Depois de ver três dos quatro filmes que James Stewart fez com Alfred Hitchcock, decidi voltar a assistir as obras da parceria entre Cary Grant com o cineasta. Tal junção rendeu quatro obras: “Suspicion” de 1941, “Notorious” de 1946, “To Catch a Thief” de 1955, e “North by Northwest” de 1959. Destes quatro, vi apenas os dois últimos, que posso dizer serem excelentes filmes.
O filme se trata de mais um suspense do famoso diretor, só que dessa vez com um ritmo mais lento e uma entonação mais puxada para o romance. A trama gira em torno de John Robie, ex-gatuno que ganhou sua fama por roubar jóias de madames ricas diversas vezes; e após ser pego, ganha sua liberdade condicional para ajudar na luta contra os alemães na Segunda Guerra Mundial. Depois do fim da guerra, Robie mantém sua liberdade e aproveita uma vida de glamour, resultante de seu tempo como ladrão de jóias. Quando novos roubos com modus operandi parecido com o de John Robie começam a pipocar, a polícia passa a suspeitar dele como autor dos crimes. Para evitar que seja incriminado por esses atos, Robie se alia a um corretor de seguros para tentar capturar o novo ladrão e se salvar da prisão.
Como esperado de um suspense de Hitchcock, há competência de sobra quando se trata de incitar emoções fortes no espectador. A trama misteriosa e instigante é desenvolvida de maneira suave, enquanto o suspense frequentemente troca de lugar com cenas mais leves entre os dois personagens principais. O filme brinca com diversos aspectos cruciais na vida de John Robie: sua riqueza e vida de glamour constantemente ameaçadas pela polícia e pelo novo gatuno; sua paixão pelo crime em conflito com sua paixão por sua vida fina; e seus sentimentos, colocados em jogo pelos avanços da personagem de Grace Kelly, Frances Stevens.
A atuação de Grant é impecável, como esperado. Sendo o segundo filme que assisto com o ator, posso dizer que até agora estou extremamente satisfeito com seu trabalho. Atuando como um homem de meia idade bem de vida e charmosamente suave, Grant exibe uma interessante alternância entre as personas de seu personagem. Sério em algumas cenas e esnobe em outras, tal mudança de personalidade é manuseada de maneira sólida, dando a ele um senso autêntico de singularidade. Enquanto por um lado o personagem tenta manter uma pose esnobe, supostamente indiferente aos avanços de Frances; por outro ele se mostra sem reação e até um pouco amedrontado, ainda mais quando a garota se mostra impetuosa e decidida a conquistá-lo. Grande parte do enredo gira em torno da relação curiosa entre os dois personagens, que é no mínimo peculiar e sem dúvida onde o forte do filme se encontra.
Destaque também vai para Grace Kelly e sua boa interpretação, que definitivamente adiciona positivamente à personalidade jovem e selvagem de sua personagem. Frances Stevens não é apenas um rostinho bonito para ser o interesse amoroso do protagonista, sua relação com ele é o que mantém o longa de pé quando a trama principal perde força. Além disso, a beleza estonteante da atriz ainda conta com o figurino de Edith Head para destacar suas melhores qualidades, o que torna a atriz um deleite ainda maior do que já era. Dentre os outros aspectos positivos do filme está a fotografia, que se mostra muito competente ao trabalhar bem com a boa escolha de ambientes. Infelizmente, a cópia que eu assisti não estava em alta resolução, que teria exposto melhor a beleza, mas não chega a esconder o bom gosto das mesmas. Filmado em locais extravagantes da França, o longa escolhe bem tanto paisagens externas, como o litoral e a parte montanhosa, como nos interiores de mansões dignas de um filme de James Bond.
Apesar do suspense proporcionado não chegar no nível de outras obras de Hitchcock, o filme se mostra bem competente nos outros aspectos a que se propõe. Como é o caso entonação leve e do foco no romance peculiar entre o charmoso Cary Grant e a intensa Grace Kelly, com certeza a melhor parte da experiência.