Quem esperava um filme que aborde teorias físicas da maneira como “Interstellar” fez, provavelmente se decepcionará aqui com o outro lado da história de Stephen Hawking. Deixando os cálculos e as teorias de lado, este longa-metragem conta a história de vida do físico, abordando a parte mais íntima de sua vida. Outra produção sobre a vida de Hawking foi lançada em 2004, mas por esta ter sido feita para a televisão, “A Teoria de Tudo” é considerado o primeiro filme lançado no cinema sobre o físico. Tratando-se de uma obra biográfica, marcos teóricos de sua carreira são mostrados, mas nenhum é explorado tão a fundo como a sua vida em família.
Começando com os anos de universidade, o jovem Stephen Hawking (Eddie Redmayne) conhece Jane Wilde (Felicity Jones) em uma festa, desenvolvendo aos poucos uma relação que irá durar boa parte de sua vida. Com o tempo, sinais de sua doença neurológica degenerativa começam a aparecer, abalando a vida e relacionamentos de Stephen profundamente. Das partes abordadas, a vida em família do casal é de longe a melhor explorada. Ao tomar aspectos tão pessoais como foco principal, o longa torna-se extremamente dependente da atuação de seu elenco principal, ainda mais quando tantas fases de vida são mostradas. Felizmente, não há motivos para preocupação neste caso, pois todas as interpretações são mais que suficientes para carregar o filme nas costas.
Eddie Redmayne e Felicity Jones compõe a dupla principal desta obra, entregando ótimas atuações tanto por si ou complementando-se nas diversas cenas que compartilham. Uma pessoa poderia pensar que atuar como um indivíduo com necessidades especiais não é nada de outro mundo. A doença de Hawking o impede de falar e se mover adequadamente e de fato é onde a atuação de Redmayne menos brilha. Entretanto, isto não tira os méritos do ator de forma alguma, pois sua atuação começa muito antes desta fase tardia da condição, imagem mais conhecida do físico atualmente. A sacada está no fato de que a atuação de Redmayne acompanha perfeitamente a evolução da doença, isto é, em nenhum momento pode-se dizer que há pouca mudança entre os diversos estágios da patologia. Não tem como simplesmente falar que o Hawking retratado na metade do filme é apenas o cara do começo numa cadeira de rodas. Isto torna sua performance especial, apesar do mencionado último estágio não ter o mesmo impacto visto anteriormente.
Finalmente, Felicity Jones está ali como muito mais que a simples namorada e eventual esposa de Stephen, sua tridimensionalidade faz dela digna de nota por si. Dizer que sua personagem Jane é relevante mesmo sozinha não significa que a mesma seja desconexa de seu parceiro, pelo contrário. A química criada entre os dois atores é simplesmente linda. Um relacionamento complexo ser representado tão organicamente é algo que não se vê tão frequentemente, ainda mais sem a companhia dos comuns clichês vistos em tantos filmes de Romance. A única falha está presente no clímax da relação entre os dois, onde colocam um deus ex machina tão pesado que chega a ser lamentável de tão desnecessário. Além de mostrar algo muito pouco palpável em termos de relacionamentos, mostrar uma cena tão forçadamente explicativa se mostra uma blasfêmia perante a excelência vista no desenvolvimento do relacionamento.
Mas de todas as poucas falhas desta obra, a que de longe mais me incomodou foi desimaginativa e genérica fotografia. Normalmente, este é um aspecto que considero suplementar à qualidade do filme. Ajuda a construir um bom filme, principalmente em termos de estética, mas não é essencialmente um aspecto-chave. Para a infelicidade da parte visual desta obra, o clássico exemplo do laranja com azul está mais presente do que nunca. Normalmente colocadas em conjunto por serem tons opostos na roda das cores, tais colorações são escolhidas pelo contraste único que produzem. Quando usados sutilmente, o laranja e o azul funcionam perfeitamente. O problema é que a popularização de tal combinação acabou, de certa forma, prostituindo o estilo, tornando-o óbvio e pouco criativo rapidamente. Tudo neste filme adota estes dois tons, literalmente. Sendo uma cor quente e uma cor fria, acharam genial colocar todas as sequências ao ar livre com tons de azul, e todas as cenas interiores em tons de laranja. Alguns dirão que as escolhas representam o clima nublado da Inglaterra e o calor de um ambiente fechado, mas o abuso é tanto que o figurino chega a ser limitado a estas duas colorações. A cereja do bolo é quando até mesmo as cores das barracas em uma cena de acampamento usam este odioso padrão.
De todas as características de “A Teoria de Tudo”, fotografia e estética certamente não fazem parte das boas. Felizmente, este aspecto não é tão relevante para o que realmente importa nesta obra. Caso as atuações e representações dos personagens fossem falhas, sem dúvida o filme seria um grande fracasso. Entretanto, Eddie Redmayne e Felicity Jones fazem questão de provar o contrário, fazendo deste longa-metragem um dos grandes destaques de 2014 no Cinema.