Três anos atrás, em 2021, “Ghostbusters: Afterlife” deu um exemplo louvável de como uma legacy sequel deve ser: uma nova história com novos personagens no mesmo universo, o qual traz as convenções de antes e os elementos que o tornavam icônico além da presença de parte do elenco original em graus variados. Naturalmente, haveria uma continuação para o projeto depois de um sucesso notável de bilheteria. Os fãs e a crítica, por outro lado, já não gostaram tanto, mas nem isso impediu que “Ghostbusters: Frozen Empire” saísse do papel e trouxesse a equipe, jovem e velha, de volta para os cinemas. E os resultados são relativamente bons, até surpreendentemente bons, considerando a recepção não tão positiva que vem recebendo.
Depois da aventura no meio do nada do deserto do Oklahoma, a família Spengler se muda para Nova York e passa a viver na famosa casa de bombeiro, a antiga base dos Caça-Fantasmas. Agora a equipe está mais organizada: Trevor (Finn Wolfhard), Phoebe (Mckenna Grace) e Callie Spengler (Carrie Coon), juntos de Gary Grooberson (Paul Rudd), agora são a nova geração de caçadores de assombração da cidade. Com novo equipamento, apoio de Winston (Ernie Hudson) e muito trabalho por fazer, eles devem enfrentar uma ameaça milenar que pode ameaçar o futuro da cidade inteira e a mandar de volta para a era do gelo.
“Ghostbusters: Frozen Empire” é o que se pode esperar de uma continuação no sentido padrão: é um pouco pior que o anterior, traz algumas idéias novas, mas nada revolucionário. E como não é uma história original planejada em muitas partes, acaba sendo um subproduto das idéias do original. Não só isso, como até se poderia usar o argumento de que essa é a continuação da continuação, já que o original é de 1984 e “Ghostbusters: Afterlife” já é uma ressurreição de série que só havia tido um reboot falho em 2016 e, tirando isso, o último filme em 1989. Felizmente, o processo não é tão linear assim e a queda de qualidade não é vertiginosa como se pode esperar. É mais um filme decente com problemas pequenos que não chegam a descarrilhar a experiência inteira.
A história é bem simples e nem tenta ser muito ambiciosa. Ela volta para Nova York, o território natal dos Caça-Fantasmas e com isso traz um quê maior de familiaridade com o status de antes. Além disso, a família Spengler agora é oficialmente a nova equipe: uniformizados apropriadamente, morando na base antiga, usando o mesmo carro e as mesmas armas. E, sim, entendo quem pode ler isso e não gostar porque parece muito o clichê da legacy sequel em que os personagens novos e menos interessantes que os originais ocupam o primeiro plano. A diferença é que aqui não há muito de um legado para manchar ou mesmo copiar descaradamente como “Star Wars: The Force Awakens” fez, é só uma continuação do mesmo universo com novas figuras. Dito isso, a participação do elenco original é por vezes decepcionante aqui. Enquanto “Ghostbusters: Afterlife” foi cirúrgico ao trazer a equipe original na hora certa, nem toda participação aqui é legal. Todos os três remanescentes retornam com sucesso variado: Dan Aykroyd vai muito bem em seu novo papel como um veterano que serve como um tio gente boa ou um ancião, Bill Murray quase não está lá e Ernie Hudson vai bem exceto por uma cena muito cretina.
O lado bom é que a nova equipe é bastante carismática e, melhor, continua aqui, pois isso é mérito do anterior. O que sobra para “Ghostbusters: Frozen Empire” é fazer o melhor com o que tem numa nova história. E ele consegue entregar uma história bem divertida, apesar do elenco gigantesco e de ter personagens demais para acompanhar. Alguns são descartáveis, claro, e outros completamente desnecessários, principalmente Kumail Nanjiani mostrando uma notável falta de timing cômico e um personagem forçado, chato e cuja participação poderia ter acabado nos primeiros cinco minutos. Já a construção da relação entre Phoebe e o fantasma de uma garota da sua idade é bem interessante, talvez o núcleo melhor trabalhado por estar muito bem encaixado no grande enredo.
A construção geral é ótima. Há um bom tempo de preparação para montar o palco para o vilão da história e pequenas aventuras e subtramas para passar o tempo até lá, a maioria dessas servindo de bom entretenimento enquanto os eventos importantes vão acontecendo, enquanto as piores ao menos preenchem espaço sem ofender a boa vontade. E tudo funciona na maior parte do tempo, até o tal apocalipse de gelo do título. Nesse trecho, “Ghostbusters: Frozen Empire” impressiona pelos visuais de Nova York completamente assolada pela neve. Pessoas congeladas, praias, tempestade caindo e caos generalizado. É quase um ponto sem volta, parece que o mundo realmente está para acabar de vez… E então tudo dá certo. Na verdade não tudo, não é como se vários fatores diferentes convenientemente se encaixassem nos requisitos de um final feliz, é só uma solução muito fácil e muito rápida para um problema que vem sendo criado desde o começo do filme.
É um tanto frustrante acompanhar um grande suspense tomando forma para ser resolvido de uma forma bem besta e que sugere desleixo, pior do que o personagem de Kumail Nanjiani, pior do que Bill Murray só existindo e pior do que muitos outros problemas aqui. No fim, parece que “Ghostbusters: Frozen Empire” é mais ou menos como o “Ghostbusters II” da nova geração. Não chega a ser ruim nem é tão marcante quanto o anterior porque comete deslizes ao longo do trajeto. A ironia é que corrigir a consistência de alguns personagens, que às vezes agem fora de si só para tentar acentuar algum tipo de tensão, já faria a diferença, assim como planejar melhor o conflito final também faria toda a diferença. Para quem não se importa de assistir a um entretenimento do tipo “aventura da semana”, em que quase nada tem muito impacto ou consequência e a ameaça é apenas mais um dia na vida dos Caça-Fantasmas, então esse será um bom passatempo.