Atrasado como sempre, mas não por querer, finalmente aqui está a análise sobre o último blockbuster do Universo Estendido DC. Depois do lançamento de “Shazam” em 2019, que adaptou quase diretamente o primeiro arco do personagem na série dos Novos 52 da DC, ficou uma dúvida a respeito do vilão, que acabou sendo o Doutor Sivana num papel que era exatamente igual ao do Adão Negro no arco original dos quadrinhos. Os poderes eram iguais e a função na história foi exatamente a mesma. Mas onde estava o real vilão? Acontece que por decisões de estúdio e executivos, foi decidido que Dwayne Johnson teria seu próprio projeto em vez de um papel secundário e de vilão no filme de outro herói.
Um jovem escravo vive uma vida de opressão e sofrimento sob o regime de um tirano monarca que escraviza sua população, o povo de Kahndaq, em prol de sua própria busca por poder infinito. Um dia, o jovem recebe a dádiva de uma vida quando um Conselho de Feiticeiros concede a ele os poderes de vários deuses, o poder de Shazam. Empoderado, o garoto se torna Teth-Adam, ou Adão Negro (Dwayne Johnson), e liberta seu povo, mas tão logo que o faz acaba sendo aprisionado. No presente, Kahndaq está novamente sob opressão e precisando de um herói, um que continua dormente e aguardando sua liberdade.
Confesso que eu tinha alguma empolgação por esse filme. Ou, ao menos, fui influenciado por um amigo meu que me mandava toda e qualquer notícia, de anúncios dos anúncios até fotos de The Rock usando o traje pela primeira vez. Se foi o filme sozinho ou o marketing guerrilha de meu amigo que acabou me influenciando, eu não sei, mas fui com certa expectativa do que fariam com um personagem que, na maior parte das vezes, é um vilão; se seria um caso como “Venom“, que sofre do mal da falta do herói, ou se talvez seria como em “Joker“, o qual foge das convenções de heróis e conta sua história em seus próprios termos. Embora não esteja em nenhum dos extremos, “Black Adam” peca principalmente por ser seguro demais que apela para elementos genéricos de história para garantir ao menos um sucesso modesto.
Pensando num exemplo parecido, “Aquaman” segue um caminho parecido quando abre mão de alguns traços de identidade presentes nos filmes da DC até então e os trocou por uma roupagem genérica para embalar a mesma trama. “Black Adam” não peca tão feio assim, no sentido de ter um roteiro simplificado com falas cruas e pouco trabalhadas, explícitas a ponto de soarem artificiais em sua franqueza porque ninguém fala assim na vida real. Esse não é exatamente o problema aqui. A parte tosca e clichê da história vem na forma de um arco secundário envolvendo o povo de Kahndaq e alguns dos humanos que são parte do elenco principal. Desnecessário, ele não agrega nada à grande história e, no fim, parece uma trama solta que tenta aprofundar e diferenciar essa história de super-herói das outras. Só para dizer que não é outro filme de pancadaria e destruição.
Bem, não funciona. A única coisa que conseguiram com isso foi tirar a atenção daquilo que presta de fato em “Black Adam” e fazer o espectador pensar no porquê ele está vendo uma cena longa de um garoto fugindo de skate de uma milícia armada e altamente treinada e, não só isso, escapando com sucesso. Infantilidade, cenas forçadas tentando incitar temas de revolução e união do povo contra a opressão, porém ao preço da credibilidade porque, bem, é difícil engolir que civis com pedaços de madeira venceriam um exército sobrenatural. E não precisava de nada disso. Isso é o pior.
Algumas outras cenas pecam por serem apenas bestas, mas nada ofende tanto quanto o lado genérico das subtramas. O que acontece no enredo principal é relativamente direto ao ponto e não dá muitas voltas nem tenta ser muito diferenciado. “Black Adam” consegue guardar espaço para algumas surpresas agradáveis aqui e ali e se destacar um pouco no processo. Mas também sem depender apenas disso, consegue entregar ainda uma ação competente e digna de um herói com poderes no nível de Superman e Shazam: pancadas crocantes, destruição em massa, cenas de alta velocidade e força perceptível. O que se espera é um grande antagonista para testar Adão Negro e isso realmente acontece em um dado momento, até lá há uma boa participação da Sociedade da Justiça da América, uma equipe secundária nos moldes da Liga da Justiça. Gavião Negro (Aldis Hodge) participa de alguns bons embates contra Adão, mas a surpresa fica a cargo do Senhor Destino, interpretado por Pierce Brosnan em uma performance tão inesperadamente boa quanto a qualidade do arco do personagem. Os outros membros estão mais por alívio cômico e não chegam a atrapalhar.
Infelizmente, “Black Adam” sofre bastante por essas subtramas distrativas e desnecessariamente clichês, presunçosas em suas intenções e exageradas na execução. Até mesmo a trama principal, embora mais funcional, é um pouco previsível e não corresponde à expectativa mais positiva sobre um filme de vilão. No fim, ainda que não peque tanto em querer transformar o malvado em herói como “Morbius” e “Venom“, a preocupação dos engravatados com a imagem de Dwayne Johnson é sentida quando o personagem é obviamente amenizado e é bem menos vilão e obstinado que a versão dos quadrinhos. No fim, ele começa como um anti-herói e termina a história ainda melhor do que começa. Poderia ter sido bem pior, como sempre, ficando o gostinho de que as coisas poderiam ter sido menos seguras no geral.
3 comments
Caio Bogoni, bom-dia!
Um filme horrível, barulhento ao extremo. Perdi o meu precioso tempo. Sou fã de Dwayne Johnson e Pierce Brosnan, mas o tal “Black Adam” foi uma decepção. Enfim, século 21, os roteiristas parecem carecer de boas ideias e quem toma conta são os efeitos especiais + o barulho insuportável. Gastam milhões de dólares para resultar em + um “filminho de Super-herói!
Caio, muita Luz e Saúde!
Fala Amur!
Nesse caso eu concordo que o roteiro deu uma guinada pro lado seguro e clichê pelo que parece ser medo de se arriscar um pouco mais. Pelo menos a ação foi legal, no mínimo.
Abração!
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