Aquele que começou tudo, o big bang da indústria cinematográfica, o ápice da Nova Hollywood, a tempestade perfeita… A obra prima de George Lucas passa por vários nomes, mas nenhum deles jamais será grande o bastante para sequer igualar o nome que virou lenda: Star Wars. Dando vida a um império ainda maior do que o mostrado nas Trilogias, a franquia originou material o bastante para facilmente encher uma Estrela da Morte dedicada às coisas relacionadas ao universo. Histórias em quadrinhos, livros, jogos eletrônicos, brinquedos, seriados de televisão, desenhos animados, e até mesmo uma legião de cosplayers são apenas uma amostra dos lugares alcançados pelos galhos dessa franquia de uma galáxia muito distante.
Dependendo de qual filme o espectador começar a assistir a série, este pode ser uma história completamente original ou uma continuação dos eventos do Episódio III. Independente disso, pode-se começar por qualquer uma das trilogias que nenhum detalhe será perdido. Após o fim das Guerras Clônicas e da Ordem 66, o Império Galático reina absoluto sobre a galáxia. Governando de forma ditatorial, os planetas vivem sob regime opressivo e muitos dos descontentes juntam-se e formam a Aliança Rebelde para combater este governo. Em um dos postos mais elevados dessa Aliança está a Princesa Leia (Carrie Fisher), uma nobre do planeta Alderaan que está em poder dos planos da arma mais letal do Império. Quando sua captura mostra-se iminente, Leia envia os planos junto de dois dróides para o planeta Tatooine na esperança que os mesmos cheguem nas mãos de um exilado Cavaleiro Jedi. Por vontade da força, ou por mera coincidência, o destino dos dróides acaba sendo ligado ao do jovem Luke Skywalker (Mark Hamill), de um piloto arrogante, de um Wookie, e de um velho. Juntos, essa equipe de procedência duvidosa deve fazer o possível para salvar a galáxia.
Uma ótima, embora simples, definição que ouvi há pouco tempo atrás sobre este filme, é que o mesmo pode ser caracterizado como uma tempestade perfeita; ou seja, algo que tinha potencial pra dar muito errado, mas que de alguma forma improvável dá certo. Em um tempo onde o gênero Sci-Fi não era tão difundido, investir tanto dinheiro em algo duvidoso não era bem uma idéia popular. Entretanto, o dinheiro acabou sendo investido, e de alguma forma “Star Wars” foi lançado em um estonteante lançamento, muito maior que qualquer delírio de grandeza que o diretor poderia sonhar em ter. Apesar do termo conter a palavra ‘perfeita’ em sua composição, este filme não é perfeito e está um tanto longe disso. Isso se nota facilmente com poucos minutos de filme e em vários de seus aspectos: os atores estão longe de serem mestres do drama, o diálogo não é algo exatamente memorável, e o próprio enredo contém alguns pontos facilmente passíveis de dúvida. No entanto, quando posto junto tudo simplesmente funciona, por mais que uma análise mais dedicada aponte para o contrário.
Com exceção dos efeitos especiais, que para a época foram estupendos o bastante para originarem uma escola totalmente nova de tal arte, nenhuma das mecânicas de enredo são realmente novas; o que por si não é problema pois usar de clichês nunca foi uma falha por si, mas a disposição daquilo que já foi visto antes funciona melhor que caso colocada no papel. Tomando como exemplo as cenas finais com a Estrela da Morte, várias questões podem ser levantadas a partir de tal sequência. Temos algumas alterações de escala extremamente convenientes para que o enredo funcione, e isso é colocado de todas as formas, menos sutilmente; o que só é agravado pelo desejo de George Lucas de fazer de tudo algo gigantesco, fato interessante porém um pouco conflitante com o próprio funcionamento da obra. Mas isso é uma crítica mais particular que engloba a franquia inteira, não só esse filme. De qualquer forma, este é um exemplo tão bom quanto qualquer outro para ilustrar o que me incomoda por vezes.
Como dito, este não é um longa-metragem livre de falhas. Elas estão ali para serem notadas, embora no geral elas se mostrem bem pequenas frente aos acertos. O maior representante dessa falha seria o mencionado conflito entre as ambições do diretor com a palpabilidade do roteiro. Exigir realismo em um filme de Fantasia que se passa no espaço e conta com armas laser em seu arsenal é prepóstero, mas ainda assim é difícil para o espectador não questionar como um dos acontecimentos mais importantes do filme simplesmente acontece daquela maneira. Felizmente, tal acontecimento só é demasiadamente absurdo e ao não se exibir disfuncional, mostra que relevá-lo não é tarefa difícil; embora a reverberação de tal evento em outro filme da franquia vá um pouco longe demais. Sendo assim, neste caso este ponto pode ser levado mais como um detalhe em algo excelente. do que outro erro em um mar de poucos acertos; o que diz muito sobre a efetividade deste filme em ser um ótimo canal de entretenimento fantástico.
Um estrondo em quase todos os sentidos, este longa-metragem é apontado por muitos como um dos marcos da história do cinema. Revolucionando esferas como efeitos especiais e abalando até mesmo um dos grandes movimentos do cinema americano, este longa ao demonstra seu impacto através de seu sucesso comercial, cultural e crítico. Mesmo com algumas falhas ocasionais e outros artifícios ultrapassados atualmente, “Star Wars” é um trabalho marcante e empolgante até hoje; mostrando que por mais que algumas coisas envelheçam, o que importa é a maneira como estas são usadas, e neste caso ela é mais que satisfatória.