“Close Encounters of the Third Kind” cai num peculiar lugar entre “Jaws” e “Star Wars” na história dos blockbusters. Uma das coisas que se escuta sobre ele é a aposta entre Steven Spielberg e George Lucas sobre as bilheterias de seus filmes. Lucas apostou uma porcentagem da bilheteria que “Star Wars” não ultrapassaria a obra de Spielberg e obviamente perdeu, fazendo seu amigo ficar rico. Na verdade, é um pouco de exagero. Existem trabalhos mais desconhecidos e obscuros no rol de Spielberg como o que sucedeu este, a infame comédia de guerra “1941”, entre outros do começo de carreira. Mas por que se comenta tão pouco sobre esse, mesmo sendo formidável? Aqui está o lado escuro da lua em ação.
Um evento extraordinário no deserto do México chama a atenção das autoridades. Aviões da Segunda Guerra Mundial, desaparecidos há mais de 30 anos, reaparecem intactos e funcionais, mas sem nenhum sinal dos pilotos. O cientista Claude Lacombe (François Truffaut) comanda a investigação dos eventos, que se repetem em outros lugares do país também. Objetos luminosos e estranhos aparecem para um grupo seleto de pessoas, tocadas pela experiência e levadas à obsessão de descobrir a todo custo mais sobre os supostos visitantes extraterrestres. Roy Neary (Richard Dreyfuss) e Jillian Guiler (Melinda Dillon) são apenas duas vítimas dos contatos imediatos de terceiro grau.
Esse é um filme estranho. Não só porque se comenta pouco sobre ele mas também porque é uma história pouco convencional para um diretor tão frequentemente associado a um cinema tradicional americano, familiar aos modelos e convenções reconhecíveis. Tirando alguns momentos pontuais em que parece estar cumprindo requisitos desnecessários, tal como um beijo gratuito sem precedente algum, a dinâmica do roteiro é lenta, errática e sem uma progressão necessariamente linear. A investigação, por exemplo, não é feita de uma reunião de fatos levando a conclusões e explicações sobre o mistério. “Close Encounters of the Third Kind” começa com pouca informação e segue assim pela maior parte do tempo, com pouca ou nenhuma satisfação e apenas o ocasional evento que parece importante e serve mais para iludir o espectador.
Em vez de decepcionar, isso renova o interesse pelo mistério. Entendo como pode não funcionar para alguns porque pode soar como um ciclo repetitivo em que nada acontece além de acompanhar os personagens fazendo esquisitices sem propósito aparente. Pode ser considerado chato, sem sentido. Penso que se faz necessário um voto de confiança no começo, acreditar que deve haver uma explicação em algum momento e que essa é uma história sobre um assunto quase inexplicável, até porque nem seria possível explanar muita coisa por até hoje não se saber muito sobre alienígenas. “Close Encounters of the Third Kind” funciona para mim porque segue um princípio de “Jaws” e o leva ainda mais longe: menos é mais. Menos informação, menos satisfação, menos exposição, mais suspense e mais tensão.
Muda um pouco na prática. “Close Encounters of the Third Kind” não se preocupa tanto com esconder seu objeto central, as naves aparecem claramente mais de uma vez ainda no começo. São de formatos esquisitos, de discos voadores clássicos a poliedros diversos, todos coloridos e flutuantes sem destino ou objetivo perceptível. Mas não é esse o tubarão daqui. Isso seria a missão dessas naves na Terra e até mesmo a aparência dos ETs. Essas são algumas das maiores questões que buscam manter o espectador atento. As naves fazem contato e não atacam ninguém, então não pode ser tão simples quanto uma invasão planetária. Também não é exploração e observação, senão não faria sentido alertar os terráqueos de sua presença. Tem de haver algum esclarecimento para todo esse grande teatro.
Foi essa busca por resposta que me prendeu. A vontade de saber qual a recompensa por trás do mistério que me fez continuar. Mas para isso foi necessário ser fisgado pela premissa ou pelos momentos iniciais. “Close Encounters of the Third Kind” pode cair por terra se o espectador não estiver tão investido na experiência de descobrir os segredos por trás dos comportamentos esquisitos, das naves, suas luzes coloridas e da missão dos humanos e dos alienígenas. Qual tipo de filme de extraterrestre é esse? Essa é outra pergunta para manter o engajamento. É uma grande soma de fatores que vai acabar por prender a atenção ou não. Para mim, ver Richard Dreyfuss brincando com seu purê de batatas e jogando uma planta arrancada do jardim pelo vidro da janela da cozinha são as esquisitices do bom entretenimento, me fazem ficar confuso sobre o que diabos está acontecendo. Abduções? Por que não? Tudo soma para quebrar a cabeça até um grande momento de revelação.
Esse talvez não seja dos melhores. Cumpre sua função por muito pouco, no limite para não deixar um sentimento de decepção depois de tanto tempo escondendo o jogo. As tramas se fecham e fornecem satisfação suficiente. Parece que tudo valeu a pena no final das contas. O único problema é que algumas das revelações podem ser um pouco ineficazes depois de os aliens ficarem batidos na cultura popular, com imaginações de todos os tipos surgindo nos anos subseqüentes e podendo deixar essa pouco imaginativa, exceto pelo design das naves. “Close Encounters of the Third Kind” é eficiente, a despeito disso, merece ser colocado entre os bons filmes sobre extraterrestres e ainda marca uma das poucas ocasiões em que François Truffaut, o celebrado diretor francês da Nouvelle Vague, foi ator. Uma curiosidade bacana, mesmo que seja um cineasta francês interpretando um cientista francês que fala pouco inglês.