Este é, provavelmente, o pior filme a despertar tanta curiosidade por aí. Creio que muita gente prestou mais atenção quando viu um filme russo de super-herói. O gênero não é exclusivo da Marvel, DC ou de Hollywood em geral e, justamente por isso, a nacionalidade despertou minha curiosidade sobre as possibilidades de uma abordagem nova. Pensava em como a noção dos russos de super-herói poderia ser diferente. Talvez um adendo cultural para variar o conceito de paladinos de collant e capa ou algo que não remeta à fórmula já vista tantas vezes. O resultado dessa expectativa? Um filme comicamente ruim. Facilmente, um dos piores dos que vi do gênero.
Em meio à corrida tecnológica entre Estados Unidos e União Soviética, houve também disputas internas. Dois cientistas competiam entre si para ver qual avançava mais na ciência, mas a situação saiu do controle e passou longe de uma rivalidade saudável. Os experimentos de Avgust Kuratov (Stanislav Shirin), em especial, envolveram cobaias humanas e deram origem a um grupo de super-humanos chamados Guardiões. Kuratov foi condenado por seus atos, mas acabou também sofrendo um acidente que lhe deu capacidades sobre-humanas. Anos mais tarde, ele ressurge desejando vingança contra o mundo, cabendo às suas próprias criações derrotá-lo.
Para quem esperava algo diferente, como eu, “Os Guardiões” traz a mais simplória e mal executada trama de herói contra vilão. É praticamente a mesma construção de “Os Vingadores” apressada e atolada em 89 minutos. Começa com uma interessante montagem sob créditos iniciais dando dicas sobre os heróis e suas origens. Vê-se o crânio de um homem crescendo e adquirindo focinho e traços bestiais através do Raio X; outra cena apresenta uma mulher serenamente deitada numa maca antes de convulsionar pelo efeito de alguma substância. Entra o título do filme: “Guardians”. Não demora para uma versão russa, loira e feminina de Nick Fury entrar em jogo e ser informada de sua missão. Revelam a história do vilão e a existência de seres capazes de derrotá-lo. Antes de sair de cena, ela pergunta o nome da missão. Entra o título do filme novamente: “Guardians”. Sim, é tão ruim que tem duas cenas de título.
O que segue não é nada menos do que vergonhoso e até ocasionalmente engraçado. Um humor involuntário, claro, oriundo principalmente do fato da obra não ter a mínima noção do quão ridícula é. Caso tivesse, talvez o resultado pudesse ser uma paródia interessante. O que se tem, contudo, é um roteiro pobre em termos de enredo e diálogo. Fica claro já no início que a idéia não é ser inovador. Por mais que um homem com cabeça de urso empunhando uma metralhadora não seja o padrão de herói, a estrutura e identidade da obra é extremamente clichê. “Os Guardiões” mostra que não aprendeu nada com décadas de filmes de super-herói. Com exemplo bons e ruins em ambos os lados, é curioso como este longa parece ter parado nos Anos 2000, sendo mais parecido com as barbaridades de “Demolidor” e “Elektra” do que com melhores exemplos. Típico disso é a cena que segue a segunda apresentação do título: imediatamente após receber ordens bem amplas de procurar os Guardiões, uma força-tarefa focada neles encontra todos em segundos. Se o trabalho deles sempre foi esse, o que impediu eles de fazer isso antes?
Deslizes toscos como esse vão acabando com “Os Guardiões” aos poucos, tornando-o cada vez mais genérica e sem atrativos. Para completar o pacote, os diálogos chegam com o pé na porta para causar um estrago. Diálogos dublados em inglês, ainda por cima. Terrível. O português não tem exclusividade no infortúnio de deixar as obras esquisitas. Só não sei dizer se falas plásticas e plenamente ruins vieram de brinde com a dublagem ou foram apenas traduzidos para o inglês. De qualquer forma, não deixa de doer os ouvidos escutar o personagem oriental, profissional em artes marciais e mais rápido que o vento, soltar um provérbio pseudo-filosófico cada vez que abre a boca. Independentemente da dublagem ter piorado a situação ou não, é visível que boa parte da ruindade acompanha um cinema pobre. Repetir quatro vezes em sequência o mesmo padrão — expor as habilidades do herói e depois recrutá-lo — só alimenta as qualidades negativas. Se ao menos a ação fosse de um nível de qualidade impressionante, quem sabe não seria possível esquecer um pouco da estrutura simplíssima de recrutar uma equipe e colocá-la em ação. Seria uma possibilidade diante de uma realidade menos agradável, que traz poucas cenas boas e poderes mau explorados.
O lado menos pior é que a ruindade tem seu fator diversão. Não rende um grande resultado. Longe disso, senão “The Room” seria o melhor filme de todos os tempos. Por menor que seja o benefício, este longa precisa muito dele. Até mesmo para o padrão do gênero Ação, há uma notável carência de qualidades. A história começa padrão e termina previsível; os personagens são resumidos aos seus poderes e, mesmo assim, não impressionam nesse aspecto; falta um vilão decente; e as falas são tão ruins que parecem piada. Para não dizer que “Os Guardiões” é sem graça, me peguei rindo várias vezes de cenas que praticamente pedem para a audiência rir delas. É pouco, mas é o que separa este de outros longas deprimentes em sua ruindade, como “A Múmia“.
Quanto menos se usar o cérebro em “Os Guardiões”, melhor. Levar a sério falas toscas que mais parecem redublagens satíricas significa baixar o nível a ponto de qualquer conjunto de palavras ser considerado decente. O mesmo vale para a ação: presta apenas nos poucos momentos em que a criatividade ou orçamento dão as caras. O resto lembra muito aquelas produção ridiculamente exageradas — e aparentemente, intragáveis de propósito — vistas em Bollywood. Vale a pena para matar a curiosidade de ver um Homem-Urso dando porrada e muito pouco além disso.