Carrie, a Estranha, encontra Jason Voorhees. Não sei se existiam fãs o bastante das duas séries para que o confronto fosse antecipado de alguma forma, mas em 1988 era o que estava disponível. “Freddy vs. Jason” ainda estava muito distante. Obviamente, a personagem Carrie não está literalmente no filme. Outro personagem similar é usado, seguindo o histórico de inspirações — ou plágios, como preferir — da série “. Curiosamente, o fato de haver um claro empréstimo de personagem não implica em um resultado ruim. “Friday the 13th Part VII” é uma sequência tradicional das boas e o último Sexta-Feira 13 clássico de qualidade — considerando as Partes 1 a 8.
A história de sempre tem o bônus de uma adversária à altura de Jason quando a mulher que sobrevive até o fim ganha algumas habilidades a mais. Depois de ser mutilado e acorrentado ao fundo do lago Crystal Lake, Jason Voorhees (Kane Hodder) aproveita um bom período de decomposição aquática até que Tina Shepard (Lar Park-Lincoln), uma garota perturbada com poderes telecinéticos, o liberta de sua prisão ao tentar reviver o pai que matou acidentalmente quando criança. É aberta a temporada de caça aos adolescentes quando, um a um, Jason mata suas infelizes vítimas brutalmente.
“Friday the 13th Part VII” é um misto de abordagens. Neste ponto, os produtores já estavam buscando novas formas de revitalizar a série, que já vinha sofrendo de bilheteria desde a “Parte VI”. Não foi culpa dele, que fique claro. A bilheteria foi mais baixa por conta da audiência estar descrente com o desastre do quinto filme um ano antes. A solução dos produtores foi sair da auto-sátira e voltar a se levar a sério, dessa vez com uma novidade na trama para que não seja a mesma coisa de sempre. Mesmo gostando da série, não vou dizer que o roteiro é uma maravilha por tentar apresentar algo mais original que o resto. Ainda se trata de um slasher extremamente formular levemente ousado em seu enredo, mas não tanto quanto a “Parte V” e sua idéia de continuar a história de Tommy Jarvis e trazer um Jason impostor. Até porque porém o resultado foi tão terrível que é difícil levar a sério.
Trazem à mesa o conflito pessoal e mental da protagonista para acompanhar o banho de sangue, que cria uma série de relações interessantes entre os, ainda bidimensionais, personagens. Mas ao mesmo tempo que a parte da história é melhorada, esquecem dos elos que ligam as mortes ao resto da história. Por exemplo, em dado momento vemos uma garota se produzir para impressionar um garoto apenas para ser brutalmente assassinada momentos depois. Contando assim parece não haver nada errado, apenas uma ironia do humor mais negro e uma cena de morte legal. O motivo para a personagem estar onde está, por outro lado, é um pouco idiota demais. Jovens assassinados enquanto nadam no lago isolados do grupo faz sentido; sair da segurança da casa para procurar o pretendente, não. Afinal de contas, quem diabos busca por sexo em uma floresta escura?
Para a infelicidade dos críticos que avaliaram a “Parte VI” como o único Sexta-Feira 13 bom, a auto-sátira não retorna. Cortado, socado, afogado, queimado, mutilado, esfaqueado — e, no entanto, nunca realmente morto — Jason ostenta sua aparência de cadáver em “Friday the 13th Part VII” sem fazê-la ser outra piada num rol de absurdos. Ossos aparecem em meio a pele apodrecida e a roupa rasgada, sua máscara está danificada e uma corrente em seu pescoço fica como lembrete de sua última derrota. Se o rosto desmascarado não tivesse um quê esquisito em sua aparência, diria que este é o melhor de todos os visuais de Jason — embora esteja entre os melhores, com certeza.
O grande problema de “Friday the 13th Part VII” — ou melhor, a limitação que o impede de ser melhor — é a questão das mortes. Sim, este é um grande elemento a se considerar num slasher. Sim, é uma questão maior do que simplesmente executar bem as mortes. Elas são, em sua grande maioria, idéias boas e criativas de como matar uma pessoa. Empalar com uma foice, bater um saco de dormir contra uma árvore, cortador de grama na barriga e por aí vai. O problema é que a censura caiu em cima de “Friday the 13th Part VII” mais forte que em outros filmes. O órgão de regulamentação estava em cima dos produtores fazia tempo e fizeram sua influência sentida aqui, tirando uma fatia de sangue considerável de várias mortes.
É uma pena, pois este é um filme que traz entretenimento de outras formas além da violência. As mortes são uma parte menor da experiência sendo que o contrário deveria acontecer. A criatividade de algumas delas, que se conservam, e o conflito com a protagonista acabam sendo os aspectos que salvam esta bora. “Friday the 13th Part VII” não é tão bom quanto os melhores nem chega perto de ser ruim como as piores. Além da parte já conhecido de um “Sexta-Feira 13”, a adição de uma protagonista com poderes torna tudo mais interessante. Em vez de ser simplesmente e inutilmente ferido por humanos fracos, o vilão tem de enfrentar uma força significativamente mais poderosa: uma garota que domina a telecinese. A criatividade entre em jogo novamente. Extraem sequências sensacionais de um embate que poderia ser vergonhoso, várias delas colocando Jason no limite de sua determinação e invulnerabilidade. Além do mais, várias nunca chegam a ser rivalizadas em termos de ambição. Ao menos da série clássica, quando os orçamentos eram menores e o contexto mais limitado. Foi só mais tarde que a censura ficou mais flexível e as histórias mais viajadas, como “Jason X” — uma obra subestimada por conta de sua premissa bizarra.
Absurdo por absurdo, “Friday the 13th Part VII” ainda é um filme pé no chão. Tina Shepard só entra em ação quando a matança já está chegando ao fim, então todo o resto é como a maioria dos filmes de antes. Mesmo assim, é compreensível que reclamem da falta da sangue e não aceitem outra coisa como compensação, pois é um franquia de Terror. Vários pequenos cortes aqui e e ali impedem que a experiência seja aproveitada completamente, embora ainda não ache que este seja o começo do fim da série. Se falassem que a “Parte VIII”, aquela em que Jason supostamente vai para Nova York, é o sinal da decadência da série, eu concordaria plenamente sem pestanejar. Para aqueles que gostam de um slasher para passar o tempo e ums pequena novidade a mais, o sétimo “Sexta-Feira 13” faz muito bem seu trabalho.