeira aparição e só, praticamente. Até o diretor do anterior retorna, o que, na verdade, é ótimo porque Steve Miner é um bom diretor de Terror e, até hoje, é o único a dirigir mais de um filme da série. O 3D, tido como artifício inútil, até chega a ser aplicado de forma criativa em momentos de perspectiva acentuada propositalmente. Não todos, claro. A infame cabeça explodindo está aí para mostrar um dos poucos momentos de efeitos especiais vergonhosos da série. De resto, seguir a fórmula não é exatamente um problema, pois nesse ponto ela ainda estava sendo aperfeiçoada do modelo apresentado nos dois anteriores. Aqui, Jason estabelece sua imagem definitiva e os filmes ganham um molde que foi seguido por praticamente todos os sucessores. É muito próximo ao que se chega de uma fórmula em seu primor, uma experiência essencial da série.
3. Friday the 13th (Sexta-Feira 13), 1980
Direção: Sean S. Cunningham
O original costuma ser imbatível na maior parte dos casos. Algumas poucas continuações superam seus predecessores, e isso vale muito para histórias originais sem intenção de continuidade, “O Poderoso Chefão: Parte 2” sendo um dos exemplos mais famosos de exceção. Já no caso de séries longas, há tantos lançamentos que eventualmente um deles supera o primeiro. Godzilla, Harry Potter, James Bond são apenas exemplos em que o primeiro não é o melhor. “Friday the 13th” ainda se destaca por ter sido um original que se manteve relevante após onze outros lançamentos. Em seu tempo, foi um sucesso de bilheteria que pegou todos sem aviso com sua história sobre um assassino misterioso que elimina os monitores de um acampamento em reabertura. Quem é o assassino? Por qual motivo mata? Havia uma dinâmica interessante de ocultar o assassino e mostrar apenas partes dele na hora das mortes, tudo preparando o terreno para uma grande revelação e um final surpresa. Comparado aos outros, peca em partes como mortes simples e pouco criativas, enquanto se exalta por personagens legais e uma excelente vilã com motivação muito mais desenvolvida do que máquina de matar irrefreável. Foi Jason Voorhees que entrou para a história, mas sua mãe merece carinho igual. Resgatar uma atriz dos Anos 50 para ser vilã de filme de Terror não é pouca coisa e dá muito certo.
2. Friday the 13th: The Final Chapter (Sexta-Feira 13 Parte IV: O Capítulo Final), 1984
Direção: Joseph Zito
Se a “Parte III” é um exemplo da fórmula dando muito certo, seu sucessor é isso e um pouco mais. Antes não havia muito motivo para nada, era apenas Jason atacando mais uma vez um grupo de jovens desavisados em Crystal Lake sem chegar a lugar algum. Ele sofre um golpe mortal como no final da “Parte II” e não morre, é claro. Dessa vez uma machadada na testa, que deixa a máscara com uma marca e o leva para o necrotério do hospital, onde ele acorda pouco tempo depois e começa sua matança. A “Parte IV” é brutal, é sangrenta, é enérgica como nenhuma havia sido até então. Ted White como Jason certamente faz a diferença nesse quesito com a agressividade que traz para o personagem. Ele parece estar enfurecido, farto de se esconder e ser furtivo, arremessando cadáveres por janelas, quebrando portas com o corpo e esfaqueando vítimas enquanto elas gritam. Aqui também começa o que acabou se tornando uma trilogia com Tommy Jarvis, um garoto entusiasta por Terror e Ficção Científica que se vê no caminho do banho de sangue de Jason Voorhees. O simples fato de haver um pouco de história para preencher o vazio de antes faz a diferença. O terceiro foi apenas um banho de sangue casual na vida de Jason, aqui ele encontra algum propósito em finalmente encontrar sua morte. A primeira delas, pelo menos.
1. Friday the 13th Part VI: Jason Lives (Sexta-Feira 13 Parte VI: Jason Vive), 1986
Direção: Tom McLoughlin
Depois da excelente “Parte IV“, a produtora achou inteligente continuar fazendo filmes sem o protagonista e lançou aquele que ocupa o último lugar da lista. Já que eles continuariam saindo, deveria-se arranjar uma forma de trazer o personagem de volta, sem truques ou sósias. Entra Tom McLoughlin com idéias mirabolantes. Suas intenções com a série já indicavam que ele desejava levá-la por um novo caminho, um que não fosse tão controverso como a “Parte V“, buscando algo mais em direção à comédia, o meta-humor em especial. Antes mesmo de “Child’s Play” e “Scream” aprenderem a apontar o dedo para si , a “Parte VI” já reconhecia as inconsistências da série e alguns clichês criados ao longo dos anos. Por que não incorporar isso na obra? Nunca houve explicação para Jason estar vivo depois de tantos anos afogado e ser tão difícil de matar de antes, então em vez de tentar explicar, o diretor decidiu ir ainda mais longe e transformá-lo em um morto-vivo invulnerável, o Jason Zumbi. Ele está apodrecendo e está vivo, de algum jeito, mais do que capaz de matar. Não se preocupam em dar sentido às coisas, até brincam com os absurdos do passado. E isso funciona! Para quem diz que a a auto-sátira é saída pobre da criatividade decadente, essa é uma boa contestação.