Com “Jurassic World” quebrando recordes de bilheteria e mostrando-se como uma agradável surpresa nesta temporada de blockbusters, uma revisitada ao original de Spielberg soou como uma idéia formidável. A princípio lembrava deste longa como um clássico de infância, daqueles que a lembrança é boa e que todos elogiam; porém com ele vinha um medo de não gostar tanto após muitos anos, por um gosto mais sofisticado ter se instalado ou pela obra ter envelhecido mal. Uma simples relembrança não é o bastante para definir a experiência que é ver este filme após tantos anos, porque além de um longa-metragem melhor que o esperado, ele guarda muitas surpresas positivas para quem o manteve numa memória mais distante.
Precisando de aprovação para seu mais novo projeto, John Hammond (Richard Attenborough), um empreendedor visionário, convence um casal de pesquisadores a passar um final de semana em sua ilha no Caribe. Mas o que era para ser apenas uma visita amigável a seu parque de dinossauros, acaba virando em uma luta pela sobrevivência quando um dos funcionários causa um blecaute na segurança do parque. Cabe ao grupo de sobreviventes fazer o possível para escapar da ilha, que além de ter sua estrutura comprometida conta com diversos dinossauros no encalce do grupo.
Em uma época onde filmes sobre dinossauros estão longe de ser novidade, e quando super-heróis e robôs gigantes são tão comuns, é difícil achar o assunto tão extraordinário quanto algumas décadas atrás. No entanto, “Jurassic World“, a mais nova entrada na franquia, mostrou que o interesse pelo assunto está tão em alta quanto antigamente, apesar de sua qualidade não se igualar. Assim pode-se esperar que, mesmo que o “Jurassic Park” original seja de fato melhor que suas continuações, muito de seu material não seja tão impactante quanto foi em seu tempo, ainda mais quando as mecânicas dramáticas e técnicas de Spielberg foram tão reproduzidas nos anos posteriores. Com a facilidade de se fazer cinema hoje em dia e com a sede de alguns cineastas de pegar carona no sucesso de bons filmes, ver um Tiranossauro Rex supostamente não teria a mesma graça como se fosse apresentado ineditamente.
É neste ponto que o maior dos sucessos deste filme está inserido, pois mesmo tendo visto o longa anteriormente e lembrando coisa ou outra, tudo pareceu ter um certo valor além de um simples filme bom. Não foi a surpresa de ver eventos como se fossem a primeira vez que proporcionou este sentimento, pois o que realmente impressiona é que mesmo através de um olhar mais crítico a competência está ali para ser apreciada. Na cadeira do responsável por proporcionar entretenimento com uma invejável perícia está Steven Spielberg, possivelmente em sua melhor forma. Filmes antigos que contém clichês antes de serem considerados clichês são comuns, e não é incomum que um desconto seja dado a tais obras por sua originalidade; mas aos que esperavam que este fosse outro exemplo deste caso comum, sinto dizer que as mecânicas empregadas pelo diretor se sustentam tão bem como sempre. Por manusear proficientemente sequências de suspense, terror, ação e até mesmo drama, esta obra supera o nível de ser apenas um bom filme de monstros estrelando dinossauros, chegando a um patamar técnico e de qualidade em si que nenhum “Godzilla” alcançou.
Desde os momentos iniciais de filme quando John Hammond introduz os pesquisadores ao parque, local conhecido por virtualmente qualquer pessoa que teve contato com cinema, há um certo cuidado com a maneira como tudo é apresentado. Todos sabem o que está prestes a acontecer e o que é aquele lugar sendo mostrado, e mesmo assim dá para se sentir triste com facilidade pelo destino do parque. Um filme projetado para ser um veículo de entretenimento bruto evocar emoções dessa forma é de certa forma atípico, pois às vezes nem filmes apropriadamente dramáticos chegam a ser tão fortes. O mesmo cuidado é tomado com as sequências caóticas propriamente ditas, aquelas de caráter mais comum a filmes de ação e aventura, normalmente com dinossauros como protagonistas. Posicionamentos de câmera e uma administração soberba de pista e recompensa — não mostrar muito do que se quer omitir na hora errada —, são duas ferramentas que praticamente resumem bem como esta obra é executada tão solidamente. Sabe-se que existem dinossauros, mas nem por isso temos um Tiranossauro tocando o terror com 5 minutos de filme; saber dosar o que mostrar e quando mostrar cria um clima de suspense inigualável, coisa que nem sempre é atingida por filmes no mesmo molde.
Outros aspectos que sobreviveram até melhor que os personagens do filme só fazem deste longa-metragem uma jóia, tal como é o caso dos efeitos especiais e da trilha sonora. Acredito que mais que se sustentar bem ao longo do apogeu da computação gráfica, os efeitos especiais usados mostram que efeitos práticos são sempre bem vindos. Isso sem contar o uso da CGI em si, que não está nem um pouco ausente aqui, mas por ser utilizada com consciência não prejudica o filme e nem a si própria, mesmo após 22 anos. Coisas menores como a qualidade das imagens e coisas maiores como a execução do filme em si são o que fazem “Jurassic Park” valer tanto a pena, uma experiência inesquecível para veteranos e espectadores de primeira viagem.