Após um bom hiato de sete anos, a Toho voltou a produzir outro filme da série Godzilla em 1962. Estrelando King Kong e o Rei dos Monstros, este longa também estreia o uso do Widescreen e da imagem em cores. Até hoje este é o filme de mais sucesso comercial entre todos as produções japonesas, o que levou a Toho a produzir outro filme de King Kong sem a presença de Godzilla. Apesar de parecer uma realização de um sonho de criança, algumas mudanças de roteiro e vários defeitos levam esta obra a ser uma grande decepção.
Aparentemente Eiji Tsubaraya, o responsável pelos efeitos especiais, queria levar a franquia para um lado mais leve para aumentar a audiência. Ele propôs fazer deste longa algo mais apelativo para crianças e o público jovem. Mesmo desagradando alguns, a Toho aprovou a mudança, que resultou em mais cenas de humor do que ação propriamente dita. Até digo que tentativa de humor é um termo um tanto mais adequado, pois se a intenção dos personagens era ser engraçados, falham miseravelmente e são apenas chatos mesmo.
Basicamente composto por três personagens principais, o elenco humano está centrado numa indústria farmacêutica desesperada por clientes. Mandando uma equipe de funcionários para comprovar a existência de um monstro gigante, a empresa visa de alguma forma fazer do monstro seu futuro patrocinador. Como diabos uma criatura gigante preocupada apenas com a destruição mundial faria isso funcionar, logicamente, é uma incógnita, da mesma forma que como dois funcionários trapalhões conseguiriam fazer o plano funcionar está longe da minha compreensão.
Sendo o primeiro filme em cores da franquia, detalhes menos trabalhados que possam ter passado despercebidos nos dois primeiros estão mais expostos nesse. O preto e branco pode ter escondido muitas minúcias e funcionado bem com os efeitos precários, mas não acho que a troca de cores seja o único fator decisivo, houve sim queda na qualidade dos cenários miniatura. Nos ambientes externos não há tanta diferença, mas nas cenas da cidade tudo parece muito mais de mentira quando comparado aos primeiros. Tanto os prédios quanto os modelos de carros são claramente artificiais. A diferença é tanta que chegam ao ponto de tentar fazer um modelo infantil de trem de brinquedo se passar por um de verdade.
Outro aspecto que o longa pecou muito foi nos efeitos visuais, principalmente quando tentam colocar as pessoas perto dos monstros. Algumas cenas em que os humanos estão próximos das criaturas dá pra ver de longe quão ruins são os efeitos. E isso não por questões de envelhecimento ruim, tenho certeza que foram mal aplicados para os padrões da época mesmo. A qualidade é tão péssima que as sombras nas roupas e nas pessoas saem azuis nessas cenas entre humanos e monstros, em vez do preto ou cinza. Pior ainda é quando tentam colocar humanos como bonecos, onde parecem usar aquela cópia barata da Barbie de cabelo duro em vez de um modelo decente.
De alguma forma também pioram a qualidade das lutas entre os monstros, com um ou outro momento se salvando e podendo ser considerado uma evolução em cima do que é visto em “Godzilla Raids Again“. De resto, elas parecem ainda mais amadoras que as anteriores, com coreografias sem sentido e sequências pouco empolgantes. O ápice do mau gosto é atingido nas cenas com o polvo gigante, na qual claramente tentam simular o tamanho dele com uma grande tela de projeção no fundo do quadro. Como saber se essa foi mesmo a técnica utilizada? Inteligentemente, a produção não deve ter pensado que quando objetos são atirados contra uma superfície plana, eles caem verticalmente, matando assim qualquer senso de profundidade.
Indo contra a maré dos dois primeiros, o elemento humano aqui é de longe o mais mal trabalhado. Enquanto o começo da franquia ainda contava com personagens decentes, aqui conseguem introduzir uma onda de humanos sem graça e entediantes. Sim, estou olhando diretamente para Mr. Tako, o insuportável personagem que tenta ser incisivo em suas atitudes e acaba sendo apenas desinteressante. O resto do elenco até poderia ter passado impunes se o roteiro não os forçasse a participar de cenas ridículas, que supostamente eram pra ser estandarte do humor desbravador de audiências.
Somando tudo isso a um King Kong com retardo mental e uma fantasia horrível, temos um regresso significativo quando comparado ao segundo filme e ainda maior quando comparado ao primeiro. Ao menos a tendência de transformar a série em uma franquia de filmes de monstros já está melhor concretizada. Há bem menos humanos falando sobre Godzilla e mais tempo de lutas entre monstros, o que é sempre bom quando bem aplicado.