Como de praxe da era Heisei, mais um inimigo icônico de Godzilla é trazido de volta para enfrentá-lo como se fosse a primeira vez. O veterano diretor da franquia, Ishirô Honda, chegou a ser convidado para dirigir “Godzilla vs. Mechagodzilla II”, mas sua morte no começo de 1993 obviamente impediu que isso acontecesse. De qualquer modo, creio que o mesmo recusaria a oferta assim como recusou “The Return of Godzilla“, considerando que o mesmo mantivesse os motivos para não dirigir o longa de 1984.
O título pode parecer um pouco bizarro e levar o espectador a achar que o “II” no se refere a alguma continuação de “Godzilla vs. Mechagodzilla” ou “Terror of Mechagodzilla“. Pessoalmente, não faço a mínima idéia da função do “II”. Com certeza não indica uma continuação, nem que o monstro é uma segunda versão de Mechagodzilla: a Era Heisei desconsidera tudo depois do original de 1954, então não há primeira versão para se ter uma segunda. De qualquer forma, foi uma decisão infeliz que falhou em tentar diferenciar o longa de 1974 do de 1993. A trama, por outro lado, acerta onde o título erra e se diferencia claramente dos outros longas com Mechagodzilla, pois aqui ele é reimaginado como herói em vez de vilão. Seguindo a ideia plantada em “Godzilla vs. Mothra“, esta obra conta com outra organização dedicada a combater Godzilla, mas os resultados são mínimos.
Falha após falha, finalmente acabam construindo Mechagodzilla com a tecnologia de Mecha King Ghidorah. Da mesma forma como antes, Mechagodzilla é, efetivamente, uma versão aprimorada de Godzilla, a qual usa armas e tecnologia para superar seu oponente. Obviamente, já se sabe quem vence antes do filme começar, o que me fez pensar em algo que provavelmente não pensaram: tudo bem que uma tecnologia séculos mais avançada é superior a uma antiga, mas se Mecha King Ghidorah foi destruído, como diabos eles esperavam que outro robô com a mesma tecnologia venceria? Talvez eles pensaram no espectador, talvez simplesmente se divertem com o fato de milhares de pessoas morrerem a cada batalha. A resposta permanece uma incógnita.
Mesmo assim, é melhor não fazer muitas perguntas a um filme destes, ainda mais quando elas realmente não interferem na briga entre dois titãs. E que briga. Sem dúvida é uma das mais bem montadas, contando até mesmo com algumas reviravoltas interessantes. Dos filmes estrelando o robô gigante, este é o que melhor representa suas capacidades. Os efeitos atualizados criam uma atmosfera mais imersiva e dão mais margem para a ambição nas batalhas. É mais munição ao inimigo que mais precisa dela, o oponente mais astuto do Grande G. A única coisa que não acompanha essa melhoria é o design do robô. Nesse caso há uma certa tendência meio “The Phantom Menace” no visualdas coisas aqui, pois, assim como aquela nave toda cromada de Padmé, o robô é estilizado usando mais curvas e cromo. Pessoalmente achei o design menos ameaçador que sua versão dos Anos 70. As curvas e o estilo futurista limpinho são simplesmente menos imponentes que o sucatão bizarro de antes.
Agora, se tem uma coisa que realmente devo elogiar é como fazem Rodan ser útil. Ele continua como um dos kaijus menos interessantes, mas ao menos suas atitudes fazem alguma diferença na batalha — ao contrário de simplesmente bicar a cauda de outros monstros ou servir de elevador para Mothra. A sua luta contra Godzilla neste filme é o que se esperava em 1964 em vez daquela desculpa que só teve sucesso em desperdiçar tempo. De fato ele está mais Mothra que Rodan propriamente dito — o que pode ser o motivo do sucesso. Ainda assim, já é um avanço ver que ele é minimamente competente e até importante no final das contas. Curiosamente, este foi um momento de renascimentos. Não dão uma chance nova apenas para Rodan, até mesmo Minilla é reimaginado de uma maneira não infantil. Aqui ele está mais para um bebê Godzilla que para um bizarro kaiju anão, carinhosamente chamado de Baby (Ou “bêbi” no sotaque estranho).
Por outro lado, algumas bizarrices estão presentes, como a insistência em fazer alguns personagens falarem inglês. “Invasion of Astro-Monster‘ estrelou Nick Adams, um ator americano, e o colocou falando japonês. Faz todo o sentido, afinal de contas a produção é japonesa. Então por que diabos os próprios japoneses falam inglês aqui? Não há nenhuma explicação plausível, o mais provável é que tentam imitar filmes de ação americanos quando usam expressões militares como “Roger that” ou “Missiles activating in T-Minus 10 seconds”. Mas se a insistência permaneceu no projeto, ao menos poderiam falar o inglês decentemente — até mesmo frases simples como as citadas são faladas num sotaque muito perto do ininteligível. Tirando isso, ainda há as loucuras frequentes da franquia para bater ponto. A obsessão por plantas parasitas que usam música para se comunicar com monstros e os típicos telepatas nunca parece sair de moda.
Subindo um pouco a qualidade que caía desde “Godzilla vs. King Ghidorah“, este filme traz à tona um dos inimigos mais poderosos de Godzilla em uma batalha marcante da história do Kaiju.