Facilmente o “Sexta-Feira 13” mais polêmico de todos os tempos, este filme se mantém até hoje entre os piores da franquia por mais motivos que a maioria dos fãs gosta de lembrar. Não que um terror slasher como este vá conter muitas surpresas, mas prefiro deixar a revelação da bomba para a hora de ver o filme. O problema é que por conta desta entrada ser lembrada principalmente por esta revelação terrível, muitos acabam esquecendo da colossal lista de erros que colocam “A New Beginning” entre os piores da série e talvez entre os piores de todo o gênero slasher.
Assim como em qualquer franquia grande, há uma fórmula a ser seguida como base. Ao analisar cada uma dessas qualidades e as novas que são eventualmente introduzidas, pode-se ter uma boa idéia da qualidade da obra em questão. No caso de um Slasher, subgênero do Terror caracterizado por um assassino psicopata matando uma série de vítimas, os aspectos mais comuns a serem analisados seriam algo como: qualidade e criatividade das mortes, tanto em estética como em execução; nível de qualidade dos personagens, ou quão longe do retardo mental eles conseguem se manter; trilha sonora; e o fator entretenimento em si, como estes elementos se ligam para criar uma experiência agradável. De toda a franquia “Sexta-Feira 13”, este é o único que até pouco tempo atrás só havia visto uma única vez. Na esperança de achá-lo ao menos um pouco melhor do que na época, tive uma surpresa ao descobrir que ele é ainda pior do que eu pensava.
Quando se assiste a um filme de terror trash como este, há alguns limites importantes a serem considerados. Por exemplo, há um para o quão ruim uma atuação pode ser, ou ainda um limite para a burrice dos personagens. Óbvio que a maioria necessita ser um pouco estúpida para morrer nas mãos do assassino em primeiro lugar, mas até para isso há uma linha a ser traçada. As pessoas precisam ser burras o bastante para ir urinar longe de um lugar seguro, mas não tanto para contemplar a existência do assassino enquanto ele se encaminha para abrir um novo orifício em seu corpo. Não respeitar regras relativamente simples como essa faz com que a tênue cortina que escondia a estrutura formular suma, revelando as limitações de uma história como a de “A New Beginning”.
Com o sucesso de “Sexta-Feira 13: O Capítulo Final” trazendo milhões de dólares aos envolvidos na sua produção, a idéia de acabar a franquia no quarto filme foi instantaneamente descartada. A sangrenta morte de Jason no era para ter enterrado o personagem de uma vez por todas, mas deram um jeito de trazê-lo de volta para um quinto filme. Após seu surto violento na hora de matar o cara que matou sua família, Tommy Jarvis é internado em uma casa de recuperação para jovens problemáticos. Mesmo longe de Crystal Lake, a imagem de Jason não abandona a mente de Tommy, que se vê cada dia pior quando assassinatos estranhos começam a acontecer nas redondezas.
Mesmo com a folga dada ao gênero por suas características determinantes, “A New Beginning” se supera em todos os aspectos. Nem mesmo após quatro filmes conseguiram reproduzir minimamente bem os elementos que fizeram a franquia ser boa até então. Temos os personagens mais retardados da série até o momento, pérolas que vão desde o gago que nunca transou, até o caipira esquisito tirado diretamente do pior episódio de “Os Simpsons”. É uma coleção de estereótipos que insultam a falta de inteligência de qualquer pessoa que já pisou em Crystal Lake antes desse longa. O próprio Tommy é transformado de um garoto indefeso em um rapaz calado que dominou as artes marciais em seu tempo de reclusão. Sim, em mais de uma ocasião o protagonista exibe golpes complexos de luta simplesmente porque faz todo o sentido alguém internado numa casa de repouso saber todos aqueles golpes. As mortes também batem um recorde ao chegarem a um ponto onde não são efetivas nem na criatividade, nem na demonstração de violência explícita. Algumas das mortes clássicas chegam a ser copiadas aqui, como a clássica lanterna no rosto seguida cegando a vítima prestes a tomar uma facada na barriga. São parecidas, exceto pelo detalhe que desta vez é um sinalizador no rosto seguido deste sendo enfiado na boca da vítima. Sem dúvida uma demonstração vívida da mente de um assassino em série.
Após uma hora meia de personagens deploráveis, mortes fraquíssimas e pouco criativas, ainda vem a bomba da mencionada revelação. Ela por si poderia ter sido melhor aproveitada, ou ter seu desastre minimizado com um roteiro menos terrível, mas lacra sua presença como uma das piores coisas de “A New Beginning”. Para piorar, decidem estragar ainda mais o Tommy de “O Capítulo Final” ao inserir um final duvidoso, que felizmente é corrigido pela “Parte VI”. Ilustrando melhor, este longa chega a ser tão ruim que várias cenas são engraçadas de tão mal executadas. Isto que neste ponto da franquia, o humor ainda não era reconhecido pelo roteiro como ferramenta. A única coisa que se salva realmente é a trilha sonora de Harry Manfredini, majestosa como sempre e fazendo o possível para minimizar o terror não intencional do resto da obra.