Assistindo à trilogia original, alguns momentos duvidosos levantaram questões sobre o possível sucesso deste filme. Quando o quarto Mad Max estreou mundialmente nos cinemas para uma recepção mais que calorosa, uma pulga atrás da orelha surgiu quando tentei acreditar nos comentários alheios; ainda mais quando apenas um filme de três lançados realmente prestou. Mas depois de presenciar o defloramento sensorial que esta obra apresenta, qualquer questão pendente foi rapidamente resolvida através de uma explosão ou duas em alta velocidade.
Este filme é um reboot da série, o que significa que os eventos de “Mad Max 2” e “Mad Max Beyond Thunderdome” são apagados da história, e apenas a origem do personagem é mantida. Max Rockatansky (Tom Hardy) é um ex-policial que perdeu sua família para o colapso da sociedade e vaga pelos desertos em seu carro desde então. Quando o mesmo é capturado por um grupo de saqueadores, sua vida vazia parece perder o pouco de propósito que tinha. Mas quando Imperator Furiosa (Charlize Theron), uma das esposas do déspota local, se rebela contra seu líder e foge, as coisas passam a tomar um rumo para melhor.
Antes de tudo, quero que fique claro que se qualquer um dos três primeiros falhou em algum aspecto, seja ele colocar crianças em um filme sério ou esquecer do roteiro, estes foram devidamente corrigidos aqui. Uma maneira bem simples de classificar esta obra é simplesmente dizer que ela pode ser considerada um Mad Max com esteróides; pois não uma, nem duas coisas da franquia são escolhidas para serem exploradas aqui, literalmente todas estão aqui juntas. Pode-se dizer que o primeiro é mais focado em motocicletas e carros, enquanto o segundo foca mais em carros e caminhões, e o terceiro não foca em nada exatamente. Em vez de escolher algo diferente para explorar, este filme pega absolutamente tudo que foi usado nos predecessores e trabalha com elas tão vigorosamente, que é difícil imaginar que este pertence à mesma franquia que os outros três. Tirando os aviões e a luta de gladiadores, deram um jeito de inserir tudo o que importa; desde o caminhão até a espingarda de cano serrado estão presentes, o que não está nem um pouco longe de ser totalmente excelente.
Referente aos comentários que dizem que a protagonista de verdade é a personagem de Charlize Theron, e que o filme deveria ser chamado “Histeric Furiosa: Fury Road”, digo que Max tem tanto tempo de tela quanto em qualquer outro dos três filmes, se não mais. Furiosa recebe sim uma considerável parcela da atenção da trama, mas isso por si não constitui problema algum. A personagem é muito bem interpretada por Theron, sem contar que seu papel no filme é maior que simplesmente tomar tempo de tela que poderia ter sido de Max. Quanto ao protagonista em questão, seu tempo de tela não é bem o problema; mas apesar de uma performance sólida em boa parte do tempo, fica um pouco aparente que Tom Hardy não estava completamente confortável no papel. Alguns momentos ilustram bem tal noção, como quando o ator entrega seus diálogos de uma maneira quase receosa, se não soluçante. Vale notar que Max Rockatansky nunca foi um personagem de muitas palavras, o que é tão bom quanto é ruim para Hardy; pois apesar das oportunidades de falar serem mais escassas, as poucas ocasiões acabam exibindo ainda mais sua temerosidade.
Mas francamente, ninguém assiste Mad Max por causa de atuações brilhantes e comoventes; e em um filme de ação, ainda mais um da série Mad Max, as pessoas querem fogo e sangue. Com uma leve adição de combustível e fumaça, este longa-metragem se exalta por executar suas sequências de ação melhor que a maioria dos filmes de ação por aí. Um fato que faz toda a diferença aqui, e que se encontra em poucos filmes atualmente, é como fazem um uso mais dedicado de efeitos especiais práticos. Não que computação gráfica seja ruim ou não renda bom entretenimento, mas ver a coisa real acontecer diante dos olhos é algo um tanto mais intenso. Começando pelo fato que o filme inteiro é uma grande cena de perseguição, frequentemente intercaladas por outra perseguição ou por alguém tomando um tiro entre os olhos, esta obra consegue ser tão enérgica que é difícil não se empolgar ao menos uma vez. Até diria que difícil de verdade é não se manter empolgado por muito tempo, pois em raras ocasiões a trama dá uma parada para respirar. E apesar do filme ser um grande exagero de todo o material já abordado na franquia, em nenhum momento a experiência mostra-se esmagadora demais para os sentidos; pelo contrário, a mistura de adrenalina o tempo todo com efeitos práticos apenas soma às emoções fortes transmitidas, fazendo do longa uma viagem empolgante e um espetáculo visual singular.
Um dos melhores filmes de ação dos últimos anos, “Mad Max: Fury Road” impressionou não apenas por mostrar-se como uma competente obra do gênero Ação, mas por ser o melhor da franquia com folga. A única pergunta que resta é: Como George Miller conseguiu fazer tão bem o que falhou mais de uma vez previamente? Poderiam responder que o orçamento deste é pelo menos dez vezes maior que o da trilogia original junta, mas efeitos especiais e sets mais elaborados não é bem o que faz deste filme um sucesso. Tudo ajuda no final das contas, mas talvez nesses últimos 30 anos George Miller tenha refletido sobre o que deu errado; e tendo oportunidade de refazer tudo do zero, há de se dizer que o resultado foi bem positivo.