O último dos filmes antigos exibidos pelo Cinemark, “Breakfast at Tiffany’s” finaliza com uma variação de temática e elenco ao substituir um John Travolta dançarino por uma suave e carismática Audrey Hepburn. Devo admitir que estava pouco empolgado para ver este longa, mas felizmente ele foi um dos que mais gostei. Parte do meu desinteresse, por algum motivo, se deu porque essa sempre foi uma obra comentadíssima pelos fãs de cinema, especialmente por garotas que idolatram a imagem de Hepburn aqui. Talvez por isso imaginei que a obra seria apenas uma ostentação da imagem da atriz, o que, felizmente, não acontece.
Blake Edwards dirige a adaptação da obra de Truman Capote sobre a vida de Holly Golightly, aspirante à socialite, e sua relação com Paul Varjak, seu vizinho e escritor meio perdido. Fãs puristas de Capote criticam o longa por seu excesso de leveza nas partes mais sórdidas do livro, assim como reclamam das escolhas de elenco. Como uma pessoa que apenas viu o filme, posso dizer que o sentimentalismo é bem dosado e que a obra toda não dá a impressão que foi mudada indevidamente, com poucas falhas no geral.
Essencialmente, esse é um filme passeio, ou seja, uma obra de trama pequena e focada nos personagens e suas relações. A pomposa e excêntrica protagonista, interpretada por Audrey Hepburn, se posiciona no centro da trama como o objeto principal de exame do enredo. Detentora de uma personalidade complicada, Holly aos poucos é descoberta e desmantelada conforme seu vizinho galante entra em sua vida. Não vivendo apenas de desejos e sonhos supérfluos, a vida de Holly Golightly se torna um emaranhado de mistério e complexidade quando sua história é revelada por uma figura de seu passado. Mostrando ser mais que uma jovem adulta inconsequente, sua vida ganha uma perspectiva interessante; a personagem vai de interesseira a lutadora por seu lugar na sociedade, uma jornada de redescobrimento camuflada nas camadas de seus problemas.
Uma exploração interessante das máscaras e da substancialidade do ser humano é traçada aqui — mesmo que sutilmente — estando ali para aqueles que estiverem atentos e dispostos a enxergar esse filme além de sua aparência. Talvez eu tenha me surpreendido e gostado tanto de “Breakfast at Tiffany’s” justamente por ele mexer com aparências. Aqueles que evitarem julgamentos prematuros verão que o filme, assim como Holly, têm muito para mostrar.
Holly conta com a companhia de um elenco variado e competente, também responsável pela riqueza presente aqui. George Peppard interpreta o sagaz Paul Varjak e Patricia Neal a charmosa concubina que o sustenta, dois personagens essenciais para o desenvolvimento das relações principais. Peppard entrega uma atuação dual, receosa e determinada ao mesmo tempo, uma vez que seu personagem está constantemente preso aos jogos de Holly. Vale notar que dualidade não significa inconsistência da parte do ator, ela se encaixa perfeitamente no contexto da história. Nem o personagem, nem a protagonista sabem ao certo quem é a senhorita Gollightly de verdade, então faz todo o sentido que ele tenha seus receios nas suas relações com ela.
Inicialmente este parece ser apenas outro filme medíocre que ficou famoso pela atriz, mas logo se revelam suas verdadeiras cores e a abundância de qualidade que vem junto no pacote. Ainda assim, isso não evita eventuais deslizes de cenas anti-climáticas, as quais, por consequência, ferem o ritmo estabelecido anets. Exemplo disso é a irrelevante sequência do violão, que parece apenas uma desculpa para concorrer ao Oscar de Melhor Canção Original. Simplesmente param de contar a história para o número musical, como se não houvesse nada para se preocupar. Obviamente não poderia deixar de fora o estupidamente cartunesco vizinho oriental de Holly. Criticado universalmente por estereotipar negativamente o povo oriental, o personagem se esforça demais no uso de clichês para ser um alívio cômico, mas fracassa miseravelmente e mancha o competente elenco com sua presença.
“Breakfast at Tifany’s” não desaponta ao se fazer merecido de sua fama de bom filme. No geral, o longa é uma experiência muito agradável, que concretizou positivamente a imagem de Audrey Hepburn e fez dela a tal atriz que fez “Bonequinha de Luxo”, entre muitos outros sucessos.