Já estava na hora de dar atenção para esse grupo de super-heróis até então negligenciados pelo Universo Cinematográfico Marvel. Esse ano finalmente traz os Eternos para os cinemas, em resposta aos vários pedidos do público… ou não. A história é um pouco diferente nesse caso, com a Marvel surpreendendo ambos os fãs e o público médio ao anunciar um filme sobre um grupo não muito popular. Pode-se dizer que o mesmo aconteceu com os Guardiões da Galáxia, embora esse ainda seja um pouco mais conhecido que o grupo de seres imortais do cosmos do Universo Marvel. “Eternals” segue a tendência da Fase 4 do MCU de introduzir heróis não tão populares em seu novo arco narrativo.
Criados pelos Celestiais, entidades tão antigas quanto o universo conhecido, os Eternos existem para garantir a sobrevivência das espécies dos planetas em que ocupam. Sua missão primária inicial era de impedir criaturas chamadas Deviantes de dominarem as sociedades primitivas, mas uma vez que essa missão é cumprida um grupo da Terra fica sem norte. Mais de 7000 anos passam enquanto os Eternos vivem sob disfarce em meio aos humanos, sempre ajudando a moldar civilizações e proteger seu desenvolvimento, mas nunca interferindo demais no desenrolar da história. Tudo muda quando novos Deviantes surgem depois que Thanos acaba com metade da vida na galáxia e os Vingadores eventualmente restauram a normalidade.
Vendo por essa foto e pelo título, é possível deduzir que “Eternals” é um filme de equipe — e alguns ainda foram cortados da imagem. São dez integrantes no total, dez Eternos que compõem a equipe de entidades cósmicas em função da manutenção celestial da galáxia e das sociedades. É um número ainda maior que os seis Vingadores originais ou os cinco Guardiões da Galáxia apresentados originalmente, sendo comparável com “Captain America: Civil War” e os dez heróis em destaque. Com a duração de 2h37, a maior depois de “Avengers: Endgame“, é de se pensar que “Eternals” seria de muita ambição e diferente de alguma forma por já introduzir uma leva inteira de personagens novos de uma vez. Será outra aposta acertada como “Guardians of the Galaxy” ou uma das poucas vezes em que a Marvel erra a mão nas suas escolhas?
Antes mesmo do lançamento, as notícias deram o gostinho do que poderia estar por vir com manchetes anunciando que é a obra do MCU com a menor porcentagem de aprovação no Rotten Tomatoes, abaixo ainda de jóias como “Thor: The Dark World” e “Iron Man 3“. Poder-se-ia dizer que o fracasso era esperado vindo de uma equipe de heróis desconhecidos que, na verdade, não são exatamente heróis nem vilões ou algo de fácil definição, seriam apenas coadjuvantes cósmicos que ajudaram a humanidade a se desenvolver. Só que isso não é obstáculo para nada, pois até um grupos bastante popular como a Liga da Justiça deixou a desejar em seu primeiro lançamento na visão de muitos espectadora. Nada predeterminou que esse seria um fracasso. Não a questão de serem personagens menores, não a essência distinta do super-herói padrão deles e não o escopo da obra.
Nada disso faz com que “Eternals” acabe não sendo o estouro de surpresa positiva que foi a equipe bizarra de Peter Quill e seus parceiros esquisitos de viagens. Ou melhor, uma versão distorcida de alguns desses fatores impacta no seu sucesso. Escopo grande é ótimo. Para um filme de herói, então, pode funcionar muito bem como os exemplos de “Avengers: Infinity War” e “Avengers: Endgame“, basta ter os recursos e uma história que justifique uma produção de grande escala. Não é surpresa que a Disney tem dinheiro infinito, então só poderia ser culpa da execução a proposta de criar uma história grandiosa cair por terra. Aliás, não completamente por terra porque o filme não é um fracasso, apenas fica abaixo da maior parte das produções do MCU.
O maior problema é ser um filme de Ação com pouca ação e um que quer contar uma grande história sem contar uma. Ao menos, a obra não faz nenhuma dessas duas coisas bem e acaba sendo frustrante nas duas. Se esse fosse um filme com ação, não exatamente de ação, e se propusesse a focar mais no desenvolvimento de enredo e de personagem, sem problema algum. Seria uma novidade no Universo Marvel e, dependendo da execução, uma fuga bem-vinda da fórmula que se aplica a quase todos os filmes. Dez personagens são introduzidos como os Eternos do título. Cada um tem um poder diferente e, em teoria, deveriam ser seres poderosos um pouco parecidos com os Lanternas Verdes, só que com um papel mais importante do que mera proteção e defesa, pois eles funcionam como guias do desenvolvimento de planetas inteiros. E nenhum é particularmente cativante. Ikaris (Richard Madden) é um Superman com apenas os poderes de vôo e laser nos olhos. Sprite (Lia McHugh) consegue criar ilusões visuais, um poder que Loki já demonstrou antes, e outro é apenas forte. Enfim, são versões mais rasas de heróis que já existem.
Até se tenta criar espaço na história para eles, mas ambos os arcos do grupo e dos indivíduos não são particularmente bons, isto é, não têm chance de se desenvolver porque são muitos personagens e um tempo finito. E esse tempo já não é dos mais curtos, tratando de um longa-metragem. Passa-se das 2 horas e meia, e a sensação que fica é de que “Eternals” é longo demais, mesmo tendo muito conteúdo possível para se abordar. O que se faz com o tempo? É uma boa pergunta. Não parece que é uma obra recheada de conteúdo, quase estourando, e sim que não se desenvolve muita coisa além da superfície. Explica-se muito quem são os Eternos, os Celestiais, os Deviantes e o que cada um faz dentro da organização cósmica, além de quem é cada Eterno e qual seu passado até chegar no dia presente em que eles se escondem na sociedade moderna. Parece que a idéia até era explorar esferas mais pessoais da figura do super-herói, porém essa proposta nunca chega a ser levada muito adiante e, no fim, acaba em um clímax genérico de ação no mesmo estilo das poucas cenas agitadas de antes.
No fim, não me surpreende muito ver que Chloé Zhao é a diretora de “Eternals” depois de assistir a “Nomadland“, já que eles sofrem de um problema parecido: o filme parece muito despreocupado com questões básicas de ritmo e cadência, aparentemente pecando na Edição e também na concisão narrativa, na condensação de conteúdo e na variedade de tipo de cena para que não exista monotonia. No fim, “Eternals” consegue ser um filme distinto no MCU por sua estética fotográfica mais aguçada, pelas cores e efeitos com uma cara menos Marvel e a direção contemplativa de Zhao. Contemplativa que às vezes se passa como lenta e estilo distinto que desperta saudade da fórmula que funcionava melhor que o experimento visto aqui. Se fosse para dar maior liberdade a um diretor, que tivessem deixado Edgar Wright fazer “Ant-Man” do seu jeito.