Não, “Jason X” não é um lixo absoluto. Enquanto dizer isso pode parecer um absurdo tão grande quanto mandar Jason para o espaço, é a opinião sincera de quem aprecia a diversão estúpida dos outros 9 filmes anteriores. Dito isso, entendo completamente quem diz ter 2000 motivos para dizer que o filme é ruim. O mais popular é achar que foram longe demais escolhendo uma nave espacial como cenário de uma série começou num acampamento de verão dos Anos 80. Outras criticam o humor auto-referencial, as atuações, o roteiro e os efeitos especiais. De certa forma, tudo isso está certo, mas não chegou a estragar a experiência para mim.
Depois de inúmeras tentativas falhas de tentar matar Jason Voorhees (Kane Hodder), o governo tem mantido o assassino preso até que descubram um jeito de executá-lo. Num deslize, Jason foge de seus captores, mas acaba sendo congelado numa câmara de criostasia junto da mulher que perseguia. Os dois são encontrados quatro séculos depois por uma equipe de jovens arqueólogos explorando as ruínas do Planeta Terra. Achando que fizeram uma grande descoberta, a tripulação mal sabe quem trouxe a bordo. Para Jason, não faz diferença o ano ou o lugar, ele permanece determinado a continuar matando.
Em defesa da troca de ambiente, ela ainda é muito mais aceitável diante do que foi visto no filme anterior. Sim, espaço sideral não tem nenhuma ligação com um assassino imediatamente ligado aos penteados armados e jeans de cós alto da Década de 80, mas já é muito melhor que “Jason Goes to Hell”. Ao menos “Jason X” tem Jason como personagem, ao contrário de seu predecessor. Pouco importa o lugar, ele é apenas um plano de fundo para uma história que, essencialmente, é um Slasher com todas as coisas boas da série. Se o absurdo da premissa for deixado de lado por uns segundos, então acha-se uma obra que sabe aproveitar a mudança de cenário, trazendo mortes excelentes e outras sequências que só seriam possível num ambiente com com tecnologia para todos os lados. É basicamente o que acontece com “Friday the 13th Part VII: The New Blood“: por mais tosco que uma cópia de Carrie seja, o resultado final ainda é bom.
Tudo se resume ao longa prestar como um Slasher ou não. Em “Jason X”, posso dizer que acertam a mão em aproveitar os tipos diferentes de objetos, ambientes, personagens e clichês presentes num Sci-Fi. É o passageiro mortal numa nave de poucos tripulantes, com os soldados e todo o mais da série “Alien”. A primeira morte dentro da nave, por exemplo, chegou a aparecer no “Mythbusters” como um experimento a ser desmistificado. Talvez não queira dizer nada, mas a menção pode ser reflexo da morte ser relembrada frequentemente pelos fãs. Não é a única boa aqui, felizmente, uma vez que há pelo menos uma outra que é ainda mais recordada por ser a referência mais direta aos antigos que poderiam criar. E pensar que Sean S. Cunningham quase a estragou com uma sugestão que seria o ápice do exagero cômico sem graça — como o próprio diz em “Crystal Lake Memories“.
Não é à toa que os defeitos de “Jason X” surjam justamente por este motivo. Rir de si mesmo teve êxito em vários outros Slashers, principalmente com a “Parte VI” e a série “Scream”, mas não é exatamente o caso aqui. Talvez tenha sido por conta da insistência em tornar uma história relativamente séria em algo cômico. A princípio, o tom não tinha tanto humor ou diálogos supostamente engraçados, tratando toda a premissa absurda como algo normal. Mais ou menos como a própria “Parte VII“, que não faz cerimônia para telecinese e telepatia, a história realmente estava focada em colocar Jason matando no espaço. Por outro lado, o humor pode não ter funcionado pelo roteiro não ser grande coisa desde o começo. Provavelmente é um misto desses dois fatores. Em sua forma original, acredito que já existiam cenas convenientes demais para Jason — até mais que alcançar gente correndo com uma caminhada — e uma racionalização de elementos inexplicáveis da série. Adequar-se forçadamente a uma nova visão buscando a comédia certamente não ajudou. Já havia sido muito idiota trazer o FBI para emboscar Jason e explodí-lo em “Jason Goes to Hell”, então fazem de novo. O governo capturou o assassino e não teve sucesso em matá-lo, ainda justificando tal dificuldade com uma capacidade regenerativa incrível dele. Supostamente, a melhor escolha era manter Jason preso, a única coisa que deu certo até então. E mesmo assim ele foge, na primeira de algumas partes convenientes e sem explicação.
Eventualmente, esses problemas culminam em uma grande sequência misturando ambas a conveniência e a comédia falha. Prefiro não revelar qual é, só dizer que envolve a ciborgue Kay-Em 14 (Lisa Ryder). Ela explicita sua vergonha alheia claramente o bastante. Mas o resto de “Jason X” não extrapola a linha do aceitável a ponto de constituir um ponto negativo. A trilha sonora de Harry Manfredini é um ótimo exemplo de como a obra funciona no geral. Apenas raramente ela cai no clichê de querer se encaixar no campo do Sci-Fi sem muita ligação com o resto da trilha e sua própria identidade única. O sucesso está em composições que reconhecem a preposteridade da história e criam momentos engrandecedores, quase épicos, como se tirassem sarro da franquia ter caminhado longe a ponto de chegar no espaço. Em suma: existem momentos que vão longe demais em tentar ser engraçados, grandiosos ou intensos entre vários outros bem sucedidos.
A melhor parte vem quando o absurdo aparece na medida certa. A transformação de Jason em Uber Jason exemplifica bem como qualidades únicas do Sci-Fi criam novos horizontes. Parece idiota, contando por cima como um assassino sobrenatural ganha um tecnológico visual novo, embora na prática isso se encaixe na proposta de trazer variedade a uma série com algumas dezenas de gargantas cortadas e facões na barriga. “Jason X” também tem seus momentos quando consegue abusar dos exageros a um nível cômico de tão ridículo, o que não é mesma coisa que o tipo “tão ruim que é bom”. Não dá para saber se jovens flertando tão explicitamente no local mais inapropriado possível foi planejado como uma cena séria, mas não importa muito porque ela se passa tranquilamente como sátira do que veio antes.
Se “Jason X” for encarado de um jeito minimamente sério, dificilmente ele se sustenta por haver muita margem para críticas. Não tento dizer que o filme merece uma colher de chá para ser bom, o que seria distorcer as regras para avaliar um filme bem. A diferença é que ele nunca esconde sua proposta de ser auto-satírico. Esta, por sua vez, nem sempre tem bons resultados, mas torna a obra possível de ser aproveitada, pelo menos. Com seus acertos e erros nos aspectos tradicionais, como mortes e trilha sonora, minha grande surpresa foi fazerem uma premissa tão extravagante, para resumir, em algo que presta.