2014 foi um ano relativamente bom para o cinema, mesmo que inferior a 2015. Dois dos filmes mais populares da Marvel foram lançados, enquanto Godzilla retornou com força total para as telonas americanas. No departamento dos remakes, reboots e continuações, as Tartarugas Ninja passaram pelas mãos de Michael Bay, que também lançou outro Transformers, RoboCop recebeu um upgrade e Sin City uma continuação quase 10 anos depois do original. Ah, e “Boyhood” foi lançado, aquele que demorou 12 anos para ser filmado. Sim, 12 anos.
O primeiro ano do Cine Grandiose foi um tanto agitado. Muitas análises foram escritas e muitos filmes foram assistidos, mas nem todos foram realmente bons. Este lista reúne os 10 Melhores Filmes lançados originalmente em 2014.
10. How to Train Your Dragon 2 (Como Treinar Seu Dragão 2)
Um dos primeiros filmes analisados pelo Cine Grandiose foi, curiosamente, assistido por acidente. O plano era ver “Edge of Tomorrow”, mas “How to Train Your Dragon 2” estava em cartaz. Até hoje não sei se o filme de ação com Tom Cruise teria sido melhor escolha, pois ainda não o assisti; de qualquer forma, posso dizer com tranquilidade que esta animação foi um prato cheio por si. O longa não apenas supera o original, como o faz tomando uma direção diferente na trama. Visuais estonteantes combinam cores com o design diversificado da produção, que apresenta dezenas de dragões em todos os formatos e personalidades e os colocam junto de vários dos coadjuvantes, um pouco melhor desenvolvidos nessa jogada. Por trás disso tudo, porém, há uma história séria, que mostra como a ambição da produção do longa não se deixa limitar pelo visual. Emoções fortes e sentimentos são frequentemente evocados enquanto temas mais maduros são trabalhados, fortalecendo o impacto da trama e dando profundidade a uma obra que não prometia muito.
9. The Theory of Everything (A Teoria de Tudo)
Não há muito para ser dito de “The Theory of Everything”. No fundo, é uma história bem contada e interpretada sobre a vida de Stephen Hawking. Não sua carreira como físico, estrelando seus feitos científicos e teorias mirabolantes, mas sua vida pessoal, como ele foi de universitário a físico renomado, de solteiro a casado, de feliz a miserável a feliz de novo. Por si, os protagonistas dão um show: Eddie Redmayne — vencedor do Oscar pelo papel — entrega uma atuação que captura cada estágio da doença com naturalidade, do primeiro tropeço até a cadeira de rodas; já Felicity Jones surpreende por construir uma personagem interessante, mesmo que o mundo a classifique como a esposa de Hawking. Em contrapartida, juntos os dois compartilham uma química e tanto, que já é atraente quando eles não são nada mais que adolescentes e só evolui conforme o tempo passa. Há ainda é o fato de muitos clichês do gênero Romance serem evitados, o que é sempre bom.
8. Foxcatcher (Foxcatcher: Uma História que Chocou o Mundo)
Para alguns, “Foxcatcher” é um dos filmes mais chatos do ano. Não digo que concordo, mas ele com certeza não é a definição de uma história agitada. Nele, um milionário oferece para financiar um lutador olímpico e acaba mudando sua vida cada vez mais quando sua influência vai além do treinamento. Por trás de pouca trilha sonora e pouco movimento, este longa metragem esconde uma grande história, completa com algumas das melhores atuações do ano, especialmente do irreconhecível Steve Carell e de Mark Rufallo, quase tão grande quanto seu Hulk em ” Os Vingadores”. Carell não tem absolutamente nenhum traço de seus personagens cômicos, dessa vez encarnando um personagem que é o desencanto em pessoa. Por onde vai, seu personagem exala uma aura negativa e mata o ambiente aos poucos, por mais que suas palavras sejam amigáveis. Por outro lado, as atuações de Mark Ruffalo e Channing Tatum usam mais o Wrestling e a comunicação corporal para transmitir o companheirismo entre irmãos e plantar a semente do conflito desta obra.
7. The Babadook
Este é o melhor filme de Terror do ano e com certeza está entre os melhores dos últimos tempos. A trama não parece ser nada demais: uma mãe solteira e seu filho são aterrorizados por um monstro que veio de um livro infantil, chamado Babadook. No entanto, o ponto não é tanto parecer aterrorizante ou escolher um vilão que seja mais universalmente temido, mas explorar o que existe por trás do mito do monstro; chegando a fazer clara homenagem aos filmes clássicos de monstro de antigamente. Muitos reclamarão da criança gritando o tempo todo e de como ela consegue ser tão chata por tanto tempo, mas até isso foi planejado quando a manha e os berros têm influência tanto no espectador como na história. A preocupação aqui é estabelecer um clima tenso, então espectadores que procuram se assustar com mecanismos baratos, como jump scares, podem se decepcionar. O ponto não é entregar sustos distribuídos em uma história rasa, é criar um clima tenso que engole espectador e personagens ao mesmo tempo.
6. The Grand Budapest Hotel (O Grande Hotel Budapeste)
Se “How to Train Your Dragon 2” fez bom uso da aquarela na criação de seu universo, este filme de Wes Anderson faz ainda melhor. Colorindo seus cenários como se fossem casas de brinquedo ou até desenhos animados, Anderson cria um clima jovial, no qual o humor típico de comédias clássicas, especialmente do cinema mudo, se encaixa perfeitamente. Ver “The Grand Budapest Hotel” é como entrar de cabeça num universo único, onde as aventuras de um concierge e seu assistente podem ir de um extremo do inimaginável até outro sem problemas. Tudo pode parecer bobinho, mas é exatamente essa a intenção, manter uma atmosfera leve e divertida sem beirar o ridículo ou o escrachado. Ainda assim, a predominância dessa leveza pode minar alguns momentos dramáticos, embora em nenhum momento este longa falhe no seu foco principal: a comédia.
5. Love & Mercy
Até 2014, fãs de “The Beach Boys” que procuravam usar o cinema para saber mais sobre a banda de Brian, Carl e Dennis Wilson, Mike Love e Al Jardine tinham de se contentar com documentários. Não dizendo que eles sejam ruins de alguma forma, mas nenhum teve o brilho de uma produção dedicada como “Love & Mercy. A vida de Brian Wilson, líder da banda por muitos anos, é recontada aqui, embora não de forma linear; existem saltos entre o Brian jovem dos Anos 60 e o Brian enfermo dos Anos 80, que juntos contam a história de como o músico passou por um surto mental. Neste filme, a pegada é um pouco diferente, pois como se trata de uma dramatização baseada em fatos reais, algumas coisas acabam não sendo exatamente como aconteceram de verdade. Fãs notarão isso, sem dúvida, mas nada disso chega a incomodar, pois não há nada como ver interpretações excelentes de Paul Dano e John Cusack ao som da genialidade de Pet Sounds e SMiLE.
4. Dawn of the Planet of the Apes (Planeta dos Macacos: O Confronto)
Outra continuação que parecia ser apenas uma extensão da ganância dos produtores de Hollywood, mas que surpreendeu por ser o melhor filme de ação do ano. Seguindo a epidemia primata que dizimou boa parte da população mundial, os humanos passam a viver perigosamente próximos da manada de macacos inteligentes que surgiu. O título brasileiro faz o favor de contar o que acontece depois. Sendo assim, o resultado é uma obra que usa alguns dos conceitos antigos da série “Planeta dos Macacos” com a tecnologia de hoje. Então em vez de máscaras e maquiagem, o que se vê é animação com captura de movimento, macacos com metralhadoras e cavalgando — ao mesmo tempo — e algumas das cenas de ação mais excitantes do ano. Então, não, não foi uma continuação para ser esquecida. Foi um sucesso que pode ser considerado o melhor da série sem problema algum.
3. Birdman or: The Unexpected Virtue of Ignorance (Birdman ou: A Inesperada Virtude da Ignorância)
A genialidade de “Birdman” é uma que está tão enraizada na obra que é difícil apontá-la em um ou dois aspectos específicos. Estrelando Michael Keaton, a história contada é a de um ator que fez sua fama com um filme de super-herói, teve uma carreira morna depois disso e tenta voltar com tudo depois de mais velho. Gosto de imaginar que a escolha de Keaton não foi nenhum acidente, pois ele é um ator que fez sua fama com os dois “Batman” de Tim Burton, fez vários filmes medíocres e voltou com tudo apenas recentemente. Em uma atuação digna de Oscar — mais do que Eddie Redmayne — Keaton incorpora a insanidade de seu personagem, que, somada a toques de Fantasia da direção de Alejandro G. Iñarritu, ilustra perfeitamente o conflito entre uma dúzia de forças daquela mente. Ah, e o filme todo dá a impressão de ter sido feito em uma tomada só, deixando imagem após imagem fluírem tal como a sanidade flui para fora do protagonista.
2. Interstellar (Interestelar)
Querendo ou não, “Interstellar” foi o filme mais comentado do ano. Para muitos, este foi um épico espacial de cair o queixo, o melhor filme do ano com folga, um “2001: Uma Odisséia no Espaço” contemporâneo. Para outros, uma obra que começou bem e terminou pior do que o próprio “2001”, um desastre completo e até o pior filme de Christopher Nolan. A história de um ex-astronauta de uma Terra devastada que embarca numa missão desesperada é atraente, quanto a isso poucos reclamaram, o problema é que quem assistiu sabe que o roteiro apresenta alguns pontos de vista controversos em certo momento, o que levou muitos a perder a fé imediatamente. De fato a sugestão apresentada é idiota, mas em nenhum momento ela é imposta para o espectador, o que evita que “Interstellar” seja desastroso como pintaram. No fim, o que resta é uma história longa, que prende o espectador — apesar dos mencionados deslizes — até o fim e não decepciona, contando até mesmo com pitacos de física de verdade para os fissurados por ciência.
1. Nightcrawler (O Abutre)
Este não é apenas o melhor filme de 2014, é o filme mais esnobado no Oscar entre todos dessa lista. A história de um jornalista amador que decide crescer na vida a qualquer custo não agradou a Academia, que o indicou apenas para uma estatueta: Melhor Roteiro Original. Não preciso dizer que não venceu, ainda que merecesse muito. No entanto, é fácil enxergar porque muitos não gostaram do que viram. O protagonista de Jake Gyllenhaal está entre os mais detestáveis de todos os tempos, ele toma atitude nefasta atrás de atitude nefasta, derruba quem precisa, cospe na cara deles depois e ainda consegue ter aquele magnetismo que mantém o espectador curioso sobre seu próximo passo. Não preciso dizer que Gyllenhaal entrega uma atuação de arrepiar os cabelos da nuca, pois a fonte que ele bebe não é outra que não a acidez, a repugnância urbana e o pessimismo do Noir. Usando tudo isso e mais um pouco, este longa-metragem mostra-se como a experiência mais satisfatória que tive com o cinema de 2014.