“Halloween Kills” não vai agradar a todos. Bem, nenhum filme de terror conseguiu isso até hoje e muito menos esse, que é bom mesmo sem se destacar como um ocupantes do panteão dos melhores de todos os tempos. É um resultado bastante positivo para uma continuação, em especial uma continuação de “Halloween” que já viu tantas muito, muito ruins até mesmo em linhas do tempo diferentes. De “Halloween 5: The Revenge of Michael Myers” até “Halloween: Resurrection” e “Halloween II“, foi até recorrente o fracasso nessa série. Isso não acontece agora. Bem longe dos piores fracassos, essa continuação da obra de 2018 traz um ar mais tradicional em sua forma, portando-se como uma clássica continuação de Terror sem inovar muito e que nem por isso é incompetente.
Depois de 40 anos, Michael Myers (Nick Castle) retorna para uma nova rodada de chacina em Haddonfield. Sua matança eventualmente alcança a casa de Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), a mesma garota que ele atacou quatro décadas atrás e que passou a viver em medo todo esse tempo, paranóica com seu retorno. Esse evento termina mal para Michael, que acaba o confronto ferido e preso no porão de uma casa em chamas enquanto suas vítimas fogem. Mas esse ainda não é o fim do assassino, que encontra uma forma de fugir e continuar sua perseguição ao mesmo tempo que a cidade se mobiliza para fazer justiça com as próprias mãos.
“Halloween Kills” é o segundo de uma planejada trilogia de continuações ao original de 1978. Com o “Halloween” de 2018 continuando a história 40 anos depois, mais ou menos como “Halloween H20” fez nos Anos 90, sua sequência traz o que seria uma obra de meio de caminho entre a reintrodução do personagem e a conclusão do novo arco narrativo. No caso de trilogias tradicionais ou de histórias que se estendem ao longo de várias obras, há sempre a possibilidade de ter o que contar nesses capítulos diferentes; já quando se fala em filmes de Terror… Bem, é um tanto diferente. Exceto pelos casos em que o mesmo filme é refeito várias vezes com pequenas alterações de personagem, cenário e contexto, nos quais é muito óbvia a intenção de priorizar o lucro fácil, ainda assim é difícil desenvolver muita história num universo mais ou menos estabelecido. Como expandir o conceito de um assassino obcecado com matar uma pessoa específica? Já se tentou matar todos que se colocam no caminho. E o que mais?
Não se consegue inovar muito. Os mais entusiastas pelo predecessor, os que encontraram um quê de novidade na passagem de tempo, no fato de Laurie Strode não ser mais irmã de Michael Myers e no que a personagem se tornou nesses 40 anos, esses podem achar que falta algo nessa continuação que, em sua essência, é uma continuação no sentido mais clássico. Funciona mais como uma cópia alterada, mas não completamente igual ou óbvia nesse caso. Tenta-se algo novo, embora não inovador em termos do gênero Terror, mas sim em comparação com seu predecessor. “Halloween Kills” se trata exatamente do que seu título sugere: morte, assassinato, chacina, carnificina. Essa história é sobre a matéria prima dos Slashers, sobre um assassino irritado e sem nenhuma amarra.
Particularmente, sempre gostei do subgênero Slasher porque alguns trabalhos conseguem entreter pelo simples fato de as mortes serem criativas. Jason Voorhees costuma ser brutal, bárbaro e invulnerável, consegue realizar feitos inumanos com sua força e nenhum ponto fraco visível; Freddy Krueger consegue fazer o que quer no plano dos sonhos, quebrar todas as regras e até mudar as leis mais básicas do que é real para torturar suas vítimas; Chucky é sádico, sarcástico e beira o ridículo pela antítese de um brinquedo ser assassino. Michael Myers é mais parecido com Jason e nunca foi dos meus favoritos por não chegar exatamente no mesmo nível de inventividade ou de absurdo como o Jason zumbi a partir de “Jason Lives“. Isto é, nem sempre. Alguns acertam bastante nesse quesito e, especialmente, os dois últimos “Halloween” foram bem felizes nesse quesito. Para os fãs do banho de sangue, este é um espetáculo.
Michael Myers nunca esteve tão brutal quanto em “Halloween Kills”. É como se o predecessor o tivesse deixado nervoso e sem tempo para suspense, sem nenhuma intenção se ocultar, observar e perseguir suas vítimas para agir só no final. Nada contra essa dinâmica, aliás, pois ela funciona belamente no original de 1978, só que não é mais tempo para repetir isso, o que acaba por definir um problema inerente dos filmes formulares do gênero: uma hora acaba o mistério. Então entra a novidade de ver a ação ou a violência fluindo mais livremente, o que também pode funcionar como entretenimento sem problema algum, e então se entra num ciclo de repetir esse ação sangrenta até o conceito ficar cansado e parar de vender.
Acredito que é possível inovar o bastante para dar um ar de frescor o suficiente para justificar um lançamento seguindo esse plano. Não abre muita possibilidade para trabalhos geniais, apenas alguns que servem um público específico que gosta do gênero, algo que infelizmente limita a lucratividade e faz com que os filmes parem de sair. “Halloween Kills” funciona porque executa muito bem a idéia de assassinatos aos montes. Literalmente. Não consigo pensar em muitos exemplos com uma contagem de corpos tão alta. É quase um serviço personalizado para os fãs quando colocam Michael Myers livre para fazer o que quiser e matar muita, muita gente. Há cenas que servem só para isso, uma oportunidade de aumentar a contagem e criar mais chances de brutalizar um ser humano de graça. As mortes são muitas e são pesadas. Além do clássico de atravessar uma pessoa com um objeto afiado, há algumas que são quase torturantes de ver e mostram como a tal essência do mal é de fato malévola, não só porque o filme diz, mas porque o assassino quebra o pescoço de uma vítima pelo menos umas três vezes antes de matá-la de vez e ainda a deixa agonizando um bom tempo.
O único defeito, por assim dizer, é que “Halloween Kills” exagera um tanto no tratamento do lado sobrenatural do assassino. Assim como Jason, sempre houve necessidade de suspensão de descrença para explicar como alguém pode ser esfaqueado, golpeado, atropelado, queimado, entre outras agressões, e continuar de pé. Mesmo quando foi introduzida uma explicação sobrenatural mesmo. Supõe-se que, assim como uma vítima sofre uma fratura e continua ativa, o assassino consegue se recuperar também. Só não da forma um tanto surreal como é mostrado aqui, aliada ainda a uma linha narrativa envolvendo os perigos do efeito manada e da impulsividade do coletivo. Poderia ter ficado sem isso, talvez.