Esta adaptação da obra literária homônima escrita por John Steinbeck, autor muito estimado da literatura americana, foi a obra que lançou a carreira de James Dean nos cinemas. Após diversos trabalhos pequenos em comerciais de televisão e peças de teatro, o ator foi escalado para o papel principal em uma audição entre Dean e Paul Newman realizada pelo diretor Elia Kazan. Este também foi o único trabalho da curta carreira do ator que o mesmo teve a oportunidade de assistir após completo, além de ser o único que o sucesso de bilheteria pôde ser presenciado por Dean, que observava o movimento nos cinemas ao passar pelas ruas de Los Angeles em sua motocicleta.
Essencialmente uma recontagem dos eventos bíblicos envolvendo Cain e Abel, mas longe de ser um filme religioso, este filme acompanha a história e os atritos de uma família do interior da Califórnia. Composta por Adam Trask (Raymond Massey) e seus dois filhos Cal (James Dean) e Aron (Richard Davalos), a família é rigorosamente regida pelo senso de moralidade do pai, este fortemente ligado aos valores cristãos de sua religião. Focando especialmente em Cal, a trama tem como destaque as dificuldades do personagem em buscar sua própria identidade e o amor de sua família.
Creio que uma das qualidades mais redentoras que qualquer filme possa possuir é autenticidade nos fatos que representa, e com isso não digo que as histórias necessitam de um pano de fundo necessariamente baseado em fatos ou pessoas reais. Conceitos fictícios ou não, se convincentes o bastante causam um efeito catártico que poucas vezes é atingido e frequentemente parece pretensioso quando mal executado. Nesta obra, e especificamente na atuação de Dean, vemos essa autenticidade florescer. Apesar de curta, a carreira de James Dean foi certamente um estouro tão grande que seu fim repentino apenas contribuiu para a canonização de sua figura na história do Cinema.
James Dean perdeu sua mãe para o câncer quando o mesmo tinha apenas 9 anos, perda esta que abalou o relacionamento com seu pai e fazendo da infância do ator um período difícil. Sendo a infância e adolescência períodos cruciais para o desenvolvimento da psique do indivíduo, é relativamente fácil saber de onde vem toda essa fidedignidade da atuação de Dean ao interpretar adolescentes problemáticos e não compreendidos. Similar ao que se vê em “Juventude Transviada“, temos novamente um jovem com problemas familiares, dessa vez abordados em um ambiente um pouco diferente de seu segundo filme. Enquanto a obra de Nicholas Ray aborda a explosão de emoções em um ambiente escolar tipicamente americano, este filme aborda o assunto em um espaço mais tradicionalista, com o conservadorismo religioso condizente com a década de 10. Os conceitos religiosos são integrados nas relações interpessoais de forma que o impacto dos valores de cada um dos envolvidos esteja notável para o espectador, entendimento atingido perfeitamente através dos movimentos e expressões dos seres humanos na tela. O sofrimento e a aflição de Cal, por exemplo, são mostrados organicamente, sem que seja necessário que o personagem esfregue palavras na cara do espectador para clarificar sua agonia.
Tais relações interpessoais e fortemente emocionais são o foco principal da obra de Elia Kazan, a cabeça por trás deste longa-metragem que aborda tão genuinamente aspectos frequentemente negligenciados, ao serem tantas vezes visto no correr da vida. Em sua representação fidedigna da tempestade de sentimentos de um adolescente ao encarar a falta de uma mãe e o desamor de um pai, Kazan amplifica com sucesso a tensão apresentada através de seu jogo de câmeras intrigante. Usando ângulos costumeiros e até outros vistos menos frequentemente no cinema em geral, Kazan brinca com a hierarquia pré-estabelecida ao fabricar jogos de poder inesperados. Mais do que isso, Kazan merece um certo mérito por conseguir retratar um James Dean de 24 anos adequadamente como um juvenil, ao invés de um jovem adulto como no caso de “Juventude Transviada“.
Representando bem o sentimentalismo de seus personagens, Elia Kazan faz um trabalho notável ao usar James Dean da maneira em que ele é mais eficaz: cenas emocionalmente fortes envolvendo empecilhos psicológicos mal resolvidos. Apesar de tudo, esse é basicamente o único assunto trabalhado pelo filme inteiro, sendo um tanto carente de uma trama mais definida. O que é considerado como a história principal é mais um rascunho, pois há um foco extremo no desenvolvimento dos personagens em detrimento de uma história, tornando o filme um tanto cansativo em alguns momentos. Ao menos os esforços postos em cima dos sentimentos dos personagens é recompensador o bastante para proporcionar uma ótima experiência.