Algumas vezes durante minha rotina de escrita, acontece de encontrar filmes que não despertam nada. Zero. Nem uma fagulha de empolgação. Foi o que aconteceu com “Men in Black: International” quando houve a cabine de imprensa e não senti vontade de comparecer. E foi o que aconteceu quando finalmente decidi assistir no avião, diante de pouquíssimas opções como dois episódios de Friends e uns filmes da Marvel. Parece que a impressão foi mais ou menos essa com o resto do público também, audiência e crítica concordando que o retorno da série poderia ter sido melhor depois de sete anos.
Dois agentes da base de Londres dos Homens de Preto, o Alto T (Liam Neeson) e o H (Chris Hemsworth), são reconhecidos por seu grande feito de derrotar uma ameaça global chamada Colméia usando nada mais do que um par de rifles. Anos mais tarde, uma garotinha que escapou de ser neuralizada tenta a todo custo fazer parte da organização até que finalmente encontra uma brecha e consegue a chance de uma vida. Seu novo nome é Agente M (Thessa Thompson) e sua missão é ir para Londres, onde acaba se aliando a H na luta contra alienígenas transmorfos.
Dizer que “Men in Black: International” era um tiro na água desde o começo é exagero. O conceito é legal e traz a possibilidade de expansão da organização vista nos três outros filmes, uma ramificação da organização em outros países, possibilitando no mínimo novos cenários para os Agentes explorarem em suas missões. Ou talvez um funcionamento levemente diferente, como costumes ou roupas levemente diferentes; os homens de preto da Escócia usarem kilts pretos, num exemplo esdrúxulo. Na prática é quase isso. Os ambientes novos e variados marcam presença junto com um figurino levemente modificado para a protagonista da história. Talvez fosse esperado que ela usasse saia com paletó, mas ela decide ir contra a maré e usar calças. E um coturno. Sim, o coturno é seu toque especial.
O figurino de pouco importa, na verdade, e no máximo pode ser considerado como uma tentativa leviana de estabelecer uma afirmação de liberdade de gênero. Coturnos. Barra pesada. Rock and Roll. Somando isso com alguns comentários mais previsíveis do que chuva em filme de terror sobre os Homens de Preto terem de mudar de nome para Mulheres de Preto, pode-se dizer que qualquer intenção de fazer de “Men in Black: International” relevante, socialmente falando, falha bem feio. Há uma mulher como protagonista e, olha só, Chris Hemsworth novamente interpretando um personagem irresponsável, meio estúpido e de reputação questionável, uma sombra atenuada de seu ridículo papel em “Ghostbusters” e talvez uma tentativa de exaltar sua parceira através do contra-exemplo.
Há o homem imprudente e a mulher responsável, cem por cento dedicada ao seu trabalho porque nada mais em sua vida faz sentido. Ela não tem um grande amor nem vive por uma família, apenas quer fazer o seu melhor no trabalho com que sonha desde pequena. Eis o grande contraste. Eis o resumo do desenvolvimento de personagem de “Men in Black: International”. Assim se pode imaginar para onde as coisas vão, com lições aprendidas e amizades fortalecidas enquanto o mal verdadeiro se apresenta a despeito de tudo que se pensou até então. Os personagens que eram antagonizados se mostram dignos de confiança e os bonzinhos mostram sua verdadeira face. Incrível.
É seguindo essa tendência que “Men in Black: International” se define. Nada é marcante. Pouco me importava com os personagens porque eles eram apenas rascunhos preguiçosos sem muita função. O bonitão inconseqüente e a quebradora de padrões. Então poderia entrar a ação como um aspecto redentor de problemas, expandindo as boas idéias demonstradas no passado se até essas não fossem desperdiçadas. As armas extravagantes, por exemplo, de todos os formatos e tamanhos e poderes de fogo, são gastas praticamente em uma cena só, sem impacto e sem graça também. Sobraria para o alívio cômico equilibrar um pouco, então se encontra um personagem que talvez tenha tentado substituir o Pug — que aparece por 30 segundos — e acaba caindo no clichê do alienígena miúdo esquisitinho, longe do que “Star Wars: The Rise of Skywalker” fez com Babu Frik em um de seus poucos acertos.
O grande problema de “Men in Black: International” é que ele é simplesmente raso. Não é a grande porcaria inacreditável que alguns disseram ser, o pior de toda a série com muita folga e uma vergonha digna do fracasso comercial que teve na bilheteria. É um filme fraco, sem dúvida, que poderia ser melhor sem um esforço a nível de reinventar a obra como um todo. Poderiam ser os mesmos conceitos e idéias apenas trabalhados um pouco melhor do que o esforço pouco inspirado e de caráter negativamente rotineiro, como se tentasse ir apenas longe o bastante para evitar um desastre. Não há nenhum ponto negativo vertiginoso, apenas se encontram pequenas oscilações de baixa freqüência.