Depois do trailer mais mal avaliado da história do YouTube, “Ghostbusters” chega aos cinemas. Imagino que a audiência tenha ficado com um, se não dois, pés atrás e não é para menos: o trailer é realmente muito ruim. Tanto ódio acabou ganhando um caráter misógino, machista e até racista no meio do caminho, dando ao filme uma publicidade definitivamente inesperada. Em grande parte negativa também, pois a crítica não gostou do que viu. Faço parte destes que não gostaram do trailer. Não esperava nada mais que um dos piores filmes do ano e me surpreendi com o resultado. Não é o reboot mais sensacional de Hollywood, mas nada perto do lixo descomunal da minha expectativa.
Erin Gilbert (Kristen Wiig) é uma professora universitária que quer muito crescer na carreira. Quando as coisas parecem que vão finalmente engrenar seu passado surge para atrapalhar. Anos antes, Erin escreveu um livro sobre fantasmas com sua amiga Abby (Melisssa McCarthy). Fantasmas e ciência não costumam concordar em muita coisa e a universidade não ficaria muito feliz de saber que uma jovem professora é autora de um livro assim. Porém tudo muda quando um fantasma de verdade dá as caras e mata qualquer dúvida de Erin, que junta-se à amiga e duas outras moças para investigar fenômenos paranormais em Nova York.
A única coisa que eu esperava de um reboot que tem uma mudança de gênero como característica definitiva é absolutamente nada. Outras obras já ganharam reboots por muito menos, mas mudar o gênero dos protagonistas está bem longe de ser uma boa desculpa. De qualquer forma, “Ghostbusters” chegou e não é tão ruim assim. Não é nada que mereça destaque também, apenas outra franquia querida que foi Hollywoodizada. O que isso significa? Basicamente, que há um grande investimento na parte visual e na nostalgia enquanto o resto se esforça o mínimo para não entregar um resultado abominável. A primeira parte é realmente competente, ao passo que a segunda nem tanto. De certa forma, sua inconsistência reflete a obra no geral: tem seus momentos, mas no fim é apenas outro blockbuster descartável.
Achei que os efeitos especiais seriam mais ou menos nesse esquema — aceitáveis no lançamento e terríveis em alguns anos — porém devo admitir que me gostei do que vi. O lançamento IMAX é mais do que justificado por cores vibrantes e uma fotografia que valoriza a estética. E claro, falar de Hollywood é falar de ação e aventura com visuais espetaculares. Aproveitando a tecnologia ao máximo, “Ghostbusters” apresenta sua fantasia paranormal criativamente e, curiosamente, tem cenas de destruição que não devem nada a nenhum “Godzilla”. Fantasmas de todos os jeitos transformam Nova York num verdadeiro festival paranormal onde 4 mulheres bem armadas fazem o que podem para salvar a cidade com estilo. Até mesmo o 3D impressiona num dos melhores exemplos dos últimos tempos, com certa folga. Falar que as coisas saem da tela é dizer o óbvio, embora aqui isto seja feito quase literalmente. Assim como “As Aventuras de Pi”, os efeitos frequentemente saem dos limites da projeção, como se as barras pretas não impedissem mais a imagem. O resultado é um 3D que não está ali apenas para encarecer o ingresso, como outras obras descaradamente fazem.
Outra surpresa foi o elenco principal. As palavras que saem das bocas das personagens principais podem ser decepcionantes vezes demais para dizer que o humor é bom, mas a escolha de boas atrizes resulta em personagens carismáticas. Para quem achou ruim trocar homens por mulheres porque sim esta é uma boa surpresa, sem dúvida. O grande problema aqui é que praticamente tudo funciona na base do acerto e erro. Se o humor só funciona metade do tempo num filme que se apoia bastante na comédia é porque tem algo errado. Algumas piadas são bem pensadas, outras parecem um esquete de comédia de tão destoantes e há ainda aquelas que não conseguem ser engraçadas de tão ruins. Não são muitos os lugares em que se ouvem piadinhas de pinto e vagina, como numa roda de amigos de sexta série. “Ghostbusters” certamente não era um deles. É como se as personagens saíssem de si para entrar num modo em que se esforçam demais para serem engraçadas. Já a ação tem seus momentos de glória, com algumas sequências divertidas para evitar que a comédia seja a única carta na manga do roteiro e outras — como o clímax — que apenas falham em ser bom entretenimento. Para completar o pacote entopem o filme de referências aos filmes clássicos. A minha impressão é que estas funcionam muito bem com quem considera referências um aspecto importante da experiência. Para mim não há nada muito especial nelas. Acertam no uso do tema original e suas variações, assim como nas participações especiais do elenco original, ao passo que outras referências foram colocadas ali só para bater ponto.
No geral, esta é uma experiência que se mantém na mediocridade e em alguns momentos mostra bons resultados. Infelizmente, os benefícios de visuais bonitos e meia dúzia de cenas boas são limitados contra um uma taxa de acerto e erro insuficiente do humor. Ainda assim, definitivamente não é a bomba esperada e para mim isso já é um grande mérito. “Ghostbusters” tem vários defeitos, o maior deles sendo sua inconsistência de qualidade em vários aspectos, mas nenhum deles é por causa do elenco feminino. Pelo contrário, as quatro atrizes principais podem muito bem ser consideradas um pontos forte, uma vez que conseguem ser carismáticas sem precisar se apoiar no que veio antes. Nesse quesito, “Ghostbusters” merece créditos por sua originalidade.
1 comment
Eu acho que uma grande história, pois é uma nova versão de Ghostbusters merecia e tinha. A grande idéia era investir os jogadores e transformá-los em mulheres. (Deixo horários de transmissão http://br.hbomax.tv/movie/TTL603389/Cacafantasmas) a escolha do elenco é incrível. Tem bons efeitos, agora podemos ver fantasmas com maior clareza e definição. O legado pode continuar por gerações.