Continuando com o lado mais obscuro da longa carreira de Billy Wilder, “The Emperor Waltz” cai entre quatro outras obras mais famosas do diretor, um ponto apagado, neutro e esquecido com dois filmes melhores vindo antes, “The Lost Weekend” e “Double Indemnity“, e dois melhores depois, “A Foreign Affair” e “Sunset Boulevard“. Nem se pode dizer que é uma injustiça, pois é difícil comparar essa produção comercial pouco inspirada com o que há ao seu redor, deixando a situação ainda pior para um filme que, no fundo, não é horrível de forma alguma. Com um pouco menos de cor? Com certeza. Ironicamente, é o primeiro trabalho em Technicolor do cineasta.
É um dia de agenda cheia para o Imperador Franz Joseph da Áustria (Richard Haydn). Duques, Condes e outros nobres fazem fila para apresentar suas súplicas ou atender ao chamado real e ouvir o que o Imperador tem a dizer. A exceção é Virgil Smiith (Bing Crosby). Ele é só um vendedor americano que viaja até a Áustria para apresentar uma grande invenção para o Imperador, na esperança de conseguir seu patrocínio e voltar com os bolsos cheios para casa. Ao menos esse era seu plano, que começa a dar errado desde o começo quando é expulso do castelo e seu cachorro se envolve numa briga com a poodle da Condessa von Stoltzenberg-Stolzenberg (Joan Fontaine).
Figurino é um dos elementos no Cinema que mais passam despercebidos na experiência. Eu mesmo costumo pender a comentar sobre roteiro, direção e atuação na maior parte dos casos porque são os mais chamativos e essenciais de uma produção, rendem material de sobra para escrever um texto de sete ou oito parágrafos. Cada caso é um caso, claro, por isso existem aqueles em que outros elementos chamam a atenção para si de uma forma ou de outra, sendo destaque dentro do grande todo ou incompetente a ponto de estragá-lo. As roupas em “The Emperor Waltz” caem no lado mais favorável e se destacam pela diversidade vista em trajes reais, de gala, apenas elegantes ou caricatos como o traje tirolês, que brasileiros provavelmente conhecem melhor pela Oktoberfest.
Não há nada que possa ser chamado de feio ou medíocre em “The Emperor Waltz”. Edith Head é a encarregada, ninguém menos. Sendo apenas o maior nome da arte de figurinos em Hollywood de todos os tempos, seu trabalho aqui faz mais do que só trazer uma roupa elegante, ele ostenta a qualidade de exaltar uma pessoa específica e toda sua beleza singular por meio do que veste. É o princípio mais básico de moda levado um tanto mais longe. Certas roupas vestem alguns corpos melhor que outros, preto emagrece, linhas engordam e por aí vai. Edith Head direciona seus esforços em uma mulher que teve beleza renovada em meus olhos, fazendo de Joan Fontaine sua modelo em todos os sentidos da palavra e me lembrando de como ela era uma mulher e tanto.Extravagante que seja o conjunto, suas qualidades nunca se perdem em um chapéu espalhafatoso. Seu perfil esguio e rosto delicado se destacam como os emblemas de sua beleza nos designs de Head, relembram seu trabalho feito em “To Catch a Thief“, em que a estupenda Grace Kelly fica ainda mais no guarda roupa feito para ela.
Posso dizer com segurança que o figurino chama a atenção mais do que na maior parte dos casos, mas não é exclusivamente por competência dos encarregados. Isso não falta, sem dúvida, mas há uma questão importante sobre o resto dos elementos não fornecer muita competição, então busca-se qualidades no que sobra, por assim dizer. “The Emperor Waltz” não é um filme especial. Queria poder dizer que a fotografia é chamativa e recria o ambiente austríaco do começo do Século 20 em função do romance entre o protagonista e a moça. Ou talvez que é uma grande história, engraçada e engajante, divertida também como musical por trazer Bing Crosby, cantor fora das telas, no papel principal. Ou que a direção de Wilder eleva a experiência. Infelizmente, não posso. Nenhuma é horrível, nenhuma se destaca muito.
O triste é que deveria ter sido especial. Billy Wilder quis fazer um filme sobre sua terra natal para esquecer do horror que viu nos campos de concentração quando visitou em 1945, uma comédia musical com trajes tiroleses, dança e natureza com a maior estrela da Paramount na época. Havia potencial e os melhores momentos de “The Emperor Waltz” demonstram isso, por exemplo, quando um guarda da cidade em botas de montaria rouba a cena exibindo seu talento na dança e subindo o nível para o resto dos números, que nunca chegam a igualar seu sucesso. O resto costuma ser Bing Crosby cantando uma canção sem nenhuma produção extra, no máximo com um piano acompanhando a cantoria. São boas canções, assim como a história é boa e só. Nada extraordinário, por isso o figurino chama tanta atenção. Parece um resultado pouco inspirado para algo que deveria ter tido uma importância especial para o diretor por tocar em memórias queridas de infância.
Ele mesmo diz que queria ter feito um tributo para Ernst Lubitsch e que o resultado não foi do jeito que queria. Problemas com Crosby ignorando sua co-estrela, seu diretor e até mesmo o roteiro dificultaram a produção, que ainda sofreu com Joan Fontaine adoecendo por um período e com Wilder passando por uma cirurgia,. Wilder ainda apontou que ignorar os fatos árduos da guerra e fazer uma história feliz apesar disso também entrou no caminho. Difícil dizer qual desses é o responsável pelo sucesso apenas modesto desta comédia, que talvez esteja entre os trabalhos menos memoráveis de Billy Wilder. Ao contrário de “Five Graves to Cairo“, não é tão surpreendente a queda no esquecimento.
2 comments
Olá, amigo! Onde consigo encontrar o filme para assistir? Está disponível online?
Eu achei por torrent! Foi meio chatinho, mas acabei achando uma versão em qualidade decente.