O filme com um dos títulos mais populares da cultura pop, “Rebel Without a Cause” tem sua tradução literal extremamente usada para caracterizar adolescentes revoltados sem causa aparente. A obra também foi responsável por estabelecer a carreira de James Dean como uma estrela de Hollywood após ele atuar em “East of Eden“, longa lançado no mesmo ano que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator.
O trabalho mais celebrado de James Dean envolve a trágica trajetória de um grupo de adolescentes do ensino médio; mais focadamente no personagem de Dean, que interpreta um adolescente revoltado sem ninguém saber o porquê. Numa olhada superficial realmente não há causa para tudo isso, como o título sugere, mas após uma análise mais profunda já se vê que há motivos de sobra. Como todo adolescente que se preze, para ele há motivo de revolta e desobediência em praticamente tudo ao seu redor; e da maneira como Nicholas Ray representa a situação tudo fica compreensível e aceitável. Longe da representação popular do adolescente chato e inconveniente. O personagem de Dean é Jim Stark, um garoto novo na cidade que procura em outras pessoas a atenção que não encontra em sua família chata. No entanto, a cidade não está tão empolgada com sua chegada quanto Jim está por chegar nela, tornando toda essa procura por afeto um pouco mais complicada.
Por mais que essa representação da vida adolescente seja muito clara e bem exibida, é um pouco difícil de engolir James Dean como um jovem de 16 anos. Tudo bem, sua atuação é excelente e não tenho reclamações quanto a isso, mas ao olhar pra cara do protagonista não tem como acreditar que aquele homem de vinte e tantos anos seja um adolescente rebelde. Ao menos em “Grease” era bem mais fácil aceitar John Travolta como um adolescente, talvez pela caracterização do filme ser mais leve e infantil, ao contrário da atmosfera mais séria e dramática vista aqui.
Como sempre, Nicholas Ray consegue criar um clima de sentimentalismo e drama muito profundo, que nesse filme faz toda a diferença quando se fala no impacto de sequências tão focadas na emoção. Os eventos do filme são relativamente simples, mas como sua essência é completamente estruturada no drama eles acabam sendo amplificados pela maneira como Ray usa atores, diálogos e até a própria cinematografia. No geral, muito do longa-metragem compartilha de similaridades fortes com o teatro, pois muitas cenas são encenadas quase como se o ambiente fosse um palco. Ouve-se diálogos melodramáticos e melancólicos que tocam a alma do locutor cada vez que são proferidos. Tal característica tornou-se tão notável a ponto de ser referência em exercícios de dramaturgia. Em “The Sopranos“, por exemplo, o personagem Christopher Moltisanti interpreta uma cena dessa obra como um exercício de seu curso de roteiro e atuação.
Assim como em “Johnny Guitar“, todo e qualquer evento tem uma carga emocional fortíssima. Dada a natureza selvagem e inconstante do adolescente, essa qualidade se aplica muito bem ao que é proposto pelo enredo. A fase da adolescência é crítico na formação e estruturação da identidade. O produto final de todo esse processo é tão imprevisível quanto seu desenvolvimento e e depende fortemente das influências externas até mesmo em dois indivíduos que partilham o mesmo ambiente. Os parentes imediatos são uma influência fortíssima no desenvolvimento da pessoa, resultando num impacto direto no comportamento diante da família e naquele visto fora de casa. No caso do protagonista, este núcleo familiar é longe do ideal e isso traz toda aquela leva de conflitos mencionada antes. Tratando de um assunto tão complexo, este filme não desaponta. Graças a excelente construção dos conflitos familiares temos um verdadeiro espetáculo de emoções interpretado pelo igualmente excelente elenco.
É um processo esquisito. Algumas mudanças acontecem sem que o mesmo note, enquanto várias outras são sentidas na pele quase imediatamente. Coisas que mexem muito com um indivíduo — positivamente ou negativamente — normalmente têm um impacto maior na sua personalidade. A reação do indivíduo depende muito do valor deste elemento desequilibrante, mas de forma geral pode-se dizer que o indivíduo costuma rejeitar atitudes de outras pessoas que o incomodem. No caso da trama, isto é exibido bem claramente nas maneiras como Jim se relaciona com pais e amigos. É claro que ele não se enxerga no lugar de seu pai por discordar tanto de suas atitudes, mas não é por isso que ele concorda com as pessoas de sua idade também; a diferença é que ele só se sente na posição de questionar sua família, com outros ele joga o jogo deles e tanta vencer nele. Mais interessante é como a manipulação de emoções melhora todo esse processo, uma vez que o conflito se concentra justamente naqueles que amam tanto o protagonista. Mas de longe o que impressiona em tais sequências é a naturalidade da representação de relações entre pessoas, que detém um valor não só artístico como pedagógico, podendo ser um ótimo instrumento de estudo do comportamento adolescente.
Além de sua exibição íntegra do ser humano, “Rebel Without a Cause” também teve um impacto significativo na cultura da década de 50, quando a sociedade se recuperava dos danos da Segunda Guerra Mundial e aparentemente enganava a si mesma ao achar que a nova geração de crianças estaria isenta dos horrores do conflito. Levando em conta a cultura da época, que reprimia e muito a expressão de ideais, a obra foi um belo tapa na cara de todos, revelando que, por mais que as pessoas queiram esconder, o que é verossímil sempre vem à tona. Uma obra valiosíssima do gênero Drama e outro ótimo filme de Nicholas Ray, que representa o estava na cabeça de diversos jovens da época e revela a impostura adotada pelos pais desses jovens.