Depois de ressuscitar “Halloween” com três filmes que, sozinhos, catapultaram a série para o topo do ranking de bilheteria total de Slashers, chegou a vez da Blumhouse tentar a sorte com “O Exorcista”, que não recebia uma continuação desde 2005, quando “Dominion: Prequel to the Exorcist“. Isso sem contar o corte de diretor de “The Exorcist III“, claro. A idéia é seguir o mesmo plano de antes e criar uma trilogia que continua a história do original e ignora as outras continuações, o que talvez seja inteligente porque “Exorcist II: The Heretic” é um dos piores filmes de todos os tempos ou talvez não muito porque “The Exorcist: Believer” também não faz muito para justificar sua existência.
Num dia normal depois da aula, duas garotas decidem tentar uma coisa nova. Katherine (Olivia O’Neill) e Angela (Lydia Jewett) vão para o meio da floresta para tentar se comunicar com a falecida mãe de Angela por meio de um tipo de ritual amador. Algo dá errado. As garotas não voltam para casa. Apenas reaparecem mais tarde sem nenhuma ideia do que aconteceu no tempo em que ficaram fora e agindo de forma estranha, o que deixa os já desconcertados pais sem saber o que fazer. Logo fica claro que não é resquício de trauma psicológico nem doença mental que explica o comportamento delas.
O que diferencia “The Exorcist: Believer” de outros trabalhos parecidos? É uma boa pergunta. Talvez o selo de autenticidade que traça uma conexão com o original de 1973 dê algum tipo de validação a esta continuação, talvez o fato da Blumhouse ser uma produtora grande e bem-sucedida no gênero Terror tenha algum peso. No fim, nada disso importa muito quando se analisa conteúdo pelo conteúdo, e nesse quesito há muito para ser dito sobre como se tenta reviver um nome clássico do cinema meio século mais tarde. Como tornar o universo de William Peter Blatty relevante de novo? Especialmente em uma época em que as pessoas já não têm medo de nada e a maioria até chega a dar risada quando apresentada à possessão demoníaca de Regan MacNeil. O nome tem peso, mas não é tudo e nunca foi, como algumas continuações bem mostraram.
“The Exorcist: Believer” começa muito bem. E em parte porque não tem nada a ver com nada visto antes. Os eventos iniciais apresentam um grupo totalmente novo de personagens, uma história de vida distinta para eles e um evento que se mostra significativo para tudo que vem pela frente. Apenas um pedaço de exposição que não é expositiva demais e até cria algum tipo de micro-mistério dentro de uma trama maior, algo a que se agarrar até a história chegar nos pontos inevitáveis e seguir um caminho mais previsível. Isto é, durante todo esse tempo se conservando algum tipo de esperança para que o futuro seja diferente e menos óbvio do que o esperado. O que nunca acontece, infelizmente.
Para não dizer que “The Exorcist: Believer” é totalmente previsível e genérico, há alguns momentos em que é visível que se tenta algo diferente dentro das convenções esperadas. Esse não é um remake disfarçado que copia elementos e estrutura descaradamente e quer ser chamado de continuação. Assim, pontos específicos e personagens de função predefinida não vão ser encontrados aqui. O que vai se encontrar é um novo contexto e uma nova roupagem para a história da possessão de crianças inocentes por um demônio e os esforços dos pais desesperados para tentar salvar suas vidas. O que resta de surpresa é o começo da história por conta da apresentação a quem os personagens são fora da situação óbvia do exorcismo, além de um final que surpreende um pouco mas também se prejudica por uma execução irregular.
O final, que sempre foi um ponto altíssimo do primeiro filme, aqui sofre um pouco por uma sobrecarga de subtexto pretendido e significado imposto. Há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo e a única certeza que é dada para explicar os eventos é um pouco anticlimática. Isso é ruim para uma obra que a partir de certo ponto passa a sofrer de uma grave sensação de falta de novidade ou de uma segurança extrema no tratamento do material. Não que uma iniciativa agressiva como a de “Halloween Ends” fosse a chave para o sucesso, mas não posso tirar o mérito de tentar algo diferente. Os méritos só não são menores porque a execução técnica e as performances do elenco — em sua maioria — são bastante competentes. Com menos orçamento e uma equipe menos talentosa, é fácil imaginar tudo dando muito mais errado.
Até o momento, “The Exorcist: Believer” tem colecionado críticas com notas medianas ou negativas e não tem se mostrado muito apelativo para o público. Pelo que falei com amigos e conhecidos, há pouca antecipação e a obra de fato não entrega o suficiente para justificar algum tipo de redenção. No fim das contas, ainda se trata de mais uma história sobre exorcismo como tantas outras que saíram após a obra-prima de William Friedkin, mesmo essa sendo uma continuação oficial que leva o nome do original e até traz os atores dele. Claro, poderia ter sido mais genérico, mal realizado, escrito ou dirigido do que foi, assim como vários exemplos de histórias similares que não chegam aos pés de “The Exorcist“, mas isso não significa que este seja uma conquista das grandes. Tem suas qualidades, mas ainda é muito simplista para impressionar de alguma forma. Se as duas próximas continuações realmente acontecerem, fico na expectativa de que elas tragam algum tipo de inovação.