Pela primeira vez na série, um filme da franquia Godzilla traz outro kaiju de produção original da Toho: Mothra, a mariposa gigantesca. Mais tarde o monstro seria reconhecido como um dos oponentes mais icônicos do Rei dos Monstros e apareceria em outros oito filmes da franquia. Além de se estabelecer como um dos monstros coadjuvantes mais comuns da série, Mothra também teve quatro produções exclusivas pela Toho.
Seguindo os eventos do último filme de maneira relativamente direta, o enredo acompanha a aparição de um ovo gigante numa praia do Japão. Não demora para empresários inescrupulosos tomarem posse do ovo, o que faz com que problemas comecem a surgir. Após um pouco de enrolação humana, o ovo logo mostra ser proveniente de Mothra, que surge para combater Godzilla quando este coloca-o em perigo.
Felizmente, conseguiram consertar os diversos problemas encontrados em “King Kong vs. Godzilla“, principalmente os humanos insuportáveis, um dos aspectos mais incômodos. Quando trouxeram Akira Takarada de volta à série, tive a impressão de ter visto aquele ator em algum lugar: Takarada participou do original como um dos protagonistas. Com certeza essa foi uma decisão feliz, porque muito tempo de tela é dedicado ao elemento humano; mas como conseguem executar esse aspecto decentemente, a experiência deixa de ser maçante. Inclusive parece que se livraram totalmente da ideia de mudar a entonação da franquia para algo mais suave, pois alguns elementos maduros, como estelionato e assassinato, aparecem, colocando o nível de maturidade visto aqui milhas longe da palhaçada do filme anterior.
Por mais que uma mariposa gigante não seja a ideia mais sensata de monstro aterrorizante e poderoso, Mothra é um monstro bacana porque, ao contrário de outros oponentes que usam força bruta, usa destreza e movimentos mais ágeis que fortes. A luta entre os dois é bem montada e é uma evolução grande em relação aos dois filmes anteriores, que tinham uma coreografia ainda mais amadora quando comparada aos golpes mais bem definidos e às técnicas presentes aqui. Godzilla também assume uma postura mais normal, sem estar sob o constante efeito de drogas como no predecessor. Ainda assim, isso não impede que ele em alguns momentos ele seja um tanto pateta, cometendo erros imbecis como tropeçar nas coisas e se enroscar nos prédios.
Outro ponto melhorado são os efeitos especiais, que nem parecem que são supervisionados pela mesma pessoa de antes, Eiji Tsubaraya. Dessa vez não há pessoas azuis e muito menos objetos atirados contra uma tela de projeção. Mesmo quando as pessoas são posicionadas perto de objetos maiores, como o ovo de Mothra, ou objetos menores, como as fadas meio gnomos da trama, não há tanta divergência visual como visto anteriormente. As miniaturas inclusive voltam a ter uma qualidade mais próxima dos dois primeiros filmes, usando modelos mais realistas e detalhados; tal como é visto nos tanques de guerra, que parecem ser de verdade ao contrário de plástico barato.
Outra coisa que tinha se perdido nas obras anteriores e que voltou de forma mais sutil, mas ao menos está presente, é o sentimentalismo e a moralidade do primeiro filme. No segundo há um breve comentário irrelevante que remete ao anti-nuclearismo do original; enquanto no terceiro passam o tempo todo sem falar nada sobre o assunto, até que no final tentam encaixar algo sobre proteger a natureza que não tem nada a ver com o resto da trama. Neste caso trazem à tona a moralidade quando os erros da humanidade começam a custar vidas inocentes. O conceito é apresentado de um jeito interessante, não tão fora do lugar como no terceiro filme,e nem tão primário como no primeiro. Mantiveram o sentimentalismo vivo sem deixá-lo tão discrepante e colado na cara do espectador. Claro, isso não significa que esta obra seja melhor que o original. Neste ponto, o foco da série já mudou bastante, logo a moral não faz tanta diferença por o resto da obra não está mais tão centrada no desenvolvimento de seus temas.
Melhorando absurdamente algumas partes mal executadas do seu predecessor e corrigindo outras que começaram em “Godzilla Raids Again“, “Mothra vs. Godzilla” aumenta o hype em relação aos outros 24 filmes da franquia. Definindo mais solidamente as características que tornaram a série tão famosa ao longo dos anos, o longa certamente se mostra como um dos melhores da série dentre os que vi até agora.