O fim da nova trilogia está aqui. Com um intervalo de planejado de dois anos entre produções, a pandemia acabou atrasando o lançamento de “Halloween Kills” por um ano, aumentando o intervalo entre o primeiro e o segundo e reduzindo o outro entre o segundo e o terceiro. O resultado é que “Halloween Ends” chega em sequência de seu predecessor, ainda aproveitando a memória recente deste para concluir o novo arco da história de Michael Myers. Depois de 40 e tantos anos, o mal volta para casa por uma última vez. Ao menos até a próxima vez que decidirem reaproveitar o personagem. Até o momento são quatro linhas do tempo diferentes e um filme sem relação com nenhum outro. E que venham mais? Quando se fala em Terror, é muito fácil para as coisas darem errado e a conclusão aqui é bem mais satisfatória do que costuma se ter.
Quatro anos se passam desde que a cidade de Haddonfield decide fazer justiça com as próprias mãos e finalmente colocar um fim na ameaça que assola a todos há 40 anos. Michael Myers (Nick Castle) escapa da morte por pouco e faz mais uma dezena de vítimas no processo, e nem os esforços unidos de um grupo vigilante conseguem acabar com ele. Tudo o que conseguem é mais morte e mais tragédia, mas aparentemente tudo fica em paz por um tempo. Michael não é visto há um bom tempo e as pessoas decidem seguir em frente, incluindo as sobreviventes Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) e sua neta Allyson (Andi Matichak). No entanto, o mal nunca se vai de fato, nem que assuma uma nova forma para continuar vivo.
“Halloween Kills” foi divisivo. Nem todo mundo apreciou o banho de sangue apresentado, o que é basicamente a única coisa que ele faz além de dar alguma explicação para Michael Myers estar vivo e introduzir uma subtrama que segue temas relativamente secundários para um filme de Terror. Ao menos é esquisito o mais sangrento e simples dessa trilogia também ter algum tipo de mensagem sobre a moralidade relativa e cinza do cidadão comum, como as coisas se transformam rapidamente e o ferido se torna o agressor quando se sente empoderado e justificado em seus atos. Funciona como um toque de profundidade para um filme que pode ser facilmente taxado como uma continuação superficial e enraizada nas convenções mais simples do gênero. Mas ainda assim há uma cena específica que se destaca por quão absurda ela é: Michael Myers é baleado a queima-roupa, golpeado uma dúzia de vezes com tacos de beisebol, pedaços de madeira e outras armas brancas, além de esfaqueado profundamente nas costas. E ele sobrevive.
Se fosse da linha do tempo original ou um “Sexta-Feira 13”, tudo bem, mas essa nova trilogia têm seguido uma linha um tanto mais realista. Não muito, apenas mais próximo de algo não tão absurdo, embora essa cena passe do ponto. Ele continua vivo e mata todos os seus agressores, o que daria a entender que uma terceira parte, sugestivamente chamada “Halloween Ends”, traria um Michael Myers em forma para um embate final, que seria mais ou menos o esperado. Não é bem assim. “Halloween Ends” faz bem em subverter a expectativa mais óbvia de que esse talvez fosse que nem o anterior, uma festa de sangue e tripas para dar fim a todas as outras, um épico finale em todos os sentidos. Ao mesmo tempo, isso não é tão positivo ou funcional como pode aparentar. O puxão de tapete está ali, de fato, só não é o melhor de todos por usar uma idéia altamente questionável já vista em algumas outras séries e deixar o espectador sem entender nada por mais ou menos metade do filme.
Eu, ao menos, fiquei esperando algo substancial acontecer e encontrei o que considero uma subtrama que foi promovida a trama principal, um tema secundário do anterior que agora foi desenvolvido a ponto de tirar o lugar de todo o resto. Parece um spin-off, na verdade, ou o produto de alguma série sem idéias que tenta apelar para algo diferente por desespero. Sendo justo, está bem mais para o primeiro caso do que para o segundo. Até porque esse não é a vigésima oitava continuação que já abusou da boa vontade do espectador e repetiu a fórmula vezes demais, pois ao que parece é uma saga, por assim dizer, com enredo planejado e distribuído em vários filmes. A execução de “Halloween Ends” mostra que mesmo uma idéia ruim pode ser bem executada. Ou melhor, executada com profissionalismo e um certo artístico. Não soa como desespero, é uma idéia que só não é tão boa.
Fazer comparações com outras obras que tentaram a mesma idéia é revelar exatamente o que se tenta na trama. É tão óbvio assim. Apenas caso eu fosse desonesto nesse texto em tentar alertar para o que está por vir para evitar algum tipo de frustração, mas meu nome não é Gene Siskel e não vou entregar um segredo do enredo porque eu não gostei. Poderia ter sido pior? Muito. Facilmente. Todos os outros exemplos que tenho em mente que seguiram a mesma idéia não foram nem de perto tão decentes quanto “Halloween Ends”. Alguns foram feitos na base do desespero mesmo e de forma incompetente, desonesta até. Aqui é diferente. Há desenvolvimento e até um antecedente narrativo, uma muda no anterior. Eu nunca esperaria que fossem seguir isso e foi o que aconteceu. Não é tão ruim quanto poderia ser nem tão bom a ponto de ser algo que eu elogiaria.
“Halloween Ends” é o tipo de curva para a esquerda que muita gente odeia. Dessa vez, com certa razão. Elementos de Terror são deixados de lado em prol dessa nova direção e não só os mais óbvios ou genéricos mas também todos os outros que tornaram os dois anteriores tão interessantes. Algumas idéias beiram o ridículo e até incoerentes e fora de personagem, tornam difícil aceitar a nova direção proposta aqui. E, no fim, apesar de todo o esforço, profissionalismo e competência técnica na representação do roteiro, ele ainda soa como um filme que por metade dele parece qualquer outra coisa menos a terceira parte de uma história já existente.