Mais do que entretenimento descompromissado, os filmes da série “Sexta-Feira 13” são uma sessão de nostalgia. Foi com eles que comecei minha coleção de filmes e talvez a gostar de cinema de verdade. Claro, não vou dizer que Jason Voorhees é cinema de verdade, pois não é, mas são obras que quase sempre entregam o que eu procuro nelas: um banho de sangue regado à criatividade. “Friday the 13th Part III” está entre os longas puros da franquia, aqueles que mantém seu foco no Terror e seguem de perto a fórmula dos dois anteriores. Vários de seus momentos são revividos com apenas um twist aqui e ali para não ser repetitivo.
O primeiro massacre de Jason Voorhees em Crystal Lake deixa quase uma dezena de mortos e a polícia cheia de perguntas, o que não impede Chris (Dana Kimmel) e alguns amigos de se encontrar numa fazenda da região para se divertir um pouco. Apesar de uma viagem simples, para Chris não é bem assim: ela foi atacada por um homem misterioso anos antes e até então temia voltar ao local. Todos esperam um pouco de sexo e tranquilidade, mas mal sabem que Jason se recuperou de seus machucados e está de volta para outra chacina.
Sei que costumo não dar spoilers, porém é quase universal o fato deste ser o tal filme em que Jason ganha sua famosa máscara. A capa do filme até mantém o padrão dos dois primeiros, ao passo que o trailer não esconde nada e mostra o assassino com sua marca registrada. Para muitos, esta pode ser uma obra de estréias, mais especificamente por causa da máscara e do visual padrão do vilão terem surgido aqui — rosto deformado, sem cabelo ou barba. Afirmação que até faz sentido se este não fosse um longa completamente formular, com coisas demais de seus predecessores para ser considerado algo original. É aqui que as pessoas normalmente se dividem em relação a série — se não por outros defeitos. Quem assiste a “Friday the 13th Part III” procurando mortes criativas, Jason em seu começo e um clima de slasher clássico estará bem servido. Quem procurar outras coisas certamente sairá decepcionado.
Estabelecem uma boa ponte com “Friday the 13th Part II” no começo e… só. Em termos de trama o filme se resume a isso e ao drama da protagonista de não querer voltar ao local onde foi atacada antes. O resto é mais ou menos como li por aí: crie personagens e depois mate todos. Jason está mais próximo de sua figura popular em seu visual, longe do caipirão desgrenhado, e em seu comportamento, principalmente através das várias mortes vistas aqui. Pessoas cortadas ao meio, olhos saltando, facadas e gargantas cortadas estão presente nesta segunda direção de Steve Miner. Aqui começa uma tendência de inovar nos assassinatos e tornar Jason Voorhees uma figura mais agressiva, uma verdadeira máquina de matar. É também por isso que “Friday the 13th Part III” se destaca: na falta de história, sobram mortes criativas.
Na parte mais conservadora de “Friday the 13th Part III”, Miner tenta manter o clima dos dois anteriores ao ocultar detalhes em algumas mortes. Várias delas ainda tentam esconder o assassino o máximo possível, ao menos até a hora em que o caos está grande demais para ficar em segundo plano. Muitos podem se perguntar o que havia para esconder quando a identidade do vilão já era conhecida desde o começo. Eles esquecem que sua nova feição ainda não era. É uma tentativa de reproduzir o que foi feito no original, embora a função aqui seja esconder o novo visual de Jason, que muda um pouco a cada filme.
A parte mais inovadora de “Friday the 13th Part III” é sutil e bruto ao mesmo tempo. A sutileza está no fato da auto-sátira mostrar seus primeiros sinais, representada aqui por um personagem curioso, para dizer em poucas palavras. Surpreendente de ver isso aqui, considerando que a sátira só seria amplamente reconhecida em 1986 na série “Sexta-Feira 13” e ainda mais tarde no gênero Slasher em geral. Aproveitando a oportunidade para criar um suspense extra, o personagem é usado várias vezes para criar mortes falsas, fingir que o assassino vai atacar e até criar um pouco de humor nessa brincadeira. A função dele é basicamente mostrar que o gênero tem vários clichês e depois rir deles; dar a entender que alguém vai morrer e depois literalmente dizer: “Isso vai te ensinar uma bela lição: uma garota bonita como você nunca deve sair sozinha no escuro!”. Nada muito sutil na execução dos sinais de sátira, contudo. Seria um sinal de que Steve Miner sabia que o gênero ficaria saturado no futuro ou uma bela coincidência? Não há como saber. Só posso dizer que isso funciona até melhor hoje do que na época, vendo o caminho percorrido pelo gênero Slasher. Há ainda outra inovação na adição pontual de um estilo meio disco na trilha sonora — na introdução e em uma outra cena. Realmente parece estúpido, mas o resultado não passa longe de excelente. É Harry Manfredini misturando suas clássicas melodias com ritmos mais agitados e modernos — para a época. Sucesso absoluto.
A última grande novidade é o 3D. Infelizmente, não tive a oportunidade de assistir a “Friday the 13th Part III” neste formato, pois ainda estou enrolando para pegar a versão 3D em Blu-Ray. O triste disso é que, tirando uma ou outra cena que envelheceram bem mal, a direção de Miner parece ter potencial de usar bem o efeito. De resto, este é um “Sexta-Feira 13” no sentido mais clássico de todos: dificilmente desagrada aqueles que apreciam a franquia, ainda que seja facilmente fuzilado de críticas por aqueles que procuram mais do que sangue na tela.