Já faz um bom tempo que tenho “A Place in the Sun” na mira, e que hora melhor para escrever do que a postagem número 1000 do site? Sim, finalmente o Cine Grandiose chegou nesse ponto, depois de mais de seis anos escrevendo análises de filmes bons e filmes ruins, novos e velhos e de todos os gêneros. É muita coisa. Talvez nem eu esperasse chegar tão longe quando tudo começou com textos curtos e um site modesto em 2014. 1000 postagens. E como escolher um filme digno para esse posto? Até tentei pensar no assunto, algo que eu considero muito bom ou a que queria muito assistir. Mas o quê? Deixar ao acaso é abrir as portas para acabar com algo como “Batman & Robin” e perceber só depois que já é tarde. Já que jóias como “Scarface” e “Once Upon a Time in America” já tiveram seu espaço, esse trabalho de George Stevens soou como uma escolha boa o bastante.
George Eastman (Montgomery Clift) desiste de sua vida morando com a mãe em uma missão religiosa depois de anos demais lá, decide viver por conta própria, arranjar um trabalho e tomar decisões como qualquer outra pessoa. Seu caminho eventualmente se cruza com o de um tio distante, que comanda um negócio de sucesso e pede para o sobrinho aparecer quando estivesse na cidade, oferecendo um emprego para o jovem recomeçar a vida em outro lugar. George aceita e se vê trabalhando numa fábrica com uma maioria esmagadora de funcionárias mulheres. A regra é clara: funcionários não podem se envolver. No entanto, o rapaz acaba se engraçando não com uma, mas duas garotas, e se vê preso num triângulo amoroso que logo se complica tragicamente.
Sendo um dos destaques da carreira de George Stevens como diretor e também um dos responsáveis por lançar a carreira de Elizabeth Taylor, “A Place in the Sun”, sendo também um filme muito competente, acabou por firmar sua posição como um clássico. Grande diretor, grandes estrelas, uma história baseada num livro já adaptado em 1931 e o resultado é… um filme mais ou menos nos moldes da Hollywood clássica. Uma refilmagem do mesmo material depois de 20 anos com astros modernos, uma aposta mais ou menos segura apoiada no poder de suas estrelas. Assim como muitos produtos da época, é mais uma vitória para o Sistema de Estúdio, hoje em dia questionada e reavaliada por conta de sua história dita ultrapassada diante dos padrões sociais atuais. Mas não seria o clássico uma janela para outro tempo, outra forma de pensar? Ninguém critica o seriado de época porque as mulheres têm casamento arranjado e vestem vinte e duas camadas de roupa por baixo do vestido.
Importante de fato é ser fidedigno à proposta. Se naquela época funcionava assim, não há muito o que fazer além de honrar aquilo que era aceito como convenção social naquela época. Há alguém que sinta sua sensibilidade ofendida, que ache surreal e pouco crível alguém ter os dedos decepados porque roubou um pedaço de pão? Alguém vai criticar o personagem do rei porque ele manda decapitar seus inimigos? Imagino que não. Claro, respeitando os princípios de roteiro de estrutura e de escrita de personagem, pois é assim que uma realidade distante pode ser tornada convincente, que modos de pensar diferenciados podem ser aceitos. “A Place in the Sun” não é passível de críticas no âmbito narrativo. Seu sucesso, no mínimo, garante que seja possível comprar os valores daquele tempo.
Coisas como o começo de “A Place in the Sun” eram comuns na década de 40. Pegar carona não era tanto um convite para ser estuprado e esquartejado, era razoável pensar em começar num cargo de operário, conseguir pagar as contas e subir de vida dentro da empresa. Hoje em dia é melhor pensar em pegar um ônibus, dividir uma carona por aplicativo ou bolar um plano melhor a fim de não morrer na mesma função. Não deve-se julgar mal a obra por ela mostrar a época como era. Só há uma coisa que até soa bizarra quando introduzida, uma guinada da trama em terreno soturno que, de tão pouco razoável e pesada, soa absurda e parece fora de lugar até mesmo num drama dos Anos 40, quando os limites do sentimentalismo eram mais frouxos. Aliás, mal chega a ser uma questão de drama demais e sentimentalismo acentuado, o caminho seguido é mais apropriado a um Suspense de Hitchcock, coisa que essa obra com certeza não é.
Por outro lado, “A Place in the Sun” consegue crível tornar outro tipo de situação absurda, dessa vez mais alinhado ao sentimentalismo dramático da época: as paixões hollywoodianas impossíveis. São filmes como esse que alimentam o imaginário popular de um romance inesquecível, profundo e intenso. As palavras certas são ditas no momento certo, palavras ousadas que poderiam ser mal compreendidas numa situação real, mas são comunicadas com transparências entre personagens que se entendem perfeitamente. Quem nunca pensou em dizer para a pretendente que ama ela porque eles fazem isso no cinema? Bem, os que tentaram viram quão certo isso dá quando a garota reage mal e destrói todas as chances de um relacionamento. Todavia, esta obra faz o impossível como os melhores do gênero e dá credibilidade a palavras que só poderiam existir na ficção. Vai além até, faz com que tenham todo o impacto desejado por quem as profere. A mágica acontece.
Isso, sem dúvida, se dá pelas performances do elenco principal na concepção dessa fantasia romântica. Há um motivo para Elizabeth Taylor ter se firmado como tantas coisas em “A Place in the Sun”, de símbolo sexual a atriz de talento dramático respeitável. Ela é ambas essas coisas, faz o papel de sempre da moça atraente, rica e bem de vida, cuja única preocupação é estar sempre de boa aparência, mas também faz o papel da moça que se apaixona e se envolve profundamente, entrega-se ao seu relacionamento e é convincente em sua paixão por Montgomery Clift. Já o rapaz é fantástico como sempre. Retorna sua qualidade de uma pessoa desgostosa, inquieta porque algo corrói sua alma a todo momento, algo que leva o rapaz inicialmente quieto a se fechar dentro de si como alguém incapaz de expressar sua angústia crescente mesmo se quisesse.
Se há um motivo para valorizar “A Place in the Sun” em plena década de 2020, as atuações dessas duas estrelas gigantes da Era de Ouro de Hollywood faz um caso forte. Mesmo levando em conta o lado mais forçado da trama, que pode ser visto como ousada em outro ponto de vista, o que sobra é uma experiência de alto nível sobre assuntos que, embora representados sob uma ótica antiga, não deixam de ser relevantes ou aproveitáveis como um conto de seu tempo. Os temas em questão são os mesmos encontrados hoje, só que as coisas acontecem um tanto diferente. Não é tão difícil encontrar alguém envolvido num relacionamento de que tenta sair sem ter motivo real para isso, uma reclamação ou um problema a ser apontado como culpado. Ou então uma pessoa que sente o peso de suas escolhas e se vê enterrado nos próprios problemas, fantasiando sobre saídas milagrosas para alcançar o sonho que até pouco tempo parecia inalcançável. Os exemplos estão por aí aos montes, basta um pouco de abstração para ver o que “A Place in the Sun” tenta comunicar.
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One of the best, most thrilling movie pictures ever! And queen Elizabeth and handsome Monty are simply mesmerizing!
A Place in the sun is simply one of the best movie pictures ever made! It is also a moving tribute to both queen Elizabeth and handsome Monty!