Confesso que estava por fora desse projeto. Não fazia idéia de que haviam planos para um prólogo da trilogia “The Omen”. Primeiramente porque a primeira tentativa de ressuscitar a franquia em 1991, dez anos após a conclusão da trilogia original, havia falhado miseravelmente na forma de um filme para televisão universalmente detestado, “The Omen IV: The Awakening”. Então chegou o momento mais apropriado possível no dia 06/06/06, quando foi lançada a refilmagem do original numa data bem conveniente, mas que também falhou com a crítica. Outros dez anos passaram e houve um seriado chamado “Damien” que também falhou e foi cancelado com apenas uma primeira temporada. Mas alguém teve a idéia de não seguir mais em frente, e sim de voltar ao começo: “The First Omen” é lançado como a primeira tentativa de contar o que acontece antes de tudo.
A parte curiosa da existência de “The First Omen” é que chegou numa época em que os Anos 2000 parecem estar sendo revividos meio espontaneamente. Há uma onda de filmes de super-herói que até mesmo os criadores sabem que não é um bom trabalho e que nunca terá o clamor do público e da crítica, personagens secundários e projetos mal pensados com apenas a expectativa de que a fama seja suficiente para levar os curiosos para o cinema. “Madame Teia“, “Venom“, “Morbius” estão aí como fiascos bem lucrativos, então acho que deu certo no fim. “The First Omen”, por outro lado, puxou para o lado das histórias de origem que também foram tendência na época junto com remakes de filmes de terror populares. Muitos não deram certo, claro, outros tiveram um pouco mais de sorte por não serem tão caça-níquel.
Por sorte, “The First Omen” cai no primeiro grupo. A história volta para os Anos 70, acompanhando uma noviça americana enviada para Roma para trabalhar em um orfanato de garotas até estar pronta para assumir o véu e se tornar uma freira. Seu nome é Margaret (Nell Tiger Free), e sua chegada em Roma já não é das mais pacíficas quando ela encontra no orfanato um lugar soturno e cheio de segredos, em especial por causa de uma garota específica chamada Carlita Scianna (Nicole Sorace). A garota é malvista e maltratada aparentemente por ser considerada esquisita e não se misturar. Sentindo compaixão pela garota, Margaret tenta se aproximar dela e descobrir mais sobre o que acontece ali.
Por não saber nem que “The First Omen” existia, não posso dizer que estava empolgado. Depois que descobri, até pensei que fosse mais uma produção da Blumhouse, que recentemente lançou uma nova trilogia de “Halloween” e planeja lançar outra, começando com “The Exorcist: Believer“. Mas não tinha nada a ver e foi só uma conexão aleatória. Seja lá qual tenha sido a inspiração para esse prólogo, aparentemente ele já estava nos planos desde 2016 e, de qualquer forma, deu muito mais certo do que parecia. Pelo histórico da série, a qualidade caía com cada novo lançamento, mesmo na trilogia original, e as tentativas mais recentes haviam sido ainda mais desastrosas. Particularmente, não esperava muito também e acho que sendo positivo esperava algo mais ou menos decente, razoável pelo menos e nada mais que isso.
Num geral, a forma como “The First Omen” foi escrito e planejado para se encaixar numa história pré-existente é bem inteligente. Não se abusa da boa vontade do espectador com referências excessivas para tentar agradar e compensar por uma falta de conteúdo, há um plano bem definido e uma história razoavelmente bem escrita que tenta expandir a mitologia da série para além do que se conhece por meio da trilogia. Era sabido que uma criança nasceu com a marca do demônio no corpo e que ela estava predestinada a ser o Anti-Cristo. Mas e aí? De onde ela saiu? Uma porta se abre para várias besteiras e idéias horríveis, claro, mas não é o caso. “The First Omen” consegue se manter com os pés bem firmes no chão na maior parte do tempo.
Tendo isso em vista, não é um filme perfeito ou algo extraordinário. Seu maior freio são seus próprios defeitos, pois sem eles acredito que as idéias propostas aqui não teriam nenhum entrave para funcionar. São boas atuações do elenco, bem acima da média de filmes de Terror e até boas de fato. Nenhuma destoa. É até louvável quão bem escolheram a atriz principal para o papel, foi uma decisão muito acertada de escolher alguém que transmite exatamente a aura de alguém com pouca experiência de vida, meio estrangeira ao mundo e entendo menos ainda dele quando o sobrenatural se manifesta.
Qualquer falha de personagem é por conta da escrita que por vezes cai em clichês pontuais, mas bestas de qualquer forma, como comportamentos forçados para causar algum tipo de choque, nojo ou pavor, alguns para sublinhar status variados e definir que em dado momento tal personagem é malvado ou benevolente ou soturno, entre outros. Isso está longe de ser uma construção de personagem, sendo apenas acentuações soltas. Alguns detalhes ficam confusos na construção da nova mitologia, mas nada essencial se perde nesses pequenos deslizes narrativos. São várias pequenas frustrações pontuais, seja por uma escrita que força um personagem a ser asqueroso em dado momento para mostrar como ela é afim com o Diabo ou por uma execução tosca mesmo, em que um incêndio agressivo mais parece um fogo controlado em estúdio.
São pequenos os deslizes de “The First Omen”, mas não são tão poucos e muito menos negligenciáveis. Pode parecer uma análise extremamente crítica de detalhes específicos que poderiam ser relevados porque o grande todo funciona. Talvez. Talvez em algum outro filme, porque cada caso tem suas particularidades e aqui senti que no fim da experiência ainda carregava comigo alguns deslizes cometidos mais cedo. Ao menos essa não foi apenas uma repetição do padrão de matar todas as pessoas em volta do Anti-Cristo de uma maneira curiosamente acidental e extraordinária e infeliz.