Recentemente, a rede Cinemark passou a exibir filmes um tanto diferentes de sua programação comum, obras antigas voltam às telonas depois de décadas de seu lançamento original. Clássicos como “Taxi Driver”, de Martin Scorsese, e “A Clockwork Orange”, de Stanley Kubrick, estão nessa programação especial. Todo o esplendor presente nas obras somados à oportunidade de assisti-los no cinema garantem uma experiência única e excitante, abrindo novas oportunidades para o público jovem conhecer os clássicos. Entre eles estava “Saturday Night Fever”, famoso até hoje por sua característica trilha sonora com músicas dos “Bee Gees”.
Um dos filmes de maior sucesso financeiro da década de 70, junto com “Star Wars” e “Tubarão”, este longa também foi um marco na carreira de John Travolta e na vida de muitos espectadores. Sendo até hoje um ícone dos filmes de música e discoteca, esta obra mostra-se popular até hoje quando expressões como “andar como John Travolta” são conhecidas por muita gente. Para representar o estilo de vida disco dos anos 70, o espectador encontra à sua disposição penteados extravagantes, discotecas lotadas, calças boca de sino e todo o mais que caracterizou a década como a conhecemos hoje.
O filme conta a história de Tony Manero, um jovem sem muitas perspectivas para o futuro e desapontado com sua situação presente. Enquanto a vida cotidiana do personagem não é das mais felizes — com uma família que não lhe dá suporte, amigos despreocupados com a vida e seu emprego precário — sua vida nas discotecas do Brooklyn é um absoluto sucesso. Conhecido por todos como em exímio dançarino, a satisfação da vida de Tony é encontrada toda noite nas pistas de dança.
O filme apresenta avida de Manero como um dos principais focos da história e representa com sucesso suas emoções conflitantes, que também envolvem os atritos constantes de seu dia-a-dia. Mudando de rei do alto astral para um joão ninguém com frequência, os impactos desse estilo de vida fazem sua marca na vida de Tony. Apesar desse aspecto positivo, sua relação com outros personagens não é executada tão solidamente. A ligação do protagonista com Stephanie, sua companheira de dança, é interessante, mas se mostra um tanto inconsistente em várias ocasiões. O mesmo pode ser dito de sua relação com seus amigos. Diversas atividades entre o protagonista e os citados colegas são mostradas, tentando apresentar um elo de amizade entre eles. Apesar de tal tentativa, no final das contas continua difícil para o espectador se importar com qualquer um deles, ainda mais quando nem eles parecem se importar uns com os outros. Tendo em vista que um dos eventos centrais da trama gira em torno de um desses coadjuvantes, fica complicado não notar o abalo causado pelo mal desenvolvimento do mesmo.
Nos momentos em que o protagonista estoura nas cenas de dança o filme brilha, assim como nas cenas de conflito entre sua vida plebéia e extravagante. Já quando tenta aprofundar sua narrativa esse mesmo brilho deixa de aparecer. As cenas em que se tenta representar aspectos mais profundos dos personagens acabam sendo literalmente decepcionantes, uma vez que esse desenvolvimento aparece de forma repentina e anti climática. Não há uma construção em cima destes eventos críticos. O pouco que existe é mal executado e pode ser facilmente descartado. O mesmo pode ser dito das consequências dos atos dos personagens, apresentados de maneira quase nula e igualmente decepcionante. Quando as pessoas afetadas por tais atos se mostram emocionalmente inabaladas, como se o ato em si tivesse menos importância quanto era pretendido, não há como dar a relevância que a trama parece pedir.
Por outro lado, “Saturday Night Fever” brilha nos aspectos musical e visual, usando canções e batidas de extremo bom gosto aliadas aos visuais excêntricos da época. Não há limites na extravagância das impressionantes cenas na discoteca, cheias de cor e de vida. Pelo menos nessa parte toda a fama que esse longa tem se mostrou verdadeira, especialmente nas elaboradas coreografias de dança que são no mínimo visualmente espetaculares. Mesmo não acertando em tudo que se propõe, “Saturday Night Fever” é um filme empolgante e divertido, que vai fazer o espectador no mínimo sair andando como John Travolta por um tempo.