Finalmente chega o mais falado filme do Godzilla de todos os tempos. Criticado pela maioria, ignorado por muitos e amado por poucos, “All Monsters Attack” é um marco na franquia, pois é o mais polêmicocom folga. Alguns dos longas da série adotaram uma temática mais leve, sendo que um deles foi claramente direcionado ao público infantil; “Son of Godzilla” foi bem mais leve que seus predecessores e introduziu Minilla, um personagem apelativo para o público infantil. Seguindo essa linha, “All Monsters Attack” vai muito mais longe quando mostra-se um filme para crianças pequenas com Godzilla apenas no nome.
Este não é um filme do Godzilla. O monstro aparece bem menos que a criança protagonista, sendo colocado em terceiro plano em detrimento até mesmo de Minilla, seu filho odiado trapalhão. Já dá para ter uma ideia do porquê muitos não consideram o filme parte do “canon” da série e até ignoram sua existência. O longa simplesmente não tem nada a ver com qualquer coisa que a franquia tenha criado nos seus 15 anos de existência. A trama acompanha a vida de Ichirô, um garotinho que sofre bullying de uma gangue liderada por Gabara, a criança que mais pega no pé do protagonista. Para fugir de sua realidade conturbada, Ichirô viaja para a Ilha dos Monstros em seus sonhos. Lá ele encontra Minilla e logo se torna amigo dele, que coincidentemente também está passando por problemas com bullying de outro monstro.
Até agora quase tudo relacionado a “All Monsters Attack” está muito errado: um filme de Godzilla direcionado a crianças no qual o protagonista não é o próprio kaiju, porque até mesmo Minilla tem mais tempo de tela que ele. As cenas inéditas com o Rei dos Monstros são muito escassas e, de alguma forma, são ainda piores que as cenas mais péssimas da série. A maioria delas é composta por cenas de outros filmes pioradas com músicas animadas e infantis e uma narração boba do protagonista. Nessa linha, o espectador pode ouvir frases como “Oh não! Lá vem Ebirah para incomodar nosso herói!” ou ainda “Eu sabia que o Godzilla era o maioral!”.
No decorrer da trama, Minilla e Ichirô se ajudam a enfrentar os problemas com quem os intimida, cada um lutando contra seus próprios problemas. Curiosamente, o monstro que atormenta Minilla também se chama Gabara, fato que gera uma grande dúvida: os monstros existem no mundo real ou são apenas fruto da imaginação do garoto? Queria não comentar sobre o monstro Gabara, mas me sinto na obrigação de falar quando ele tem um dos piores designs de monstro de todos os tempos. Para começar, o estilo do monstro não poderia ser pior: parece que decidiram misturar Scooby-Doo, o capeta e a peste bubônica em um monstro só; tudo isso pintado de um verde-piscina não lavada nos últimos seis anos. Tentar ver aquilo como uma ameaça séria ou como um monstro engraçadinho está além de minhas capacidades, mas imagino que seja tão pouco efetivo com crianças.
Há também uma série de cenas com o protagonista enfrentando seus problemas da vida real, mas nem isso é bem administrado. A maioria delas contém um humor pastelão da pior estirpe; sendo não só sem graça como também bem estúpido. Não é à toa, os personagens parecem ter saído de “King Kong vs. Godzilla” junto com toda aquela ruindade e humor forçado. Como se isso não fosse o bastante, as falas dadas ao próprio protagonista já são um terror por si, sendo extremamente clichês ou totalmente imbecis até mesmo para os padrões de um filme infantil. Até mesmo a trama focada no bullying e a superação disso consegue ser, de algum jeito, mal executada. Tudo por causa de uma infeliz cena que praticamente defeca no pouco que a obra construiu até então.
Por sorte, “All Monsters Attack” tem uma duração bem reduzida em comparação com outros filmes da franquia, rodando em 69 minutos de duração —praticamente meia hora a menos que o comum. Até fico feliz de ver que esta obra foi mal recebida, pois caso fosse um sucesso a franquia acabaria morrendo com essa entonação infantil e o Godzilla que conhecemos hoje nunca existiria.