Parece que o gênero Terror em geral está fadado a repetir ciclos de encontrar uma fórmula que funcione e usá-la até que não haja mais nenhum apelo. Isso vale tanto para aqueles que acham a fórmula quanto para outros que roubam idéias e fazem produtos parecidos de menor qualidade. Por exemplo, “Atividade Paranormal” perdeu seu fôlego todo em alguns anos; ou melhor, ainda saem cópias baratas de “O Exorcista” mais de 40 anos após seu lançamento. Mas e quanto a “Friday the 13th Part VI: Jason Lives”, onde ele entra nessa história? Bem, ele foi um dos precursores de todo um subgênero do Terror e parcialmente responsável pela renovação do Slasher entre os Anos 80 e 90. De que forma ele faz isso? Adicionando o que pode parecer pouco intuitivo, tratando de um filme de terror: um pouco de comédia. Basta uma olhada na premissa para ver como seria difícil levar adiante a mesma seriedade de antes.
Jason Voorhees (C.J. Graham) foi finalmente morto e enterrado por aquele que se mostrou seu pior inimigo: Tommy Jarvis (Thom Matthews). O garoto cravou o facão no crânio do assassino pelo buraco do olho e vários outros golpes no cadáver para garantir a morte. Mesmo com anos se passando, Tommy continua atormentado. Ele decide voltar ao túmulo do assassino em série para dar um fim definitivo a ele, mas acaba trazendo-o de volta à vida quando um trovão cai no cadáver. Mais implacável que nunca, Jason retorna para outro período de chacina após anos de tranqüilidade.
Depois de uma facada no ombro e uma machadada na testa, foi um golpe de facão metade do crânio adentro que finalmente colocou Jason Voorhees a sete palmos. E era para ele ter continuado assim, especialmente se a “Parte V” for considerada, na qual um impostor vestindo uma máscara parecida fez sua própria pilha de corpos enquanto o verdadeiro matador apodrecia debaixo da terra. Então um Tommy Jarvis irritado ataca o cadáver podre com uma longa estaca de ferro repetidas vezes até que um trovão acerta a barra e Jason volta à vida como um morto vivo invulnerável. Se todo o processo de resistir a morte tantas outras vez foi, de alguma forma, aceitável, chega-se em um novo patamar de suspensão de descrença em “Jason Lives” com um tipo de ressurreição no estilo do monstro de Frankenstein. Pode parecer que finalmente foram longe demais, porém Tom McLoughlin, o diretor, não quis que tudo fosse levado a sério demais.
Todas as características repetidamente fuziladas pela crítica são usadas como inspiração para um novo ponto de vista e devolvidas à mesma crítica. Falta de conteúdo e uma reciclagem de conteúdo eram problemas freqüentes: como a repetição de jovens fazendo sexo para render um pouco de nudez antes da violência explícita dar as caras. Algumas coisas mudaram, outras foram reformuladas sem deixar de ser a mesma coisa, no fim das contas. Por exemplo, certas cenas de sexo são praticamente esquetes de comédia com todo o diálogo melodramático dividindo espaço com um cenário completamente aleatório e não romântico. A diferença é que “Jason Lives” deixa toda essa suposta inconsistência numa bandeja para o espectador. Cheio de momentos como esse, a série começa a rir de si mesma sem largar o osso de alguns elementos clássicos e, apesar da nova entonação, continua mostrando jovens fazendo sexo antes de serem mortos.
E funcionou. “Jason Lives” é um dos poucos “Sexta-Feira 13” com boas avaliações debaixo do braço, exatamente o resultado que a produção queria depois que a “Parte V” agregou algumas das piores análises da série. A crítica apreciou que existe um personagem feito quase exclusivamente para olhar para a câmera e comentar sobre as idéias estranhas de entretenimento do público. Ademais, a narrativa é uma das poucas que abraça algum tipo de idéia externa organicamente, sem parecer que simplesmente incluíram algo novo no velho e deixaram estar — tal como veio a acontecer com o clone de Carrie e Nova York. O humor é bem encaixado e não parece ser um intruso. Primeiramente porque a sempre excelente trilha sonora de Harry Manfredini está a par das intenções da direção, como estar em sincronia com a ação. Mais importante, a história abraça as tentativas de humor como parte de si, sem deixar as costuras evidentes.
A justaposição de cortes — a montagem — é a mais ambiciosa e parece continuar aquilo que Steve Miner começou sutilmente na “Parte II“, novamente aproveitando para suavizar levemente a atmosfera. Assim, quando o mencionado coveiro faz suas aparições claramente cômicas, elas não destoam porque mais adiante há um corte engraçado ou um personagem lamentando o carro não pegar antes mesmo de existir algum perigo. Somando isso com personagens mais marcantes que o típico gado de abate de antes e uma história que ao menos tenta mostrar algum tipo de conseqüência dos eventos passados — mudam o nome de Crystal Lake para Forest Green e, finalmente, mostram o acampamento funcionando — é mais fácil notar por que “Jason Lives” costuma ser um favorito. Qual outro tem uma cena como essa? Uma criança fala para uma monitora que viu um monstro. Quando ela pergunta onde, a garotinha responde: “Em todo lugar!”. Parece pouco considerando uma obra inteira, mas são ainda mais escassos os filmes que conseguem mascarar uma alfinetada num furo da série como um comentário normal de criança.
Como se isso não fosse o bastante, Tom McLoughlin não esquece daquilo que levou os fãs aos milhares para as salas de cinema anos antes em 1980. Com 18 mortes, “Jason Lives” não está entre os filmes com mais vítimas por haver outros cinco acima dele, mas não por isso deixa de fazê-las um uma das melhores partes da experiência. Os primeiros minutos da abertura explosiva e a morte icônica nela ilustram perfeitamente que o novo Jason é diferente. Ele parece menos ativo e menos vivo — por motivos óbvios — sem correr atrás dos inimigos energicamente como a encarnação de Ted White na “Parte IV“, correndo ferido sem dar sinais de desacelerar sua vontade de matar. Como se fosse algo lógico, ele fica mais forte para compensar essa desvantagem enérgica, resultando em mortes violentas e absurdas como pouquíssimas de antes. A tal força sobre-humana ganha um novo significado, facilmente.
E assim, o melhor “Sexta-Feira 13” da série é justamente aquele que tira sarro daquilo que foi feito no gênero e nos cinco filmes anteriores, em especial. Algo assim poderia sinalizar o fracasso dos filmes em sua proposta de ser um bom representante do gênero Terror, pois em mais ou menos 6 anos o assassino e suas vítimas já viraram motivo de piada. Curiosamente, o fato de quem estar tirando sarro da fórmula e suas convenções ser a própria equipe responsável pela série muda tudo. Antes mesmo dos filmes chegarem na mesmice exaustiva e sem inspiração, “Jason Lives” trouxe o humor como forma de inovar sem esquecer das outras qualidades que deram graça aos anteriores.