Provavelmente o filme do Godzilla mais conhecido pelas novas gerações, esta obra foi a quarta produção americana da franquia e a primeira completamente original. Supostamente o primeiro de uma trilogia, os planos para os outros dois acabaram cancelados após recepção negativa da crítica e dos fãs, assim como falta de entusiasmo por parte do público em geral. Apesar disso, o longa-metragem foi um sucesso de bilheteria, rendendo quase três vezes seu orçamento.
Divergindo fortemente em diversos aspectos da franquia japonesa, este filme exala controvérsia e blasfêmia. O monstro tem seu design completamente modificado, indo de um réptil bípede com postura ereta a um animal meio iguana com postura paralela ao chão. O design foi um dos principais aspectos que contribuiu para a má recepção do novo longa-metragem, sendo tão mal aceito que o termo GINO (Godzilla In Name Only) foi criado para distinguir os monstros. Definitivamente uma reimaginação infeliz frente ao design característico do personagem e, de longe, o elemento que menos necessitava mudança. Anos depois, a Toho, estúdio responsável pela série, renomeou o monstro como Zilla e até chegou a colocá-lo em “Godzilla: Final Wars“.
Um dia esta obra foi aclamada por seus efeitos especiais de última geração. Hoje em dia, nem isso pode ser usado como desculpa para elogios por conta do envelhecimento ruim dos visuais. Os efeitos especiais sofreram muito com o tempo. mostrando-se bem feios perto de obras como “Terminator 2: Judgement Day”, lançado incríveis sete anos antes. Com aparência aceitável em alguns momentos e parecendo algo de baixo orçamento em outros, o CGI resistiu pessimamente ao teste do tempo; sem dúvida podendo ter usado um tratamento George Lucas em seus relançamentos.
Por pior que essas falhas sejam, elas são os menores problemas de “Godzilla” ,com destaque especial a atuação risível do elenco. Grande parte da tonalidade das interpretações puxa para o lado cômico, mas incrivelmente todas os diálogos e cenas com um mínimo de humor conseguem falhar miseravelmente em ser ao menos engraçadinhas. Os diálogos com de tom supostamente bem humorado acabam sempre se mostrando completamente anti-climáticos. Até mesmo as piadas providas de um mínimo de graça falham por aparecerem nas horas erradas. O protagonista humano, interpretado por Matthew Broderick, em vários momentos parece perdido, indecido entre uma postura descontraída ou algo mais sério. Já Jean Reno interpreta um personagem francês completamente clichê, que adota estereótipos americanos na tentativa de ser um agente secreto mais convincente. Sim, a idéia do personagem de Reno consegue igualar qualquer pré-julgamento em termos de ser uma completa porcaria.
Uma pessoa poderia traçar uma comparação entre “Godzilla” e franquia Transformers, argumentando que ambas se sustentam exclusivamente em efeitos especiais e ação. Até aí tudo bem, a diferença é que ao menos na série Transformers existem cenas de ação satisfatórias para compensar outras falhas. Por conta do roteiro, grande parte das cenas de ação são pouco empolgantes e muitas nem fazem sentido, entrando em desacordo com suas próprias regras. Em uns momentos, o monstro pode abrir buracos em prédios e cavar buracos no chão com facilidade, já em outros ele não consegue forçar passagem em paredes de concreto. A indecisão dos roteiristas aparece de novo quando não retratam o monstro como vilão destruidor de cidades, nem como vítima da natureza também. Mudam o retrato e habilidades da besta cena após cena e voltam atrás pouco tempo depois. Isso sem contar o uso desnecessário de explosões — efeito com potencial desde que seu uso seja plausível — usadas aqui ao bel deleite do diretor. Há também os inúmeros clichês que, assim como as explosões, podem ser bons se forem bem aplicados, mas esse não é o caso. Em geral o que estraga muito da ação vista aqui é a obviedade de absolutamente tudo. É difícil ver alguma sequência que não tenha seu desfecho previsto com antecedência ou uma dezena de explosões colocadas para tentar tirar o foco da besteira sendo feita.
Sendo uma das falhas mais graves, o roteiro acaba estragando fortemente quase todo o potencial do filme. Quem sabe o design controverso não fosse relevado se o trabalho fosse de qualidade, com dois outros filmes de brinde para fechar uma trilogia. Potencial existia, como foi provado pela muito melhor avaliada série animada, lançada após o filme. Cenas absurdas não estão em falta aqui, como seis helicópteros voando acima do outro por um corredor estreito de prédios e compondo o repertório nada extraordinário deste desastre cinematográfico. Pior que isso são apenas as referências, ou melhor dizendo, absolutas cópias de cenas de “Jurassic Park“; reflexos da falta de criatividade e de qualidade do roteiro. A trama chega a ser tão absurda em alguns momentos que ora o monstro detona prédios e derruba helicópteros com a maior facilidade, ora ele possui muita dificuldade para enfrentar seu pior inimigo: um táxi amarelinho de Nova York. Certamente há um mar de possibilidades que poderiam melhorar cenas falhas como essa, pois criatividade e inspiração não faltam na franquia original.
Agora, um dos aspectos que realmente não posso abrir a boca para reclamar é a trilha sonora de David Arnold. Em diversas ocasiões a música é o que basicamente sustenta algumas cenas, que sem trilha seriam ainda piores que são. Por exemplo, as cenas de ação não são totalmente desprovidas de empolgação por conta de sua música, que tem um aspecto meio clássico em cima dela. Se David Arnold tivesse voltado no “Godzilla” de 2014 com uma trilha no estilo, tenho certeza que apenas melhorias seriam notadas nas já ótimas sequências de ação. Mas, afinal de contas, parece que querem realmente esquecer que “Godzilla 1998” existiu um dia. Recomendo apenas para os que querem ver um filme ruim com potencial desperdiçado. Ou para quem estiver fazendo uma maratona da franquia, como eu.