Em homenagem ao recém falecido Roger Moore, meu ator preferido no papel de James Bond, achei válido revisitar “The Spy Who Loved Me”. Era o que mais gostava da série e, consequentemente, também o melhor do próprio Moore. É a fórmula clássica de Bond em sua melhor forma: uma intensa orquestra de paixão e espionagem envolvendo vilões icônicos e garotas estonteantes. Sem o viés oportunista dos dois filmes precedentes ou o humor excessivo do sucessor; apenas um agente secreto tentando frustrar planos de dominação mundial enquanto passa por alguns dos lugares mais bonitos do planeta. Parece simples o bastante, mas são poucos os filmes da série que acertam tão bem quanto este.
Dois agentes são enviados para investigar o desaparecimento súbito de submarinos nucleares, um soviético e outro britânico. Anya Amasova (Barbara Bach) está com a União Soviética e James Bond (Roger Moore) com a Inglaterra. Entre momentos de cooperação involuntária e competição direta, os dois descobrem que a missão é maior que o esperado. Os submarinos não desapareceram, foram sequestrados e suas ogivas nucleares podem ser disparadas a qualquer momento. Cabe aos dois agentes deixar o passado de lado e trabalhar juntos para evitar uma catástrofe.
Devo admitir que até esta última assistida, “The Spy Who Loved Me” era meu 007 favorito. Nele, Roger Moore alcança um equilíbrio entre seriedade e humor, acompanhando os sucessos da fórmula funcionando especialmente bem. Todos os elementos que compõem um filme bom da série estão presentes e, mais importante, são bem executados. Afinal de contas, houve casos em que todos os ingredientes estavam lá e o resultado foi medíocre. Mesmo assim, isso não impediu que eu rebaixasse o filme no meu ranking da série. Com todos os pontos positivos, não pude deixar de notar alguns outros pontos não tão bons — mal feitos, propriamente ditos. Edição e direção, especificamente, por vezes mostram-se um obstáculo em meio a tantas cenas de ação boas. De um lado, transições de cena secas e cortes artificiais competem diretamente com o ar de elegância das imagens, algumas vezes prejudicando cenas de ação. De outro, Lewis Gilbert deixa um pouco a desejar na direção das brigas corpo-a-corpo. Tudo bem, o Bond de Roger Moore nunca foi um dos melhores lutadores, mas algumas brigas são pobres até em comparação com outros filmes seus.
Felizmente, essas cenas não se repetem a ponto de serem problemáticas. Um novo vilão, melhor do que qualquer outro de antes ou depois, chega para apimentar esse lado da ação. Jaws, interpretado pelo gigante de 2.18m Richard Kiel, é simplesmente grande demais para deixar qualquer luta cair na banalidade. Vale dizer que Moore, com 1.85m de altura, não é um cara baixo; isto é, para padrões humanos. Isso não muda sua clara desvantagem contra um vilão cujas mãos são quase do tamanho de sua cabeça. São 33cm que fazem toda a diferença nas brigas desse filme. Bond é obrigado a improvisar quando, finalmente, um oponente não é despachado com dois murros lentos e um pontapé. É justamente o contrário: uma mordida com dentes de metal significam o fim do agente. O melhor de tudo é que este não é único vilão bom de “The Spy Who Loved Me”, embora seja o melhor. Curd Jürgens tem um papel mais modesto como Stromberg e ainda se destaca como um ótimo personagem. Ele é um recluso, como ele mesmo se descreve. Tem planos grandes sem necessariamente ser um excêntrico. São essas qualidades que Jürgens transmite tão bem quando tem oportunidade. Um homem com ideais bem concretizados e seguro de si; de gostos extravagantes e presença notável. Não ter as frases marcantes de Auric Goldfinger não o torna menos imponente.
Só tenho coisas boas a dizer sobre Roger Moore e Barbara Bach nos papéis principais também. “The Spy Who Loved Me” é o filme em que Moore finalmente ficou completamente confortável no papel. Não é como se ele tivesse se saído mal nos outros, sua performance é apenas melhor aqui. Ele finalmente acerta no tom de seu James Bond: refinado, engraçado e carismático. Sem esquecer de charmoso, claro, pois é um pré-requisito que até o pior 007, George Lazenby, possui. Não importa se é um charme suave como o de Pierce Brosnan ou másculo como o de Daniel Craig, ele tem que estar ali. Isso acontece porque, bem, a audiência precisa achar crível Bond com alguém do nível de Barbara Bach. Além de uma mulher linda, ela é uma agente russa e bem capaz de se virar. Alguém que queira conquistá-la deve ter as ferramentas certas. Moore mostra que as tem e, junto com Bach, compõe um dos melhores pares de toda a série.
Disse que a ação sofria um pouco pela direção e edição antes e, de fato, isso é um problema em “The Spy Who Loved Me”. Pensaria em dizer que pareceu descuido de uma produção apressada, mas este filme foi lançado depois de um raro hiato de 3 anos desde seu predecessor. Até a Era Craig, só houveram 3 hiatos maiores que 2 anos: 3 anos entre “The Man with the Golden Gun” e este longa; 6 anos entre “Licence to Kill” e “GoldenEye”; e 3 anos novamente entre “The World is not Enough” e “Die Another Day“. Infelizmente, parte da ação sofre por apelar para a simplicidade de nocautear inimigos com um chute na bunda mal editado. A outra parte é tão boa quanto poderia ser. Começa com um salto livre de uma montanha nevada e termina com uma chuva de granadas dentro de um petroleiro. Não é sempre que Bond voa da beira de uma montanha com 2000m de altura e mergulha um Lotus Esprit no mar num mesmo filme. Diria que, exceto pelo começo excelente, esta é uma obra que melhora a cada nova cena. De uma investigação no Egito a uma grande sequência final, ambientada em um set gigantesco e detalhado de Ken Adam. Supera, sem dúvida, o muito elogiado set do vulcão de “You Only Live Twice” — também feito por Adam.
“The Spy Who Loved Me” se beneficia muito de cenas de ação ambiciosas sempre bem ambientadas. Quando não são as belíssimas Pirâmides do Egito, a produção de design dá conta de agradar os olhos com um construto colossal. Se não for o bastante, a trilha inovadora de Marvin Hamlisch apraz os ouvidos. Sempre há um motivo para se sentir satisfeito aqui. Pode não ser mais meu James Bond preferido, mas sempre estará entre os melhores.