“Invasion of Astro-Monster” é o sexto filme da franquia Godzilla e por mais que o nome não remeta muito ao kaiju, ainda faz parte da cronologia oficial. Este longa pertence à Fase Shōwa: que dura de 1954 até 1975 para a série e foi nomeada com base no período que o Imperador Hirohito reinou no Japão, de 1926 até 1989. Grande partes dos filmes dessa fase são mais leves em seu conteúdo e foi nela que várias características definitivas de Godzilla surgiram. Como várias obras da franquia, esta aqui também tem vários títulos alternativos e pode ser conhecida como: “Godzilla vs. Monster Zero”, “Monster Zero” ou “Invasion of Planet X”.
Dessa vez decidiram ser um pouco mais ambiciosos com a história e acabam inserindo diversos elementos característicos do Sci-Fi Espacial — como viagens interplanetárias, raças alienígenas e vida extraterrestre. O filme começa com a descoberta de um novo planeta no sistema solar, o Planeta X — que fica exatamente atrás de Júpiter, seja lá o sentido que isso faça. Sem demora a Terra manda uma nave espacial para explorar o território recém descoberto. Lá eles encontram uma raça alienígena inteligente que se mostra disposta a criar vínculos diplomáticos com a Terra. Porém algo meio sinistro na atitude dos extraterrestres deixa os astronautas desconfiados; o Planeta X propõe uma troca entre os dois planetas; a Terra oferece a ajuda de Godzilla e Rodan contra o Monstro Zero e o planeta dá a cura contra o câncer.
Não sei se seria apropriado contar mais sobre o enredo, pois acho que talvez estrague um pouco da experiência, mesmo que a trama não seja lá das mais complexas. De qualquer forma, ela é muito bem construída e sua execução é bem concreta, fechando a história de maneira bem sólida. Não é nada polêmico ou inovador, mas para um filme do Godzilla é certamente um passo na direção certa. Por mais que o conteúdo não seja lá grande coisa quando comparado ao de um filme “sério”, é mais que excelente diante dos outros longasda franquia.
Por algum motivo que foge à minha compreensão, a ação entre os monstros sofre ao passo que uma atenção maior é dada ao enredo. Poderiam muito bem ter mantido a ação decente dos dois longas anteriores e juntado com a história legal dessa obra, mas isso não acontece. Pior, a ação sofre em qualidade e em tempo de tela. Temos uma pequena cena de luta no começo, que é bem legal, embora seja um pouco curta; após isso se passa quase uma hora até que os monstros voltem a lutar. Lá por 15-20 minutos há um pouco de ação protagonizada pelos kaijus, luta mesmo só nos 3-4 minutos finais. Esta, além de curta, é um tanto decepcionante. A coreografia é praticamente uma versão piorada da vista em “Ghidorah, the Three-Headed Monster“, enquanto as poucas novidades não a melhoram de forma alguma.
Ao longo do filme há duas sequências de briga entre os monstros, sendo a primeira a melhor das duas e a mais curta também. Mas claro que todo sucesso não pode sair ileso, pois seu desfecho é uma das cenas mais estúpidas da história do cinema: após repelir o monstro do Planeta X, Godzilla dá pequenos saltos e dança comemorando sua vitória em um dos momentos mais cheios de japoronguice de todos os tempos. Essas cenas são terríveis por natureza, embora sejam um pouco mais suportáveis em Mangás e Animes, mas dessa vez esqueceram de separar as coisas e a bobeira achou seu caminho até esta obra. Esta é uma daquelas coisas tão desnecessárias que é impossível levá-las a sério quando comparadas com o resto do longa; exatamente o que acontece com algumas cenas igualmente escrotas de alguns filmes da franquia 007.
A mudança da personalidade de Godzilla também é algo que choca. Ele não está virando apenas um anti-herói mas também está se tornando meio bobão. Suas reações a alguns ataques de King Ghidorah, por exemplo, são no mínimo dignas de um programa infantil, coisas como dar pulinhos com cada choque e rodopiar no lugar. Outra coisa que também não entendo é Rodan. Muitos questionam Mothra pela sua anatomia e estilo diferentes, mas Rodan é simplesmente inútil. Ainda não entrou na minha cabeça qual o propósito desse personagem até agora. Ele até tinha potencial, como é visto em sua primeira cena do filme anterior, mas em todas as sequências seguintes sua assistência nas lutas é mínima, se não irrelevante. A não ser que alguém considere segurar o rabo do inimigo com o bico algo efetivo, é claro. Pelo menos o dragão dourado de três cabeças volta para compensar em termos de ter um kaiju com presença. Sem decepcionar, Ghidorah continua tocando o terror e destruindo em poucos segundos muito mais que Godzilla destruía em um filme inteiro.
Por mais que as lutas tenham sofrido em questão de qualidade quanto e de duração, a trama bacana compensa essa falha e mantém a obra no mesmo patamar de qualidade que os dois filmes anteriores. Ela não só é melhor desenvolvida, como também traz Akira Takarada de volta pela segunda vez como um dos protagonistas, o que nunca é notícia ruim.