De Nicolas Winding Refn, diretor de trabalhos como “Drive” e “Bronson“, “Valhalla Rising” é uma obra que aborda temas tipicamente nórdicos; com direito a vikings, religião, mitologia, crenças fortes e visuais fantásticos. Apesar do conjunto da obra parecer inicialmente interessante, de alguma forma conseguem pegar todas essa idéias atraentes e entregar uma das experiências mais entendiantes dos últimos anos.
Em 1000 D.C., a onda do Cristianismo estava em plena expansão e ameaçava a existência de bárbaros e tribos pagãs nativas das montanhas do Norte da Europa. No meio deste contexto um guerreiro mudo (Mads Mikkelsen) é o objeto central da trama, que o acompanha enquanto ele viaja por ambientes extensos, solitários e maravilhosos. Após fugir das pessoas que o mantinham escravizado, o protagonista e um garoto esfarrapado seguem jornada sem rumo definido pelo vale. Em seu caminho quase sem rumo a dupla encontra um bando de orgulhosos guerreiros cristãos, que buscam a terra santa e encontram algo que não estava bem em seus planos.
Adotando um estilo similar ao de “2001: A Space Odyssey”, o filme abusa de cenas longas, poucos cortes e ainda menos diálogos. Porém, diferente do primeiro, este não executa o mesmo conceito com tanto sucesso. Sequências desnecessariamente longas afastam o espectador da história, adicionando pouco à trama, aos personagens e menos ainda ao ritmo do filme em geral. Além de longas, as cenas se apresentam frequentemente desconexas umas com as outras e com a trama em geral. Ocasionalmente intercaladas com cenas meio flashback e meio alucinação, tais sequências em conjunto formam uma bagunça sem sentido, cujo único propósito que não o de prejudicar este longa ainda mais. Tudo bem que muitas mostram apenas longas caminhadas, mas parece que Refn se empolgou tanto com as paisagens que a trama foi deixada de lado.
Por outro lado, a fotografia exibe cenários graciosos com frequência, mostrando-os, no mínimo, como um atrativos para os olhos. Montanhas cheias de grama, ventos fortes, neblinas densas, matas fechadas, e até terrenos fluviais são apenas uma amostra do festim visual apresentado. Ao menos este constitui um ponto positivo aqui, fazendo deste filme ao menos um deleite sensorial. No entanto, isso é um dos poucos aspectos que se ressaltam no filme, uma vez que a trama não é muito sólida e nem pode contar com um ritmo sólido. Este mostra-se excessivamente parado em várias ocasiões, ostentando falta de diálogos, pouco movimento na tela e nenhuma música. Receita certa para uma experiência cansativa.
Além dos visuais, a atuação de Mads Mikkelsen é uma das poucas coisas de destaque aqui. Mesmo sem proferir uma única palavra o filme todo, é notável como o ator sabe mostrar presença nas cenas em que está presente. Com meros olhares profundos e movimentos suaves com a cabeça o ator interage com os personagens ao seu redor, sem ter que usar palavras para demonstrar seu poder. Infelizmente, nem isso salva “Valhalla Rising” de si mesmo. Quando os créditos finalmente rolam permanece uma sensação de que a trama era mais do que foi mostrado. Sem dúvida alguma, uma pesquisa rápida mostra que este realmente é o caso. Além do título sugestivo e de uma característica física do protagonista, o filme dá pouco material para o espectador ligar os pontos. Não que esfregar os fatos na cara de quem assiste seja a solução, mas este longa faz o extremo contrário. Apenas alguns minutos de fala seriam o bastante, ainda mais quando as sequências vazias dão tantas deixas.
“Valhalla Rising” é um filme que oferece apenas uma meia satisfação. Apesar de suas falhas, ainda há um pouco de conteúdo que evite o desastre completo. Definitivamente havia potencial a ser explorado, mas as oportunidades de fazer deste longa-metragem algo maior são desperdiçadas. Apenas um pouco de aprofundamento na mitologia nórdica, que inspirou esse filme, e algo palpável seria notado de cara; adicione uma conexão entre os eventos apresentados e este seria, sem dúvida, um trabalho mais envolvente e menos cansativo.