Dado o histórico da maioria das séries de Terror, não é de se surpreender que alguém tenha suas suspeitas ou preconceitos tratando de “The Texas Chainsaw Massacre 2”. No espaço de tempo entre 1974 e 1986, “Sexta-Feira 13” nasceu e já estava no sexto filme, “A Hora do Pesadelo” também surgiu e já estava se encaminhando para o terceiro capítulo, enquanto “Halloween” se encontrava semi enterrado após a terceira e estranha parte. Já havia um precedente estabelecido, e quando se considera que “The Texas Chainsaw Massacre” ajudou a criar um subgênero inteiro e nunca voltou, é estranho ver uma continuação subitamente aparecendo num momento de alta em que todo produtor queria aproveitar a onda e fazer algum dinheiro. Por que não um nome já estabelecido que ainda não foi explorado?
A idéia de produzir a continuação já estava acontecendo há mais ou menos 5 anos, desde 1981, quando o original foi relançado nos cinemas para um resultado financeiramente muito positivo. Após uma série de atrasos e imprevistos, o desenvolvimento finalmente começou a caminhar de fato no início de 1986, com filmagens começando em Maio a fim de o filme ser lançado no final de Agosto, 39 anos e uma semana antes dessa postagem. Mas o que esperar de “The Texas Chainsaw Massacre 2”? Poderia ser tanto uma continuação sem alma, com apenas o lucro em mente e oportunismo de aproveitar a viabilidade comercial do gênero, pois se não houve motivo em 12 anos para uma continuação, então por que agora? Desespero? Bom, ao menos Tobe Hooper havia retornado para dirigir mais uma vez e, curiosamente, foi a única vez que retornou para alguma continuação. Um bom sinal, talvez. Mais do que isso, havia uma mensagem bem clara em todo o material promocional envolvido: não era apenas uma refação do original.

A história é ambientada 13 anos após os eventos do original, quando uma van de adolescentes se encontra presa no meio do Texas e cruza o caminho de uma família de canibais homicidas que massacram todos exceto por uma sobrevivente, Sally Hardesty. Apavorada e em choque, a garota não consegue relatar sua história direito e a polícia não consegue encontrar as vítimas, os assassinos ou a casa em sua investigação. O massacre oficialmente nunca aconteceu. Mas outras mortes continuaram a acontecer ao longo dos anos, outros ataques com serra elétrica sem culpados. Mas há alguém que ainda não esqueceu o passado: o Tenente Boude “Lefty” Enright (Dennis Hopper), tio de Sally e ávido perseguidor de qualquer pista sobre o caso.
Até então parece uma continuação relativamente objetiva. As histórias se conectam, é uma continuação mais ou menos direta dos eventos passados com um protagonista ligado diretamente à sobrevivente do original e o mesmo elenco de maníacos cometendo suas atrocidades. Mas tudo muda tão logo que se presta atenção ao pôster de “The Texas Chainsaw Massacre 2”: é uma recriação do clássico pôster the “The Breakfast Club”, que na época tinha pouco mais de um ano. E não foi de graça ou um tipo de easter egg, era um cartão de visita demonstrando o exato tipo de tom a se esperar da obra. Coincidentemente, a onda de auto-sátira do slasher estava acontecendo naquele momento do tempo: “Friday the 13th Part VI: Jason Lives” esteve em produção ao mesmo tempo e havia sido lançado três semanas antes, “April Fool’s Day” saiu mais cedo em 1986 e “Return of the Living Dead” já havia aberto terreno em 1985.
E é aí que as águas se dividem: há quem goste da nova abordagem e há quem ache uma manobra desesperada de um artista que ri de si mesmo e chama de inventividade. Mais ou menos como Orson Welles acidamente descreveu Woody Allen como um homem que se apresenta no seu pior para arrancar risadas e se livrar dos complexos no processo, é o gênero pegando o que há de mais clichê, mais óbvio e mais absurdo e escancarando isso. Quanto a “The Texas Chainsaw Massacre 2”, é uma demonstração elegante e bem realizada deste mesmo conceito. Ou, melhor dizendo, não muito elegante, mas absolutamente estapafúrdia e exagerada, violentamente espetacular em um estilo tanto diferente do que se viu em 1974 e tendo em mente o conceito de olhar para o passado através de uma ótica desprovida de nostalgia. Trata-se de uma postura irreverente que não tem problemas em usar as mesmas táticas para demonstrar como o ridículo pode servir de argumento para uma nova mensagem em um novo tempo. Da política caracterizada pelo escândalo e de uma natureza de pessimismo generalizado sobre a nação, a passagem é feita para uma era de exageros, de orgulho renovado, de esperança e de demagogia empoderante da era Reagan.

Os ingredientes clássicos estão todos ali em termos de estrutura e até beats principais de enredo, porém as partes que realmente chamam a atenção em “The Texas Chainsaw Massacre 2” são as novidades, os várias e pequenas adições que tomam a frente diante de outros pontos apenas reimaginados. Para além de uma cena de abertura que até ultrapassa o exagero e, de certa forma, não é representativa do melhor que é oferecido aqui, já no começo há uma cena aparentemente inofensiva, que talvez servisse para contextualização num filme comum. Eis que uma equipe de radialistas é enviada para cobrir um evento local, uma competição de culinária para ver quem faz o melhor chili com carne. E o vencedor? Ninguém menos que um dos membros da infame família, que tem um olho e tanto para carne de qualidade. Ah sim, e agora eles têm um sobrenome: Sawyer. Entenderam? Hein? A família que comete assassinatos com uma chainsaw se chama Sawyer. Bom, é bobo, mas como todo bobo que é feito com o coração e com bom tom de comédia, há seu valor aqui.
E as coisas só escalam mais e mais a partir desse ponto. De tiradas sutis até sequências complexas que seriam mais adequadas para um filme de aventura ou ação, há uma intencionalidade para cada um dos fatores exagerados que torna a nova abordagem aceitável e divertida à seu modo. Não é como se Tobe Hooper estivesse olhando para o original e dizendo que ele é ridículo ou antiquado, como se estivesse satirizando os defeitos de seu próprio trabalho, ele apresenta um revisionismo que mostra que os mesmos elementos podem exacerbar, por exemplo, como o tratamento da sexualidade pelo subgênero nos últimos anos é pragmaticamente moralista, religioso e conservador ou, no mínimo, estranho. Se a sexualização prepóstera de um objeto fálico que é fácil de imaginar qual é funciona, é só assistindo para ter certeza. Para mim, “The Texas Chainsaw Massacre 2” demonstra a competência que nenhuma outra continuação conseguiu no futuro.

