Baseado parcialmente na história do cantor de folk Steve Tilston, que, ao dar uma entrevista para uma revista nos Anos 70, recebeu um feedback de ninguém menos que John Lennon. O detalhe é que, pela revista ter se apropriado indevidamente da carta, o cantor só foi receber a mesma mais de 30 anos depois. Quando contatado por um colecionador, Tilston finalmente descobre a existência de tal carta, que hoje é avaliada em cerca de 7 mil libras. Tomando este evento como a base verídica de sua história, o diretor e roteirista Dan Fogelman expande o escopo ao criar uma trama totalmente nova em cima de tal estrutura.
Danny Collins (Al Pacino) é um cantor de renome, que viu sua carreira estourar nos Anos 70 e nos dias de hoje vive na sombra de seu sucesso passado. Levando uma vida de vícios, gastos exorbitantes, e pouca produção musical, Collins vê sua vida mudar quando em seu aniversário recebe uma carta escrita a ele por John Lennon anos antes. Refletindo sobre como levou sua vida nos últimos anos, o cantor decide recomeçar do zero e correr atrás dos prejuízos de sua vida egoísta. Assim começa a jornada de renascimento de Danny Collins, tentando escrever novas músicas e compensar seu tempo como o pai ausente de Tom (Bobby Cannavale).
Embora a parte baseada em fatos reais seja pequena e mais pareça uma isca para fãs desavisados, ela funciona como uma metafóra, talvez involuntária, sobre a carreira recente de Al Pacino. Estreando em um filme ruim atrás do outro, Pacino há tempos não chega aos pés de trabalhos sensacionais seus, como Frank Serpico e Antonio Montana. Curiosamente, neste filme o ator deixa para trás seus recentes fiascos e entrega uma atuação competente, por vezes salvando o filme de seu roteiro ocasionalmente previsível. Apesar de simplesmente não ter a pose de astro do rock que o papel requere, é engraçado ver como Pacino se esforça; no mínimo fazendo uma relação interessante com a decadência enfrentada pelo seu personagem.
Apoiado por um elenco forte, o protagonista faz o que às vezes o roteiro falha, ou seja, impressionar o espectador. Bobby Cannavale e Anette Bening em especial mostram-se como dois coadjuvantes fortes, sendo seus dois personagens especialmente bem escritos para contrastar a natureza de Danny Collins. Enquanto o astro do Rock mostra-se como um canastrão convencido, mesmo que resista à essa natureza, seus companheiros de cena são o exato oposto. Seu filho é veementemente resistente à presença do pai em sua vida, enquanto Mary, a personagem de Bening, não é nem mesmo fã do cantor em primeiro lugar. Criando uma química de certa forma orgânica entre seus personagens, estes muito bem desenvolvidos, o longa tem sucesso notável nesta parte enquanto em outras nem tanto.
Apesar de ter escrito seus personagens muito bem, Fogelman não exibe a mesma dedicação em seu roteiro; que apesar de não ser ruim, não apresenta nenhuma novidade. O enredo em si não é lá dos mais incomuns, e mesmo com um plano de fundo único, a história de alguém que se dá uma segunda chance já foi vista várias vezes. Seguir um modelo mais ou menos estabelecido por outros filmes do gênero não constitui crime, nem nada do tipo; o porém é que a maneira como a história é desenvolvida, em momentos se mostra familiar demais. Não sou do tipo de pessoa que encontra prazer em tentar adivinhar o que vai acontecer a seguir, mas é difícil se surpreender de verdade aqui. O conteúdo em si não é ruim, mas as mecânicas dramáticas empregadas na escrita do roteiro simplesmente não criam um mínimo suspense em cima do que está para vir.
Para melhorar um pouco as coisas, há uma trilha sonora repleta de músicas da carreira pós-Beatles de John Lennon; e mesmo que algumas delas sejam usadas de maneira tão óbvia como o roteiro é apresentado, é sempre revigorante assistir a um filme regado de boa música. No fim das contas, a experiência mostra-se positiva por conta da excelente performance do elenco; que é responsável pela maioria dos eventos fortes do filme, seja através de suas relações espontâneas ou de simples momentos dramaticamente carregados.