Para quem esperava o filme do ano ou o melhor “Star Wars” desde “O Império Contra-Ataca“, sinto dizer que este longa-metragem pode ser decepcionante. Decepção por não satisfazer as expectativas gigantescas, e não por ser ruim. Este é um “Star Wars” em sua forma mais clássica, o que pode significar um milhão de coisas, dependendo da pessoa. Para mim, isto quer dizer que “The Force Awakens” quis tanto ser similar à Trilogia Original que chega a se prejudicar nesta jornada, trazendo várias inconsistências consigo.
Após Luke Skywalker e a Aliança Rebelde terem derrotado a segunda Estrela da Morte, a galáxia teve seu momento de paz. Entretanto, esta alegria mostrou ser apenas um respiro e 30 anos depois uma força ameaça a tranquilidade novamente. A organização, chamada Primeira Ordem, tem seus moldes parecidos com o extinto Império Galático e busca impor seu controle de qualquer método necessário. Cabe a outro, improvável, grupo de heróis fazer o possível para impedir que essa nova ameaça governe a galáxia.
A sensação que tive com este filme me lembrou o que senti em “Jurassic World“, fazem muito uso da nostalgia para sustentar o filme. Existe certa fartura de referências para quem já conhece a franquia, ao mesmo tempo que se cria uma estrutura amigável para quem nunca assistiu nada da série; uma dualidade que parece interessante por, aparentemente, funcionar para os dois tipos de audiência, mas que pode ser decepcionante para quem esperava algo novo. Quando “A Ameaça Fantasma” estreou em 1999, recebeu uma porção de críticas negativas, havia muita coisa que estava abaixo do nível da Trilogia Original. No entanto, havia um ar de novidade e, ao menos, um pouco de ambição em tudo aquilo. Infantilizar a franquia com Jar Jar Binks e um protagonista juvenil pode ter sido a pior decisão da série desde os Ewoks, só que aquilo, ao menos, era novo.
Neste filme, por outro lado, nota-se que tentam capturar novas audiências através dos mesmos artifícios que fizeram a série explodir em 1977. Exatamente os mesmos. Um simples bater de olhos mostra que há algo familiar, a estrutura deste longa é extremamente parecida com a de “Uma Nova Esperança“, o “Star Wars” original, detalhe tão acentuado que que chega a criar furos de lógica nesta extensão da história. “Se é a mesma coisa, qual o problema?”, podem perguntar. O problema é que hoje existe um universo pré-estabelecido pelos outros episódios, enquanto antes não havia nada do tipo para limitar as ambições de George Lucas. Uma coisa é fazer como “Jurassic World” e usar momentos esporádicos do filme para entregar referências diretas e pontuais, que atingem até mesmo quem tinha visto “Jurassic Park” muito tempo antes do lançamento do novo filme. Outra coisa é utilizar estas mesmas referências mais frequentemente e não como referências, mas como base para uma nova história; e não digo isso no bom sentido, digo que está mais para uma cópia que para inspiração. Mencionar todos os detalhes que tornam o “Episódio IV” tão similar a este revelaria muito do enredo, então me limitarei a um simples aspecto já conhecido por qualquer um que tenha ouvido “Episódio VII” ao menos uma vez nos últimos meses.
De cara Jakku é apresentado, um planeta deserto, um Tatooine novo, querendo ou não. O planeta natal dos Skywalker foi central para os eventos das duas trilogias lançadas, aparecendo em 5 de 6 filmes. Com Jakku parece que tentam resgatar aquela imagem de desertos vastos e sua ligação com o universo Star Wars, procurando evocar esta mesma ligação forte até mesmo em quem nunca viu nada. Para mim, este planeta ter outro nome foi apenas uma oportunidade desperdiçada de criar um mundo novo e original, algo que Star Wars sempre fez bem. Pode até parecer pouco material para dizer coisas tão duras a respeito de originalidade, porém quem assistir a “The Force Awakens” certamente notará que um planeta não é a única coisa parecida; desde a estrutura bruta até detalhes menores, como motivações de personagens e alavancas emocionais, são todos familiares demais para passarem como simples nostalgia. Chega a ser incômodo como vão longe para não entregar material novo.
Quando buscam novos horizontes, aí sim parece que a espera valeu a pena. A dupla protagonista é uma ótima adição ao respeitável repertório de personagens da série, tanto Rey quanto Finn são ótimos personagens que, por si, levam o filme nas costas, sem necessidade de qualquer personagem antigo servir como apoio. Dos dois, Daisy Ridley rouba a cena com sua atuação firme, dando a sua personagem a profundidade necessária sem, necessariamente, se limitar por isso. Nem os momentos ruins com ela têm sua assinatura como culpada, qualquer cena deste tipo deixa a desejar por conta do roteiro. Isto não é dizer, entretanto, que o elenco clássico seja dispensável, pelo contrário, Han Solo (Harrison Ford) entrega sua melhor atuação com muita folga. Ver que houve evolução de seu personagem nesses 30 anos foi uma boa variação do que já era conhecido, não é apenas a mesma personalidade em um rosto mais velho. De malandro conquistador de corações o personagem vai além e torna-se ainda mais icônico, sendo um bom exemplo do velho que foi resgatado e usado no novo. Infelizmente tornando apenas mais lamentável o mau uso do material que a produção tinha em mãos.
Podem maquiar do jeito que quiserem os stormtroopers, os sabres de luz, a história e os planetas, tudo é muito explícito para quem não estiver afogado em expectativa e ansiedade. Não é uma obra ruim, está longe disso. A direção traz melhorias ao modernizar a ação e faz muito bem sua parte ao entregar emoções fortes até mesmo em cenas simples, quando não há cópia de sequências antigas; só é uma pena que com essa modernização venha um humor típico da Marvel, ocasionalmente com timing ruim e tendo muito mais espaço do que antes. Como um filme de ação/aventura e como Star Wars esta obra funciona muito bem, são os detalhes da trama que deixam a desejar por não terem a sutileza ou a pontualidade de uma referência especificamente nostálgica.
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Concordo com vc