Após o lançamento do mal recebido “Jurassic Park III“, restou aos fãs da franquia aproveitar o sucesso inesquecível do primeiro. Os outros dois estão longe de serem considerados lixos tenebrosos unanimemente. A única verdade universal é de que o primeiro está acima de suas continuação. Mas com o anúncio oficial de “Jurassic World” há alguns anos atrás, a chama da esperança reacendeu no coração de muitos fãs desiludidos. Dependendo do nível de expectativa, ele pode ser tanto um sucesso ou fracasso, mas isso é relativo. Há um meio termo bem amplo em que este novo filme se posiciona.
22 anos após o incidente na Ilha Nublar, um novo parque temático é construído e chamado desta vez de Jurassic World. Usando tecnologia mais moderna para o deleite dos visitantes, o lugar agora oferece diversas novas maneiras de interação com os dinossauros. As 20.000 visitas diárias ainda não são o bastante para os engravatados, que notaram uma queda de público e decidiram incentivar novas idéias para trazer mais gente para a ilha jurássica. Aparentemente, a solução é manipular genes para criar uma espécie nova. Como esperado, essa idéia genial tem tudo para dar errado e é o que acaba acontecendo.
Entendo que a fórmula estabelecida pelo filme original não dê muita deixa para continuações consideradas originais. Há um certo número de vezes que um dinossauro pode tocar o terror até perder a graça, mas isso também não quer dizer que a temporada de roteiros ruins esteja aberta, Também há um certo limite de besteira que o espectador está disposto a engolir. Infelizmente, quem escreveu “Jurassic World” não pareceu estar muito preocupado com isso, pois às vezes não há limites para os absurdos que são usados para a conveniência do enredo. Mas há um crime maior a ser apontado neste meio: a incapacidade de apresentar surpresas, uma vez após a outra. Não é difícil deduzir quem morre, quando morre e porque morre; ou ainda qual vai ser o artifício usado pela trama para tentar apresentar qualquer tipo de choque. A única surpresa de verdade provavelmente foi involuntária, pois de que jeito uma personagem enfrenta um holocausto jurássico usando salto alto permanece como uma incógnita.
No entanto, falhar em surpreender o espectador não quer dizer que as sequências de ação não empolguem. Por mais que aquele sentimento de espanto sobre algo inesperado não exista, é difícil não aproveitar a ação bem executada deste longa-metragem. Na hora em que uma dúzia de dinossauros estão à solta para causar o caos, não há como não se sentir entusiasmado com o conteúdo; e por mais que seja a quarta vez que a anarquia jurássica é exibida, ver tais animais tomando o leme da história é no mínimo gratificante. Com mais orçamento e maior poder no ramo dos efeitos especiais, é mais fácil aumentar a escala do desastre e colocar mais bichos na tela ao mesmo tempo. Dou também mérito à tais cenas de ação por elas fazerem o favor de poupar o espectador de algumas atuações pavorosas, vistas mais especificamente no começo de “Jurassic World”. Aparentemente, quando dinossauros em computação gráfica perseguem os atores, eles esquecem do quão péssimo seu trabalho estava sendo até então e mantêm uma postura mais aceitável.
Isso leva a outro dos problemas do roteiro, que, numa tentativa de tentar adicionar profundidade à velha história, adiciona um arco de sentimentalismo familiar no mínimo questionável. Nestes momentos, acredito que nem mesmo os envolvidos na execução conseguem esconder seu desgosto, o que é refletido em cenas memoravelmente lamentáveis. Por sorte, nunca há tempo para pensar demais nas tentativas falhas de arco de personagem e de drama. A ação mostra-se presente o bastante para enviar tais momentos ao merecido limbo do esquecimento. Ao mesmo tempo, “Jurassic World” faz questão de lembrar o passado com referências aos primeiros filmes inseridas ao longo da história, as quais frequentemente dão interessantes toques de nostalgia e variedade ao enredo. No mesmo caminho está a competente trilha sonora de Michael Giacchino, que ainda não é John Williams, mas em vários momentos apresenta aquele tom clássico que toca as cordas certas de memórias boas. As canções acertam infalivelmente enquanto algumas outras referências se esforçam demais para dar aquela piscadinha para a audiência.
Em geral, o que impede “Jurassic World” de ser um fracasso é sua eficiência nas sequências de ação. Os outros méritos vistos aqui fazem um esforço comendável para tentar acompanhar esse alto nível, tal como a trilha sonora. Mesmo sendo difícil engolir computação gráfica depois de “Mad Max: Fury Road“, ainda mais da forma surreal como é usada pela direção, não serei eu quem vai criticar sua qualidade. Uma CGI nunca será um animatronic bem feito, mas nem por isso é sempre ruim. A despeito de momentos de surrealismo gráfico, quando o diretor acha que por tudo ser possível tudo é aceitável, o saldo é positivo. Resta ao espectador ficar na torcida para a CGI não envelhecer mal, assim evitando que este seja mais um daqueles filmes que perdem força com o passar dos anos por se apoiarem tão fortemente na tecnologia presente.