Produzido para comemorar o vigésimo filme de kaiju produzido pela Toho, “Destroy All Monsters” também era para ter sido a última aventura de Godzilla de todas. Por isso acabou ganhando um significativo aumento de orçamento em relação aos seus predecessores, o que é sinônimo de aumento de monstros. Sendo assim, a Toho traz kaijus de outras produções suas para cá, totalizando 11 monstros diferentes no total. O longa também foi o último a ser produzido pela equipe veterana de Godzilla completa, incluindo o diretor Ishirô Honda e o supervisor de efeitos especiais Eiji Tsuburaya. Após 1969 Honda só voltaria a dirigir outro filme da franquia em 1974, com “Terror of Mechagodzilla“.
Novamente a trama explora o tema de invasão alienígena com uma pegada mais para a ficção científica, diferente dos dois últimos longas da franquia com sua entonação leve e direcionada para o público infantil. Como esse era pra ser o último de todos, creio que escolheram fazer um filme do Godzilla da maneira como ele devia ser feito; fechando a série com dignidade, em vez da desculpa para ganhar dinheiro que foi o último longa. A trama avança muitos anos e se passa num futuro onde todos os monstros do planeta foram capturados e presos em uma ilha isolada. Então uma invasão alienígena surge para tocar o terror e solta os monstros no mundo. Por ser localizado no futuro, “Destroy All Monsters” se posiciona no fim da linha do tempo da Era Shōwa, mesmo não sendo o último filme lançado nesse período.
Apesar de puxar mais para o lado de “Invasion of Astro-Monster“, com um enredo sobre viagem espacial e invasão alienígena, a trama não chega a ser tão consistente quanto a dele, enrolando excessivamente em alguns pontos e atrapalhando um tanto o ritmo veloz do filme. Sem chegar ao ponto de lentidão de “Ebirah, Horror of the Deep“, o longa-metragem rapidamente recupera o fôlego com cenas de ação intensas e destruição alheia nas grandes cidades do mundo. É um bate-volta breve que fere a obra sem dar a ela um ritmo bizarro. Isto até me faz pensar emcomo não pensaram num Engenheiro Civil estilo Lex Luthor como o próximo vilão de Godzilla, uma vez que há uma considerável no número de vezes que a cidade foi reconstruída.
É um prazer poder dizer que finalmente os produtores acertaram nas cenas de ação entre os kaijus, pois não tenho nenhuma crítica quanto a ação entre os monstros. Tudo é muito bem elaborado e pensado para criar sequências de batalha críveis o bastante dentro de suas próprias limitações. Longe das coreografias mal trabalhadas, extremamente simplistas e que não faziam sentido de antes. “Destroy All Monsters” não tem Godzilla realizando nenhum tipo de Shoryuken, mas os movimentos usados fazem todo o sentido no contexto fictício da história. As porradas que os monstros desferem uns nos outros parecem terem sido feitas para machucar e incapacitar o oponente, não para derrubá-lo no chão por meio segundo.
Junto das coreografias excelentes está o elenco de monstros, que não é só extenso e variado mas também é bem utilizado. Dentre os monstros que dão as caras, alguns são conhecidos: como Mothra, Angilas, a Aranha Gigante de “Son of Godzilla“, o sempre inútil Rodan e o grande King Ghidorah. Alguns deles receberam uma boa revitalizada em seu design, como Angilas — visualmente mais realista e menos barato que em “Godzilla Raids Again” — e até mesmo Kumonga — a aranha gigante que dessa vez parece ser realmente uma aranha e não um marionete mal manipulado.
Em geral, pegaram os aspectos bons perdidos ao longo de vários filmes e juntam a maioria em “Destroy All Monsters”: coreografias de luta em sua melhor forma; trama de ritmo relativamente rápido, que deixa a parte humana quase tão aceitável quanto as sequências com monstros; muitos kaijus diferentes apropriadamente representados; o melhor design de Godzilla até o momento; e quase nenhuma estupidez no comportamento dos monstros, sem japoronguices e sem piadinhas sem graça. A única coisa que não mudou — e creio que nunca mudará — é Rodan, que ainda está para mostrar alguma utilidade que não seja voar pelos céus de uma forma pouco real.
O conjunto de elementos usados para a composição desse longa é basicamente a fórmula para um bom filme do Godzilla. Não apenas bom, mas que se encaixe na ideia popular que se tem do monstro: um dinossauro gigantesco que destrói cidades e combate monstros tão grandes quanto ele em embates titânicos. Não uma criatura que faz dancinhas de vitória e age como um bobalhão contra seus oponentes. Se os outros filmes seguirem esse padrão certamente a franquia só se beneficiará.