Há mais de uma década o Marvel Studios tem causado uma impressão forte na arte do cinema. Existem aqueles que consideram o câncer de capa e collant roubando o espaço que poderia ser usado por obras de maior relevância artística, mais cultos e inteligentes. Outros simplesmente não ligam e consideram uma forma como qualquer outra de torrar mais de 20 reais num ingresso para desligar o cérebro por duas horas e esquecer do mundo fora da sala de cinema. E há aqueles que acham o supra-sumo do entretenimento, com cada filme sendo um motivo de hype e empolgação em todas as redes sociais disponíveis. Quanto a quem trabalha no meio, é uma possível mina de dinheiro porque o público simplesmente não para de ir assistir os filmes.
Gostando ou não, sendo aficionado por quadrinhos ou não, o Universo Cinematográfico Marvel já fez história e está cada vez mais perto de ser a maior franquia — se puder ser chamada assim — de todos os tempos. Se em 10 anos saíram 20 filmes, não demorou muito para James Bond ficar para trás com seus 25 filmes. Esta é uma lista buscando ranquear todos os lançamentos pertencentes ao MCU do pior ao melhor. A lista evita spoilers, mas acaba sendo inevitável não revelar algo quando vários são continuações uns dos outros. Os links para as postagens completas estão nos títulos e nas imagens.
27. Thor: The Dark World (Thor: O Mundo Sombrio), 2013
Direção: Alan Taylor
O pior do Universo Cinematográfico Marvel não é um caso de menos melhor ou menos incrível ou menos divertido. Ele consegue ser ruim, incrivelmente decepcionante e pouco divertido. Muito se falou sobre a fórmula Marvel conforme ela foi tomando forma com dois e até três lançamentos anuais, quando heróis completamente diferentes e histórias envolvendo personagens e contextos diversos compartilhavam algumas similaridades ocultas. Em suma, a estrutura de várias obras era muitíssimo parecida. “Thor: The Dark World” é a culminação dessa fórmula dando terrivelmente errado. O vilão fraco é apenas o começo, um elemento que infelizmente se mostrou mais frequente do que deveria no MCU. Malekith não tem peso algum, mal chega a apresentar uma ameaça temível e já se sabe seu destino tão logo que seu objetivo raso se faz presente. O resto, que normalmente salvaria a experiência, decepciona principalmente por não apresentar uma ação decente e mais ainda por também utilizar mal Loki, que normalmente desperta um outro lado de Thor. Sem o primeiro, o outro é apenas um brutamontes poderoso e, neste caso, ainda com poderes sub-utilizados.
26. Iron Man 3 (Homem de Ferro 3), 2013
Direção: Shane Black
Bizarramente, achei “Iron Man 3” tão bom quanto e talvez melhor que o primeiro quando saí do cinema. Talvez tenha sido a empolgação de ir na primeira estréia de um filme da Marvel com a minha namorada da época, talvez o pique de empolgação por um filme do Homem de Ferro logo depois de “The Avengers” ainda não tivesse passado direito. Bem, cada dia em que pensei sobre o filme depois disso me fazia gostar menos dele. Demorei cerca de 5 anos para revisitar e encontrar as razões para isso e finalmente as achei. A proposta inicial de fato é interessante, um herói enfrentando um problema dentro de si ao invés de um vilão externo, especialmente alguém com uma personalidade tão peculiar como Tony Stark. Então o trem descarrilha. Praticamente todas as idéias introduzidas, boas ou ruins, esmorecem rapidamente. A ação funciona muito ocasionalmente, chega sem aviso e sem terreno preparado e acaba sem mais enquanto não um, mas dois vilões ruins marcam presença. “Iron Man 3” poderia ter sido muitas coisas e acaba não sendo nada mais que sua má reputação, a única coisa de que se fala sem nem chegar nos motivos por trás dela porque não vale a pena.
25. Thor, 2011
Direção: Kenneth Brannagh
Este é outro de má reputação. Ainda no começo do MCU, “Thor” fez o favor de reforçar a idéia de que a Fase 1 do MCU é fraca, morna e até ruim. Tudo bem que “Iron Man 2” ajuda nisso, mas até ele consegue ser levemente mais satisfatório. A diferença entre os dois é que “Thor” começa bem, tem várias idéias boas e até um enredo sólido desenvolvendo a essência da relação agridoce entre Thor e Loki, mais especificamente como as idéias mirabolantes do segundo costumam ser as responsáveis pela sua breve vitória e absoluta derrota. E então tudo dá um salto de ponta na mediocridade. Quando parece que finalmente chega a hora da ação bater as asas e o herói finalmente mostrar seus poderes, que passa boa parte do tempo como um ser humano normal, só há decepção. Todo esse clímax dura incríveis 30 segundos seguidos de mais um trecho de ação insossa cimentando o caminho até o final. Sem contar toda a computação gráfica não só envelhecida como também essencialmente mal concebida, até hoje a mais feia de todo o MCU. O asgardiano poderia ter sido melhor introduzido apenas com um pouco mais de capricho, pouco mesmo.
24. Iron Man 2 (Homem de Ferro 2), 2010
Direção: Jon Favreau
“Iron Man 2”, por outro lado, segue um caminho diferente. Ele é apenas um pouco melhor que “Thor” e peca de forma diferente. Seu fracasso não vem de uma vez, arrasando tudo que veio antes e usando os momentos mais importantes da obra, clímax e final, para nada. O filme inteiro é morno. Existem alguns pontos altos para manter o espectador interessado e ciente de que a história não está dando voltas no mesmo lugar, algumas cenas de ação legais e introdução de conceitos. E só. A maior parte do tempo compõe aquilo que se chama de uma barriga de enredo, um trecho que se arrasta e parece nunca ir a lugar algum de fato. Isso se reflete na qualidade leviana de “Iron Man 2”, a mesma por trás de diversos arcos pouco explorados e que quase representam uma declaração de oportunidade perdida. Existem boas idéias de enredo e outras nem tanto, sendo que nenhuma vai muito longe. A preguiça é mais notável nos dois vilões, que nem juntos conseguem ser mais interessantes que o Obadiah Stane do primeiro.
23. Eternals (Eternos), 2021
Direção: Chloé Zhao
Depois de todo a empolgação por um possível novo filme de equipe que pudesse ter o sucesso de um “Avengers” ou de “Captain America: Civil War”, “Eternals” entregou algo bem diferente. Para alguns, pode soar como uma coisa muito boa para uma franquia frequentemente acusada de fazer a mesma coisa sempre: os mesmos filmes refeitos com detalhes diferentes, a mesma fórmula para a maioria das histórias e até mesmo os mesmos problemas compartilhados. Chloé Zhao com certeza modifica essa dinâmica com um filme mais longo que de costume, com heróis pouco conhecidos e investindo mais em construção de personagem do que tão exclusivamente em ação. Funciona? Mais ou menos. Novos heróis trazem ares refrescantes para uma nova fase que não pretende depender tanto dos velhos e famosos rostos. Conhecer suas histórias e quem é cada um dos novatos é interessante e há certa curiosidade em saber quem faz o que exatamente, qual o poder da Angelina Jolie e como é a personagem de Salma Hayek, por exemplo. Mas isso passa rápido. “Eternals” logo perde a graça da curiosidade quando demonstra não conseguir sustentar sua ambição, seu elenco extenso em uma duração que passa das 2 horas e meia. Ele se torna cansativo e as novidades não compensam a falta de alguns elementos que funcionavam antes, como cenas de ação em maior quantidade, mais duradouras ou mais bem planejadas, nada do que se encontra aqui.
22. Doctor Strange (Doutor Estranho), 2016
Direção: Scott Derrickson
“Doctor Strange” representa perfeitamente bem um deslize. Eis um herói menos popular que a maioria de todos os que receberam filmes nos anos anteriores, competindo apenas com os Guardiões da Galáxia e o Homem-Formiga. Além do mais, alguém bem diferente destes por conta da natureza mística de seus poderes. Nada de aranha radioativa, experimentos com radiação gama, mitologia nórdica e soros de super soldado. Stephen Strange usa magia mesmo e possui artefatos únicos explicados apenas pela existência de, bem, magia. Os problemas começam com a própria explicação do funcionamento dessa força, que não é o mesmo que super-poderes e nem é algo raso como algumas pessoas serem feiticeiras porque sim. A magia parece largada na história. Embora sua manipulação resulte em algumas cenas visualmente impressionantes como a psicodelia dos cenários torcendo e dobrando, os personagens parecem estar mais preocupados em usá-la para criar escudos nos braços e brigar mano-a-mano. Decepcionante, mas ao menos causa algum tipo de impressão, ao contrário do vilão mudo e descartável de Kaecilius.
21. Thor: Ragnarok, 2017
Direção: Taika Waititi
Esse é um filme estranho. Os dois primeiros não costumam estar entre os mais elogiados nem são alvo unânime de críticas imperdoáveis. Mesmo assim, a recepção deles foi o bastante para os responsáveis aparentemente jogar tudo para cima e fazer algo completamente diferente com “Thor: Ragnarok”. Depois de duas decepções, é difícil manter a esperança, mas a magnitude e importância de um evento como o Ragnarok na mitologia nórdica e do herói mantiveram acesa uma chama. E então é decidido transformá-lo em um elemento narrativo secundário no que pode ser chamado de Comédia Stand Up com Thor Odinson. Um personagem que antes tinha graça por ser totalmente desacostumado com modos terráqueos passa a fazer graça por conta própria, tão excessiva e frequentemente quanto Deadpool, ainda. Existem, sim, algumas piadas engraçadas, idéias e cenas de ação boas, inclusive uma trilha sonora incomumente chamativa, o que torna a experiência muito acessível. É uma pena que a entonação escolhida seja tão escrachada, mais até que qualquer “Guardiões da Galáxia”, e não leve absolutamente nada a sério. Escolher justamente o evento potencialmente mais crítico do personagem para isso não soa boa idéia.
20. Black Widow, 2021
Direção: Cate Shortland
Parece que só houve tanta antecipação por “Black Widow” porque a pandemia aconteceu. A segunda metade de 2019 viu o fim da saga do infinito e um segundo filme do Homem-Aranha sobrando no final do ano, como um epílogo mais leve depois da pancada forte de antes. Então sem ninguém esperar ou querer, um vírus parou o mundo inteiro nos eixos e até o cinema foi afetado porque uma sala cheia, antes um sinal de empolgação compartilhada, se tornou negativo, uma aglomeração, uma forma de se contaminar. Então o filme foi atrasado mais de um ano e lançado diretamente no Disney+, algo inédito até então. Mas o filme é bom? Bem, a sua própria existência era associada a uma nostalgia recém adquirida de “Avengers: Endgame“, não uma demanda presente há tempos. Quando chega a hora de tirar a limpo e esquecer de todos os eventos associados ao filme — a nostalgia, o tempo sem cinema e sem MCU, a idéia de um finalmente ter um filme solo de Natasha Romanoff — o que sobra é um filme decente, mas não sem seus problemas de suspensão de descrença, o típico vilão ruim e sensação de que acrescenta pouco ao universo.
19. Black Panther (Pantera Negra), 2018
Direção: Ryan Coogler
Os planos para um filme do Pantera Negra estavam em jogo tão cedo quanto 1992, com Weslley Snipes interessado no projeto e sem nem pensar em estrelar três outras obras com o selo Marvel, a trilogia “Blade”. Mesmo assim, não deixo de acreditar que esses planos andaram muito mais rápido em meses do que em quatorze anos quando o personagem fez sua estréia em “Captain America: Civil War” e foi tratado como uma das melhores partes da obra. Bastou a recepção ser positiva para uma data, elenco, diretor e equipe serem confirmados. O que se esperou, naturalmente, foi um filme dedicado tão bom quanto a participação coadjuvante de antes e ainda que muito tenha sido dito sobre a qualidade de “Black Panther”, não acredito que é um dos melhores que o MCU tem para oferecer. Existem problemas de tom principalmente nas piadinhas Marvel completamente fora de lugar, nos efeitos especiais frequentemente exagerados e esteticamente feios e até na história, que no final das contas se mostra como mais um produto da clássica fórmula. O resultado não é negativo, apenas aquém da expectativa e de seu potencial.