“Jersey Boys” é o mais recente esforço cinematográfico de Clint Eastwood como diretor, que com este longa chega perto de 40 trabalhos dirigidos em sua carreira. Adaptando o musical de sucesso hômonimo, Eastwood conta de sua maneira a história de quatro jovens, que cresceriam para se tornar o grupo “The Four Seasons”.
A trama conta a história de como Tommy DeVito formou a banda “The Four Seasons”, famosa pela estridente voz de Frankie Valli, e como mais tarde trouxe o grupo ao declínio. Ambientado em Nova Jérsei, o longa começa com uma entonação característica de filmes de gângster: “The Sopranos” encontra “The Godfather” quando os cenários do seriado de TV são usados na época abordada pelo trabalho de Coppola. O longa conta até mesmo com a participação de Steve Schirripa, Bobby Baccalieri em “The Sopranos“. Dessa forma, o filme vai além de ser um bom filme sobre o mundo da música e acaba sendo, de sua maneira, uma ótima revisitada nessas duas obras tão queridas pelo público.
Criticado duramente por sua incapacidade de dirigir um Musical, Clint Eastwood de fato falha se esta foi sua intenção com este longa-metragem. Por outro lado, não encaro o filme como um trabalho do gênero, pois não há nada que diga isso, exceto talvez pelo fato do longa ser baseado num musical homônimo da Broadway. Talvez um mal entendido tenha surgido por conta deste material base, mas não há porquê avaliar mal esta obra por sua suposta pretensão, acredito que seja importante gostar ou desgostar dessa obra pelos motivos certos. Há apenas uma cena no filme inteiro que envolve uma coreografia com música ao fundo, excelente, por sinal. Entretanto, ela serve mais como uma apologia ao musical original do que outra coisa, ainda mais quando a abordagem usada por Eastwood é tão obviamente diferente.
Seja qual for o caso, Clint Eastwood aborda a trama de forma que a trajetória da banda seja contada de maneira clara, ao mesmo tempo que guarda espaço para os sucessos dos “Four Seasons”. Músicas da banda como “Sherry”, “Big Girls Don’t Cry”, e “My Eyes Adored You” marcam presença ao longo da história, reproduzindo o esplendor dos vocais de Frankie Valli em cenas que colocam o grupo tocando frente a audiências admiráveis. Tais momentos mostram-se organicamente colocados no enredo, servindo muito bem como uma ilustração musical da evolução da banda em vez de uma exibição gratuita das músicas do grupo.
O elenco exibe-se tão forte quanto poderia ser, composto primariamente por atuações sólidas e que definem muito bem cada personagem. Acredito que não se poderia esperar menos, considerando que alguns atores foram os mesmos da peça de teatro. Com o uso da narração, realizada por personagens diferentes, Eastwood deixa a narrativa mais interessante e dá riqueza a ela ao adicionar pontos de vista particulares de cada personagem conforme o narrador muda. Nos momentos finais do filme, uma cena é especialmente favorecida por essa mecânica, pois com certeza não seria tão especial caso fosse não tivesse o bônus dessas narradores diferentes.
Mantendo um ritmo relativamente consistente até os momentos finais, o diretor tem sucesso em trazer novos artifícios para renovar o interesse do espectador; estes sendo compostos principalmente pelas músicas vivas da banda, que não deixam a desejar em nenhum momento. Talvez em três quartos de duração o ritmo dê uma desacelerada, mas acredito que este seja o efeito dos temas deprimidos abordados, que caso fossem exibidos de forma mais alegre não seriam tão convincentes. Ainda assim, não tem como não notar que algo parece fora do lugar nesse trecho.
Mas o aspecto involuntariamente mais sensacional de todos seja a presença do personagem Joe Pesci no filme, interpretado por Joseph Russo. Trazendo também “Goodfellas” ao aglomerado de obras de Gângster, o personagem Joe Pesci mostra ter um papel extremamente importante na concepção da banda e mais tarde na vida profissional de Tommy DeVito, como mostrado. Curiosamente, o ator Joe Pesci mais tarde faria o filme que deu a ele seu único Oscar, “Goodfellas”. O nome de seu personagem no filme? Tommy DeVito.
Musical ou não, direção equivocada ou não, Clint Eastwood certamente acerta no que se refere a contar uma boa história. Trazendo à luz a interessantíssima história dos “Four Seasons”, o diretor entrega um competente filme sobre uma excelente banda.