Muito foi dito sobre esse filme, sim. Logo após seu lançamento e até nas prévias dos críticos ele era apontado como um dos piores da leva recente e até de todo o Universo Marvel. Sendo também a estréia de Fase Cinco, havia uma quantidade considerável de expectativa sobre o que a terceira aventura do Homem-Formiga traria de novo, já que havia também uma promessa de explorar o Reino Quântico, até então um tipo de mistério recorrente nas histórias do personagem. E então, o que teria dado de tão errado para que a recepção de “Ant-Man and the Wasp: Quantumania” tenha sido apenas 47% positiva no Rotten Tomatoes?
Os experimentos de Cassie Lang (Kathryn Newton) trazem os maiores temores de Hank Pym (Michael Douglas), Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer) de volta à tona: o Mundo Quântico, o mesmo lugar que sempre aparece nas frases de alerta desde que Janet ficou presa lá por anos. O experimento dá errado e todos são puxados para o extraordinário, perigoso e estranho mundo em que a menor das coisas abriga um universo inteiro. Separados e perdidos, o grupo precisa arranjar uma forma de retornar, mas nada é tão simples quando um uma figura misteriosa chamada Kang (Jonathan Majors) vê neles uma chance de finalmente escapar.
As primeiras reações a “Quantumania” foram… bastante desencorajadoras. Depois de uma sequência de filmes que não empolgou muito a audiência no fim da Fase Quatro, mais especificamente “Doctor Strange in the Multiverse of Madness”, “Thor: Love and Thunder” e “Black Panther: Wakanda Forever”. Foram três que não empolgaram muito, no mínimo, e deixaram bastante gente incomodada, na pior das hipóteses. Alguns chegaram a ser chamados de decepções e até de companhia para os piores de todo o Universo Cinematográfico Marvel. Com o início da Fase 5, “Quantumania” não fez muito nesse quesito e talvez até piorou, já que foi um alvo mais focado e detentor de uma recepção mais unânime sobre quão decepcionante ele é, sendo alvo de memes e críticas pesadas sobre a parte visual.
Foi um alvo fácil. Os outros ainda tiveram um pouco de reação mista para amenizar, ao passo que esse foi, talvez, um bode expiatório de uma audiência já um pouco cansada da mesmice e esperando algo de um nível mais alto, algo que já não se via desde “Spider-Man: No Way Home“. No entanto, “Quantumania” não é um tão ruim quanto pode parecer. Dentre alguns erros e algumas decisões estéticas que com certeza seriam criticados de qualquer forma, ele está mais para um padrão Marvel de fórmula pronta, previsível e sem muito impacto, do que algo que se destaca positiva ou negativamente. Por isso quando finalmente assisti não entendi direito o motivo para tanto ódio enquanto há tantas outras obras que caem na mesma categoria de certa regularidade sem chegar a alcançar um tipo de impressão forte: é decente e apenas isso.
Sobre a parte visual, é o que pode se esperar da Marvel ultimamente: algumas coisas incrivelmente ruins e outras decentes como deveriam ser. O Mundo Quântico apresentou uma oportunidade enorme para uma equipe de designers de produção criarem tudo do absoluto zero, de uma arquitetura nova até raças novas, objetos nunca vistos e veículos bizarros. De certa forma, é isso que “Quantumania” entrega. Há muita coisa legal e que chama a atenção positivamente em termos de design, muito do que se poderia esperar de positivo de uma oportunidade como essa, talvez a grande maioria. Por outro lado, o desleixo em alguns pontos de computação gráfica traz de volta a mesma frustração ocasional com algumas coisas inexplicavelmente feias. Algumas são menos piores que nos memes, como o personagem MODOK que é tão feio que fica difícil apontar o que seria bonito naquele caso. De qualquer forma, não é tão ruim assim em movimento. Nada bonito também.
O que ajuda a elevar a experiência é a presença do vilão Kang. Aqui, Jonathan Majors tem muito mais espaço para atuar e desenvolver o vilão do que teve previamente em “Loki”, onde aparentou ser apenas um personagem mais ou menos moderado com algum toque de loucura. “Quantumania” mostra uma faceta completamente descentrada, desequilibrada e plenamente insano, algo diferente de Thanos e o dogma que ele estava disposto a fazer tudo para implementar. Kang é só extremamente obstinado, ambicioso e desequilibrado, tomado por emoção que atrapalha seu julgamento básico além de uma notável desorganização de pensamento. A escrita traz uma idéia de insanidade e a performance entrega, é o melhor tipo de louco.
Talvez a pior parte de “Quantumania” é também sua salvação. Ser tão regular e dentro da fórmula tanto evita que eles seja ofensivamente ruim como limita quão bom ele poderia ter sido. Boa parte da história trata do modelo da aventura e fuga de um lugar inóspito e desconhecido, algo já bem familiar, ao passo que alguns outros trechos forçam algo que se tornou clichê em histórias de herói: há algum tipo de batalha em grande escala, forçando às vezes meia dúzia de personagens a enfrentar um exército. Sem contar outro clichê de mostrar a derrota certa em um momento e a vitória instantânea pouco depois. Com um pouco mais de polimento e mais atenção aos detalhes, o filme poderia ter evitado fazer o temido Mundo Quântico parecer um lugar bem menos perigoso do que sua fama.