“Friday the 13th Part VIII: Jason Takes Manhattan” é uma das maiores decepções de todos os tempos. Para quem já ia aos cinemas em 1989, parecia a tacada de ouro dos produtores em sua tentativa de renovar à fórmula já saturada. Em “Part VII: The New Blood“, uma oponente com poderes telecinéticos foi introduzida para enfrentar Jason em um nível diferente que o resto das protagonistas; a resposta para a continuação foi levar Jason para Nova York, finalmente saindo de Crystal Lake. No entanto, o resultado não foi exatamente carnificina numa cidade com 17 milhões de pessoas e decepcionou o público que esperava melhor aproveitamento do cenário. O meu caso, cerca de 10 anos atrás, foi perceber que as Partes VII e VIII não haviam sido lançadas no Brasil em DVD e ter de comprar na Amazon, esperar chegar, pagar o imposto da alfândega e finalmente me frustrar.
Jason Voorhees (Kane Hodder) jaz no fundo do lago, acorrentado e soterrado por destroços depois de seu último confronto. Quando uma linha de alta tensão entra em curto-circuito e acorda o assassino, ele se depara imediatamente com o Lazarus, um barco levando um grupo de adolescentes de Crystal Lake até Nova York. Uma nova rodada de assassinatos começa em alto mar com destino à maior cidade do mundo.
A primeira pergunta que todos fizeram foi: como diabos o lago Crystal Lake tem ligação com o Oceano Atlântico para poder chegar em Manhattan? Foi só anos depois que a pergunta foi relativamente explicada com um mapa da região inteira feito pela equipe de “Friday the 13th: The Game”, em que há um canto do lago desbocando no oceano e explicando a viagem toda. Mas não foi por isso que o público se frustrou, até porque continuidade nunca foi um forte da série e suas mudanças de figurino e aparência de Jason sem razão. “Friday the 13th Part VIII” falha primeiramente por não fazer jus ao seu título e mal mostrar Jason atacando Nova York. Cerca de 20% do filme se passa lá e não realmente, já que muitas cenas da cidade foram efetivamente gravadas em Vancouver. O resto do tempo é gasto dentro do barco com os adolescentes.
O marketing, a promessa e o título perdem o sentido. A icônica imagem de Jason rasgando o pôster “I Love NY”, por exemplo, de nada vale porque o orçamento não permitia mais do que poucos dias gravando na metrópole. Estaria tudo bem ou, no mínimo, menos ruim se todo o trecho no barco desviasse a atenção deste fato e fizesse do longo prólogo algo aproveitável como os melhores filmes da série. O barco já é a maior mudança de cenário até então e ofereceria uma série de oportunidades diferentes para assassinatos criativos; mortes usando objetos e ambientes diferentes, assim como a dinâmica de esconder e revelar corpos usando coisas diferentes de árvores, armários e portas. “Friday the 13th Part VIII” poderia se erguer com isso se não fosse a direção notavelmente pobre de Rob Hedden.
Já é uma convenção aceita Jason sempre alcançar suas vítimas que correm enquanto ele caminha. É relativamente aceitável porque se tratava de uma floresta e o assassino a conhece melhor que a vítima. Não é crível ou lógico, mas há uma margem para suspensão de descrença. Já num barco, o espaço é limitado e não há como manipular a geografia muito. É exatamente o que Rob Hedden faz em “Friday the 13th Part VIII”. Em nenhum outro filme o teleporte é tão notável quanto aqui. Há um caso específico em que Jason está descendo as escadas do terceiro andar para o segundo, a vítima começa a descer do segundo para o primeiro antes de ele chegar, então dá de cara com ele no primeiro andar e morre. O exemplo mais drástico e patético é quando uma vítima foge até chegar numa discoteca vazia e totalmente acesa, fica rodando no lugar no meio da pista tentando ver de onde Jason virá. A direção literalmente dá a entender que ele se teletransporta conforme ela gira.
As mortes também são medianas no geral. São poucas as marcantes e mesmo essas não pelas razões certas, algumas apenas muito diferentes sem necessariamente serem boas. “Friday the 13th Part VIII” já começa com dois assassinatos envolvendo uma vítima esperando dez segundos para ser empalada com algum objeto, gritando do jeito mais clichê imaginável parada no lugar. Várias morte mortes não chegam a ser ruins, apenas pouco inspiradas depois de algumas ótimas idéias na “Parte VII“. Felizmente, “Jason X” aproveita muito melhor o conceito de um espaço claustrofóbico e limitado para criar variedade.
Quanto às decisões de design, novamente Jason tem uma aparência diferente da anterior. O motivo para mudar permanece oculto, pois o visual de antes é um dos melhores de todos com certa folga, Jason com pele apodrecida e ossos visíveis sob a roupa rasgada. Agora há o Jason molhado. Literalmente, o filme inteiro ele está como se tivesse acabado de sair da água, com até sons de botas cheias d’água. É tosco, mas não incomoda tanto quanto o momento mais decepcionante de todos quando o vilão tira a máscara e revela alguma coisa bizarra que era para ser um rosto e ainda não faz sentido, menos ainda se as alucinações da protagonista com a versão jovem dele forem consideradas. Somando isso a uma sonoplastia que inclui gemidos, respirações exageradas e até um berro junto com vômito nasce mais alguns erros imperdoáveis de “Friday the 13th Part VIII”.
Não há como dizer que “Friday the 13th Part VIII” é apenas resultado de incompetência porque muitos fatores fora de controle do elenco, da equipe técnica e do diretor interferiram muito. O orçamento foi o maior da série até então e, mesmo assim, muito baixo para gravar o roteiro como concebido. As mudanças radicais forçaram uma sucatagem e muito provavelmente causaram o caos numa produção já acelerada por natureza, já que os lançamentos eram quase anuais. Todavia, vários problemas são facilmente rastreáveis a idéias problemáticas, principalmente uma direção de cena ilógica e decisões de mau gosto por parte do design de produção. Assim se tem um dos piores fracassos e aquele responsável pela venda da série para outro estúdio, a New Line Cinema.