Os sete passageiros da nave Nostromo são despertados de seu longo sono pela inteligência artificial da nave, logo descobrindo que o causa é um sinal desconhecido vindo de um planetóide na região. Obrigados a suspender temporariamente a missão para verificar do que se trata o sinal, os tripulantes descobrem a verdade terrível por trás desse desvio de trajeto. Um alien nunca visto antes, perigoso e absolutamente hostil, muda completamente o objetivo de uma missão pacífica de retorno para a Terra para uma luta por sobrevivência contra algo cujo comportamento não pode ser predito, que não tem vulnerabilidades conhecidas e nenhuma intenção de parar.
Por mais que não exista unanimidade, é bem comum ouvir críticas às continuações de “Alien”. Aliás, exceto por “Aliens”, que é uma continuação excelente e freqüentemente exaltada a ponto de ser considerada melhor que o original. Quando se fala em “Alien³”, “Alien Resurrection”, “Prometheus” e “Alien: Covenant“, aí sim é mais fácil encontrar pessoas reclamando de tantas razões diferentes causadas por tantos outros fatores. Seja interferência de estúdio, problemas de roteiro, idéias questionáveis ou expansões de mitologia, sempre havia algo representando um obstáculo para o sucesso das continuações. O mais comum desses problemas, no entanto, é como a maioria delas falhava em garantir uma experiência básica competente, em executar bem os elementos primordiais que precedem a criação e adição de quaisquer idéias suplementares. “Prometheus” é um alvo freqüente desta exata comparação: tanta preocupação com criar uma origem para os Xenomorfos junto de negligência na construção de personagens críveis.
“Alien” faz o que deve para ser uma narrativa de sucesso, acima de tudo. O resto é resto. Bem, não exatamente, mas com certeza não constituiria uma experiência substancial por si. Ao escrever a sinopse, é fácil perceber como a trama é simples e até difícil de elaborar sem ir longe demais e entrar no terreno do desenvolvimento. Todavia, é uma simplicidade que absorve o espectador na experiência, um filme lento, nunca chato, que administra a exposição de informação magistralmente. Mas que conteúdo é revelado se a trama é simples? Realmente, pode parecer pouco intuitivo e nem fazer sentido. É aí que entram todos os detalhes.
Também é comum ver outros filmes de ficção científica ou fantasia criarem tantíssimos detalhes e se perderem na transmissão deles, trocando o tempo de avanço de história por repetidas explicações das especificidades de como é o sistema de castas numa cultura alienígena de indivíduos hermafroditas que se reproduzem assexuadamente. Chega um ponto em que se pergunta qual a necessidade tudo e onde está a parte que importa. “Alien” não sofre deste problema e pouco a pouco deixa o espectador mais interessado conforme é apresentado a pessoas acordando de um sono estranho e que logo se revela como um tipo de hibernação induzida. Eles foram acordados por um motivo, tiveram sua missão interrompida. Qual era o motivo e qual era a missão? Qual o protocolo para uma situação como essa? De gancho em gancho o público se vê induzido a descobrir um pouco mais até se encontrar imerso.
Outros pontos importantes entram em jogo. Hoje em dia é um clichê reconhecido personagens de filmes de terror serem burros, afinal de contas alguém precisa sair na chuva e ir até o galpão escuro para ver por que a luz caiu, muita gente precisa morrer para sobrar apenas um. “Alien” também vai contra essa noção por limitar seu elenco a apenas sete personagens e desenvolvê-los o bastante para que não sejam idiotas, pelo menos. Já é algo a se comemorar, ver pessoas que realmente parecem ter sido contratadas para as funções às quais foram designadas na missão em vez de um título servindo como caracterização rasa. É uma forma básica de desenvolvimento e nem por isso pouco eficiente, funcional acima de tudo. Medo e pressão causam comportamentos inadequados por obscurecerem a razão, sim, porém é uma dinâmica tão mais forte quando se acredita que os envolvidos não são convenientemente suscetíveis aos perigos, que são pessoas fortes levadas ao limite à despeito de serem bem preparadas.
Isso não quer dizer que o resto é negligenciado. A estética se mostrou um aspecto tão marcante que eventualmente estabeleceu firmemente seu lugar na cultura popular como uma parte relevante dela. A primeira parte e a mais óbvia é o design do próprio Xenomorfo por H.R. Giger, que criou o monstro com base em uma de suas ilustrações surrealistas. A criatura não só é reconhecida automaticamente em qualquer lugar como também é acompanhada de uma estética ímpar facilmente associada a ele. Basta ver uma parede coberta de uma substância escura com alguns padrões regulares e simétricos entre o caos da matéria orgânica para saber quem é o responsável.
Todo o resto se estabelece como uma algo original, sem depender de inspirações fortes e tentadoras da época, como “Star Wars” dois anos antes e “2001: A Space Odyssey” de 1968. Seria fácil o bastante entrar na onda de um sucesso gigantesco como a obra de George Lucas apenas dois anos antes, mas a direção de arte de “Alien”, embora siga claramente o estilo retro-futurista, caminha com suas próprias pernas e cria um ambiente completamente afim do clima atmosférico pesado de uma nave especial escura e pouco habitada. Há muito mais espaço vazio do que preenchido e sete pessoas nem chegam perto de amenizar o sentimento de isolamento e solidão, algo essencial se a idéia é criar terror. Somando isso à cinematografia “low-key”, predominância de tons escuros e poucas fontes de iluminação, cria-se um clima mais do que adequado, perto da perfeição. Uma nave cargueira não é exatamente o ápice da arquitetura espacial, os personagens estão mais para caminhoneiros do espaço, como já foram descritos, do que uma equipe de elite. A iluminação da nave é o lugar perfeito para quem quer se esconder, já é amedrontador por si e o alien quase nem é necessário.
Quanto aos problemas, chega a ser um pouco injusto apontá-los porque “Alien” é apenas o começo de um universo que se expandiu a cinco outros filmes e até chegou a compartilhar universo com o Predador, além de render inúmeros jogos, quadrinhos e outras mídias. Tendo nascido depois que a maioria desses produtos já havia sido lançada, foi difícil não ser exposto à imagem do Xenomorfo da cultura popular. Assim, ver uma criatura lenta, não tão viciosa nem tão hostil, de movimentos até desajeitados e efeitos especiais que nem sempre ajudam nesse ponto foi uma experiência mista. Sim, criticar efeitos antigos é bobagem, porém num mesmo filme existem vários outros momentos de efeitos incríveis até hoje, então por que não haveria espaço para deslizes em certos pontos? Eles se encontram, curiosamente, na trilha sonora do grande Jerry Goldsmith, a qual funciona melhor quando abre espaço para o silêncio sufocante de gente temendo qualquer som na proximidade do que quando apresenta melodias de fato. Seja como for, não é como se esses fossem fatores incapacitantes de todos as outras conquistas. “Alien” permanece como um clássico de reputação justificada.