“Godzilla vs. Destoroyah” é o sétimo e último filme da Era Heisei, que começou um hiato de 4 anos até que a Era Millenium trouxesse o Grande G de volta. Assim como outras obras da cultura pop dos anos 90, a Toho seguiu a moda de matar personagens famosos, como aconteceu com Superman em 1993. A reação foi previsível: antes houve um grande agito quando anunciaram que Godzilla morreria; depois do lançamento os pedidos para que o kaiju voltasse eram incontáveis e a bilheteria imbatível.
A trama começa com Godzilla passando por Tóquio mais uma vez, agora com algo diferente em sua aparência: parte de seu corpo reluz como se estivesse fervendo; e sua rajada atômica ganhou uma cor avermelhada no lugar do tradicional azul neon. Logo descobrem que a razão de tudo isso é o monstro estar morrendo. Sua estrutura anatômica baseada em radioatividade está entrando em colapso, posando um perigo para a Terra. Ao mesmo tempo, surge a ameaça de Destoroyah, um monstro nascido resquícios do Oxygen Destroyer — a arma que matou o primeiro monstro anos antes. Dois titãs batem de frente, só que dessa vez não importa muito quem vença: ambos trazem a destruição da Terra consigo.
Devo dizer que este é um dos filmes que mais queria assistir da franquia. Não só pelo fato de Godzilla morrer, mas por quase todos os fãs apontarem “Godzilla vs. Destoroyah” como um das melhores. Eles não erraram, pois aqui se mantém o altíssimo nível da Era Heisei com um bônus: finalmente parece que a história tem algum tipo de fechamento, ela se mostra como mais do que uma aventura episódica. E claro, volta todo o esperado entretenimento de antes da luta entre monstros. Os arcos de história têm um aspecto mais relevante do que foi visto até então. Ao invés de mostrar outro cientista ou militar fazendo planos sobre o Rei dos Monstros temos uma história de verdade rolando no fundo. O kaiju deve derrotar uma nova ameaça de seu passado e lidar com sua própria morte, a qual pode muito bem trazer um holocausto nuclear consigo.
Felizmente, a publicidade afobada fez o favor de revelar a morte de Godzilla ainda em 1995, então não há spoiler nenhum aqui. Acompanhar sua condição piorar é um tanto excitante e cria uma boa porção de tensão ao longo da trama, que culmina na morte do mesmo. Mas como saber quando esse momento chegará? Os humanos monitoram sua temperatura e estimam que ele entrará em colapso assim que sua temperatura atingir 1200ºC. Mais do que esperar a hora do kaiju deitar e morrer, vemos ele se acabar aos poucos lutando contra o gigantesco Destoroyah. Não como uma criatura cada vez mais moribunda, pois seus poderes ficam mais fortes conforme sua temperatura aumenta. O espectador sabe que o pior está para vir e acompanha essa contagem regressiva num misto de diversão com tensão: seu personagem querido morrerá, mas é tão legal ver sua rajada atômica daquele jeito! Perto do final não há como não gostar dessa combinação de ação com suspense e ate um pouco de drama. Especialmente quando essas sequências impressionantes são acompanhadas de uma trilha sonora incrível de Akira Ifukube, que amplifica desde as cenas de ação até os momentos mais tristes.
As coisas dão tão certo que até Minilla se sai bem no meio dessa história. Diferente de sua aparição levemente tosca em “Godzilla vs. SpaceGodzilla“, aqui ele tem um papel muito importante para a trama. Ele é tratado mais como um Godzilla Junior, um monstro que cresceu muito desde a última vez que apareceu e já se parece muito com seu pai; finalmente cumprindo seu papel como um pequeno Godzilla ao contrário de um monstro tosco e infantil. Sendo uma parte muito relevante para a história, Godzilla Junior se mostra como uma criatura já capaz de se virar em combate e em seu embate contra Destoroyah um dos momentos emocionalmente fortes de “Godzilla vs. Destoroyah”. Uma surpresa, considerando que é uma mesma versão da bizarrice vista em “All Monsters Attack“.
Muito dessa obra gira em torno de emoções e sentimentos, uma vez que vemos uma figura muito querida morrer diante de nossos olhos. Ao longo de 22 filmes o kaiju proporcionou entretenimento através das mais diversas formas e agora ele está indo dessa para a melhor. Certamente é um tópico forte para se abordar, mas por sorte a Toho soube como direcionar os eventos para criar uma experiência impactante. Todos os eventos vão construindo expectativa e tensão constantes, até que a hora da verdade finalmente chega e não desaponta. A última batalha de Godzilla é tão emocionante quanto poderia ser, com a cena de morte propriamente dita sendo solidamente executada. A emoção é tanta que o espectador quase fica feliz de ver Godzilla morrer; quase, pois ver uma cena desse tipo é triste demais, embora valha a pena por ser marcante como poucas na franquia.
Alguns detalhes — como falhas na direção — impedem que “Godzilla vs. Destoroyah” seja melhor no geral. Um bom exemplo é uma cena em que um personagem ressalta que faltam 6 horas até que certo evento aconteça; segundos depois a cena corta para o mesmo personagem falando que o tempo acabou, sem nenhuma transição estilizada ou algum subtítulo identificando o que diabos aconteceu. Já outros erros atrapalham em cenas mais importantes, como quando não deixam imediatamente claro como Destoroyah é derrotado. Aos poucos esses detalhes abalam um pouco a imersão na história ao fazer o espectador parar para dar sentido a essas cenas mal executadas. Mesmo assim, nada é tão grave assim. Este longa-metragem tem acertos o bastante para se posicionar como o melhor Godzilla até o momento.