Essa é uma das vezes em que não sei nem por onde começar o texto, pois o filme é tão pouco cativante e me desperta tão poucos sentimentos que elaborar um texto sobre é como falar de algo tão pedestre e comum que não muito a ser dito. Se “Leatherface: Texas Chainsaw Massacre III” fosse um objeto, ele provavelmente seria uma cadeira de plástico branca, exceto que até essa tem sua utilidade e pode ser mais ou menos marcante se associada ao contexto de um churrasco entre pessoas queridas. Mas até aí seria uma romantização um tanto forçada, pois ninguém pensa na cadeira de plástico nunca e se ela é sua única opção de mobília para se sentar, automaticamente deixa de ser um objeto tão querido conforme passa a ser uma versão menos elegante, menos confortável, mas que cumpre sua função como qualquer outra cadeira que se preze. E se essa analogia soa ruim, eis o nível de desespero.
A história novamente se passa no Texas, quando um casal dirigindo pelo interior passa por um posto de gasolina para abastecer e encontra dois tipos estranhos. Um deles é Tex (Viggo Mortensen), que assedia o casal e ameaça agredi-los até que o dono do posto se mete e uma briga desponta, com o casal escapando com pressa pela estrada de chão até, obviamente, perder-se em seu caminho. No meio do interior, à noite, sem conhecer nada nos arredores, eles logo descobrem quão perigoso esse erro será.

Um momento: essa não é exatamente a premissa do original? Pois é. Neste ponto, especialmente quando se leva em consideração o título “Leatherface: Texas Chainsaw Massacre III”, é de se perguntar como é possível continuar a história depois que Leatherface é empalado e mutilado com uma motosserra no filme anterior, depois pego numa explosão de granada junto com outras pessoas. Bom, apesar de ter o “III” no nome, essa é a primeira vez que a cronologia é reiniciada porque sim. A New Line Cinema, tendo recém comprado os direitos, queria recomeçar uma série e continuá-la até o ponto que parasse de fazer dinheiro, o que não deu muito certo depois do fracasso de bilheteria e, não surpreendentemente, de crítica dessa empreitada.
Ao menos outras séries de terror tentaram manter algum tipo de história contínua, mesmo chegando a níveis absurdos como ter um protagonista que não morre nunca e sempre volta por conta de algum tipo de explicação peculiar. E nem se pode culpar os produtores por mal planejamento porque, bem, não houve um planejamento e a propriedade intelectual trocou de mãos. Tobe Hooper se assegurou de fechar a porta em seu retorno inusitado à série e a única alternativa se tornou recomeçar, de certa forma, considerando apenas os eventos do original como um plano de fundo de base. Mesmo assim, a solução de “Leatherface: Texas Chainsaw Massacre III”, apesar de talvez ser a única possível, soa preguiçosa e barata como a execução de todas as ideias apresentadas. E isso é dizer muito, já que estas não são nada mais do que as mais tradicionais vistas tantas vezes durante a década anterior. Às vezes voltar para o básico funciona, mas quando o básico é apenas o básico sem nenhum atrativo a estratégia não funciona por si.
Tudo sobre “Leatherface: Texas Chainsaw Massacre III” tem um ar dominante: genérico. A premissa é a mesma de sempre e apresenta os beats sem nenhum acréscimo interessante, exceto por novos integrantes da família que falham em ser tão cativantes quanto Drayton e Chop Top, por exemplo. Há uma criancinha pequena e uma matriarca dos Sawyer como novas faces dignas de nota, ainda que negativa e de contribuição risível. Aliás, há uma exceção importante a ser encontrada no personagem de Viggo Mortensen, um tipo de substituto para Chop Top que é também o único personagem com uma performance digna de nota. Enquanto o resto do elenco, incluindo membros da família, e a história falham em surpreender de alguma forma, Mortensen traz exatamente o tipo de loucura descomedida que só um bom ator consegue transmitir sem perder a linha e cair no ridículo. De resto, o visual de Leatherface é decente o bastante, mesmo que force um pouco o visual grotesco e nojento que também pende para um terror mais batido e já visto em outras séries.

Quanto à sua personalidade, erra-se novamente em transformá-lo de um bobão quase ingênuo com capacidade de agressão para uma versão com esses dois polos potencializados, resultando em um bobão ainda maior que usa um tipo de brinquedo de criança para se comunicar e demonstrar seu intelecto invejável ao mesmo tempo que é um monstro brutal e cruel. É seguindo essa linha de raciocínio de revisar com um tapa no visual os elementos batidos que “Leatherface: Texas Chainsaw Massacre III” e chamar de algo novo, prometendo mortes fantásticas e uma versão mais slasher direta ao ponto que os dois anteriores, filmes que tinham algo mais a dizer e uma multiplicidade de nuances de profundidade palpável. O que se vê aqui, por outro lado, não é nada disso, nem mesmo um entretenimento básico feito de forma honesta. O que entregam é uma serra elétrica dourada e completamente cromada como um símbolo quase central da obra; uma contribuição criativa de natureza tão pobre que no fim se percebe que a única coisa que os envolvidos aqui extraíram dos dois primeiros foi a motosserra. A cereja do bolo é a serra ter uma mensagem gravada “The Saw is Family”, uma bela representação de como esse hiperfoco mal direcionado simboliza a filosofia criativamente pobre e abraça uma tremenda cafonice como algo importante.
Para não dizer que é a coisa mais estúpida de todas, a mesma serra aparece no trailer e funciona pelo contexto ser absurdo por natureza. O primeiro teaser feito para promover “Leatherface: Texas Chainsaw Massacre III” é uma sátira descarada de “Excalibur”, com a motosserra saindo da água e voando pelo ar até cair nas mãos de Leatherface e ser atingida por um raio. Nesse contexto, há sentido, já num filme que tenta se ater a um tom mais neutro em vez de ser mais fluído como os outros, é péssimo. Ver esse terceiro filme é como ver uma versão muito crua, pobre e emburrecida de algo que até então havia entregado tanto.

