“Curse of Chucky” não é um dos melhores da série. Também não está entre os piores e até foi reconfortante de certa forma por não se mostrar uma repetição do erro de “Seed of Chucky” de se deixar cair demais no humor e na palhaçada em detrimento dos elementos de Terror. Por mais que seja uma característica da série misturar comédia com os assassinatos, inclusive humor auto-referente, pareceu que se foi longe demais. Também foi bom que a proposta um pouco mais sóbria e o lançamento direto para vídeo não fizeram de “Curse of Chucky” um fracasso. Mesmo assim, não esperava na época que uma continuação fosse existir e eis “Cult of Chucky” lançado quatro anos depois.
Uma virada incomum faz com que os planos de Chucky (Brad Dourif) dêem certo quando ele se vinga daqueles que lhe fizeram mal no passado. Ele se safa e deixa apenas uma sobrevivente, Nica (Fiona Dourif), uma cadeirante que leva a culpa de todos os assassinatos na casa e é encaminhada para uma instituição psiquiátrica, onde é forçada a admitir que o brinquedo assassino não passa de uma invenção de sua mente esquizofrênica. Nica se encontra numa instalação de segurança mínima um tempo depois, mas vê a história se repetir quando assassinatos bizarros começam a acontecer tão logo que um boneco Good Guy aparece numa sessão de terapia em grupo.
Talvez a coisa a se fazer é comemorar que “Cult of Chucky”, sendo o sétimo filme da série, não seja uma grande porcaria. O simples fato de se manter um nível de qualidade aceitável já é uma grande coisa, relativamente, considerando que tantas outras franquias de Terror normalmente estão bem mais fundas no buraco a essa altura. Talvez o espaçamento entre lançamentos tenha feito bem para a criatividade dos envolvidos. Exceto pelos três primeiros, lançados num período de quatro anos, houve hiatos de sete, seis, nove e quatro anos entre os próximos. Isso também não garante nada, infelizmente, já que “Cult of Chucky” mostra ser um dos menos empolgantes de toda a série. Nem plenamente ruim, nem uma continuação e melhoria do que se viu quatro anos antes.
Existem coisas boas, várias delas até. Tecnicamente, “Cult of Chucky” é bem melhor do que se poderia esperar de uma produção de baixo orçamento lançada diretamente para vídeo. Don Mancini mostra evolução em suas habilidades como diretor num estilo limpo e comedido para uma franquia estrelando um boneco que assassina pessoas e acha graça disso. Não que um estilo exagerado e rápido como o de Ronny Yu em “Bride of Chucky” seja disfuncional de alguma forma, pelo contrário, é ele que faz o frenesi e a premissa surreal dessa outra obra funcionarem. O contexto e o ritmo aqui são diferentes. Ambientado completamente em um hospital psiquiátrico, o longa depende muito mais de cenas com elementos básicos usados ao máximo; cenas de diálogo e ação de menor escala, por exemplo, são bem mais freqüentes e não necessariamente negligenciadas em prol das mortes.
Até mesmo o elenco está bem acima do que se costuma ver no gênero. Em uma rara demonstração de empenho aparente, os atores não tratam o material com desdém, preguiça ou seja lá o que jovens pensam quando sabem que vão estrelar num filme de terror formular. Com direção e elenco bem posicionados e uma fotografia criando a identidade visual limpa e apropriada ao cenário da trama, surgem os primeiros problemas na execução conseqüente. “Cult of Chucky” parece se levar a sério demais. A seriedade demonstrada por fotografia, elenco e direção é usada como um termo equivalente a profissionalismo, todos trabalhando para que a obra não tenha uma aparência barata, malfeita ou desleixada. Por outro lado, a seriedade prejudicial se encontra na dificuldade de encontrar um tom balanceado na história.
Se o passado da série já sofreu por um desequilíbrio pendendo para a comédia, este é um caso em que se pende para o outro lado. Não haveria um problema nisso se os momentos reduzidos de humor não parecessem fora de lugar diante do resto e, além disso, fossem um pouco mais inspirados. Essa é a mesma série que já passou por momentos de sátira auto-referente e se safou. Dessa vez, as tentativas são um pouco mais óbvias e toscas, apelando para menções diretas de cultura popular, piadinhas toscas envolvendo sites de vudu ou Chucky falando abertamente sobre ser um brinquedo falante com uma faca na mão. Apenas às vezes se tem lembranças de quando os trocadilhos eram mais espertinhos, ainda longe dos melhores envolvendo humor negro depois de uma morte bem espalhafatosa.
Até mesmo as mortes parecem ter sido deixadas um pouco de lado. O maior pecado, de longe, é ver que “Cult of Chucky” decide revisitar uma das piores mortes de toda a série: o espelho no teto em “Bride of Chucky“. O momento falha pelo motivo bastante simples de excesso de ambição e falta de orçamento, resultando numa demonstração tosca de efeitos especiais datados e usados de forma burra. Por que diabos Don Mancini escolheria tentar a mesma coisa novamente sem orçamento é um mistério, enquanto o resultado se mostra tão ruim quanto em 1998. Existem outras bem melhores, felizmente, embora permaneça a impressão de que seu papel é um tanto mais secundário.
O mais esquisito é ver que o aspecto mais elogiado de “Cult of Chucky” seja também o mais controverso, de certa forma. Entre todas as acusações possíveis, não se pode dizer que é uma repetição pouco inspirada de algo já lançado antes. Há ao menos uma grande reviravolta envolvendo um elemento clássico da série. Ela é interessante, mas no fim parece uma novidade por si sem um propósito, apenas uma variação pela qual o filme praticamente se auto-congratula sem fazer bom uso no contexto geral da série. Se as regras mudaram, para onde mais se pode ir e manter as coisas interessantes? Não é uma resposta que se encontra aqui, pois tudo acaba antes de ela aparecer. Por fim, outras pequenas incongruências desviam o foco daquilo que importa por mero descuido, aparentemente, somando para os pontos que trazem a experiência para baixo.